sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

DIVÓRCIO E MONOPARENTALIDADE




É crescente o número de casais que entre nós, se divorcia.

O divórcio é considerado, nas diversas escalas de stress psicossocial, uma das situações potencialmente mais problemática a exigir um grande suporte afetivo. A violência que se desprende de muitas situações de rutura conjugal nem sempre é revelada, nem mesmo aos mais próximos e significativos.

Apesar da evolução no sentido da igualização dos papéis na díade conjugal, são poucos os homens capazes de falar das suas dificuldades, nomeadamente quando o fator precipitante da dissolução do casamento é a infidelidade feminina.

É cada vez maior o número de mulheres que vivem sozinhas com os filhos em consequência de separações e divórcios. Mas o divórcio já não representa um afastamento obrigatório de um dos progenitores nem está associado à vergonha ou indiferença como antigamente. Pelo contrário, os pais podem e devem estar presentes nas vidas das crianças, mesmo que por algum motivo, a sua presença não possa ser agora tão assídua.

O que fica em jogo nos divórcios, não é tão somente a coabitação, mas a falência dos afetos positivos pelo menos por um dos progenitores, a manipulação das crianças no sentido de acentuar cumplicidades, a pressão exercida sobre estas a tomar partido ou o reforço da sensação de abandono pelo progenitor que tomou a iniciativa da rutura.

Mesmo fisicamente separados, é crucial para o saudável desenvolvimento das crianças, o reforço das figuras de autoridade de ambos os pais, permitindo às criança formular cognitivamente todos os interditos e proibições, para que a criança cresça de forma saudável.

As explicações solicitadas pelas crianças não deverão ser tecnicamente argumentadas, nem de forma solene e definitiva. Pelo contrário, deverão ser feitas sempre que solicitadas, com verdade e ao longo do tempo, já que, o fator de desenvolvimento físico, psicológico e emocional verdadeiramente importante prende-se com a qualidade da relação afetiva e de tempo que se investe na criança, não esquecendo o indispensável suporte de uma rede de apoio eficaz à família monoparental.

Cabe ao progenitor fisicamente mais próximo, sustentar uma resistência e autoconfiança ao enfrentar as adversidades que poderão surgir e ajudar a criar a imagem da outra figura parental junto da criança sempre que esta não esteja presente, não possa ou não queira fazê-lo. Culpá-la e censura-la à frente do filho, desvalorizá-la e projetar a sua raiva e desapontamento pessoais derivados do falhanço da relação afetiva afeta irremediavelmente a imagem que o filho tem de cada um dos pais, bem como, das relações afetivas em geral.
Sofia Almeida



quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

NOVAS FORMAS DE FAMÍLIA




Temos vindo a assistir nas últimas décadas a importantes transformações sociodemográficas, tais como, o aumento e normalização dos divórcios; a legalização das uniões homossexuais; novas formas de coabitação; aumento da idade do casamento e do primeiro filho; maior controlo da natalidade; emancipação e inserção massiva da mulher no mercado de trabalho.

Estas transformações têm exercido um significativo impacto nos diferentes papéis esperados de cada um dos elementos de um agregado familiar: impacto na conjugalidade; na dinâmica familiar; e, na parentalidade, levando-nos a ponderar sobre o conceito da coexistência de novas formas de família.

Na sociedade atual assistimos a uma pluralidade de visões sobre o casamento e à mudança das respetivas perceções individuais. A maioria ainda tenderá a comparar as novas formas de família em função do ideal de família tal como tem vindo a ser perspetivado nas últimas décadas. Mas, multiplicam-se os modelos conjugais, que em alternativa ao modelo sacralizado da estabilidade no casamento, passa a ser encarado como uma etapa facultativa de realização pessoal, que durará enquanto for gratificante para ambos.

Vários autores defendem que não se trata do enfraquecimento da instituição família, mas do surgimento de novos modelos familiares: sejam, famílias monoparentais; famílias adotivas; famílias reconstruidas.

A crescente legitimação social das uniões livres (hetero/homossexuais); bem como, a alternância de companheiros poderá levar-nos a pensar sobre a desinstitucionalização dos laços e dos vínculos afetivos. Mas, mais importante, é percebermos o que estas têm de único e de transversal, como um maior investimento pessoal e social na conjugalidade, em que a comunicação aberta e expressiva é condição essencial para o sucesso das relações amorosas.

Características das novas formas de família:
ü  Mais partilha e maior autonomia de cada um dos seus elementos;
ü  Simetria e complementaridade na participação e contributos;
ü  Paralelismo na realização profissional de ambos os cônjuges;
ü  2/3 dos casais consideram importante a existência de filhos;
ü  A função afetiva como um papel de refúgio e contrato emocional;
ü  Surgimento de um pai mais presente e disponível;
ü  Peso crescente nas escolas dos valores familiares e da sua função parental educativa;
ü  Horizontalização da comunicação entre os diversos elementos do agregado familiar;
ü  Em caso de conflitos judiciais, as mães continuam como as principais cuidadoras;


Sofia Almeida

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

DEPENDÊNCIAS RELACIONAIS


 

quando o amor se converte numa adição

O amor aditivo não é apenas uma questão individual. Tem, também, uma dimensão social. Sabemos que os processos de socialização e maturação diferem no género, mas alguns autores defendem a ideia de que as mulheres poderão estar mais predispostas a expressar os seus sentimentos, o que nos poderá levar a pensar que estão mais vulneráveis a padecer desta patologia. O papel que é esperado das mulheres no seio da estrutura familiar, depende do seu marco social e cultural que define como devem comportar-se socialmente.
 
Para outros autores e especialistas, o facto das mulheres expressarem melhor os seus sentimentos e pedirem ajuda com maior facilidade, não significa que estão mais vulneráveis. Inclusivamente há estudos que indicam que os homens são mais aditivos no amor do que as mulheres, pois não aceitam nem assumem este tipo de patologia e mascaram estes comportamentos com outros comportamentos aditivos como as drogas, o jogo, o trabalho.

A educação e as conceções construídas socialmente em torno do amor são um fator chave na incidência deste transtorno na população. O tipo de amor romântico, que impera nas nossas sociedades, empurram a pessoa a pensar que "se não se sofre é porque não se vive um amor verdadeiro", ou ainda, a pensar que "se há ciúmes é porque gostam de nós".

Segundo Jorge Castelló, também as novas tecnologias de comunicação agravam as dependências emocionais ao permitir um maior controlo do par, quer por contacto direto, quer através das informações e fotografias veiculadas nas redes sociais.

Segundo Blanca Estela Retana, especialista na matéria, são duas as causas da adição do amor: a primeira, porque o amor é algo desejado naturalmente pelos seres humanos, ou, noutra instância, porque estes acabarão por se sentirem pressionados socialmente a procurarem companheiro no estigma de que as pessoas não se sentirão completamente realizadas. A segunda causa, justifica-a pelo facto de quando se tem um companheiro, vive-se uma relação intensa. Turva-se a consciência e a racionalidade, desaparece o cansaço, a fome e a dor, o que se transforma numa adição, pois tal como qualquer outro prazer, tentar-se-á repeti-lo continuadamente, cada vez mais, e com maior afinco.

Segundo a mesma autora, os sintomas de um amor aditivo, são:

Ø  Sentimento de dependência completa do companheiro para adoção de qualquer atitude ou comportamento;

Ø  Cedências que anteriormente seriam impensáveis de algo realmente muito importante para o próprio;

Ø  Abandono das atividades habituais e afastamentos relacionais com família e amigos para estar somente com o companheiro;

Ø  Desvalorização dos alertas do comportamento fusional por parte das pessoas mais próximas;


Ø  Controlo do companheiro, inclusivamente através de mensagens e telefonemas;

Ø  Admissão de cenas de ciúmes, por não querer perder o companheiro;

 
Apesar de tudo ninguém nos ensina a amar e a manter relações afetivas saudáveis. Esta aprendizagem adquire-se através de modelos que vamos aprendendo e da nossa própria experiência. Deve-se começar por eliminar ideias preconcebidas sobre o amor, alterando as nossas conceções, e saber distinguir uma relação tóxica de uma relação saudável.
 
Decerto alguns de nós já ouviu os seguintes mitos sobre o amor:

v  Mito da fé cega no destino (crença na predestinação com o par);

v  Mito do emparelhamento (crença na heterossexualidade e monogamia como algo natural, presente em todas as épocas e culturas);

v  Descrença na possibilidade de se gostar de várias pessoas em simultâneo;

v  Mito dos ciúmes como sinal de amor;

v  Acreditar que amor e enamoramento são equivalentes;

v  Acreditar que o amor vence tudo ou que qualquer sacrifício é válido em benefício do companheiro;

v  Conceção mágica do amor (crença que os nossos sentimentos amorosos não estão influenciados pelos nossos fatores biopsicossociais e culturais;

v  Mito do casamento e da convivência com o cônjuge (crença de que o amor deve conduzir sempre a uma união estável);

v  Mito da unidade (crença de que os elementos do par são “uno”);

v  Crença de que as discussões devem-se evitar;
 
v  Mito de tudo dar sem nada receber em troca;

v  Mito da prova de amor pela aceitação de atitudes inadmissíveis

 
 

Segundo Almazán, uma relação saudável é aquela que resulta satisfatoriamente para cada uma das partes, em que se respeitam e defendem os direitos e interesses de cada um, chegando a acordo ou negociação mútua nos casos em que existem pontos de vista diferentes.
 
A boa comunicação é essencial e assim como se deve partilhar aspetos importantes com o parceiro também se deve reservar a nossa intimidade individual. O importante é compreendermos que somos seres completos que nos unimos a outras pessoas para partilharmos momentos de prazer e de diversão, mas também momentos difíceis. Mas não devemos nunca procurar no companheiro um meio para suprir uma carência interior.

ü  Demonstrar valorização, admiração e respeito mútuo;

ü  Pedir e dar afeto;

ü  Coesão e cumplicidade;

ü  Sinceridade e comunicação;

ü  Fugir da rotina;

ü  Cuidar da intimidade de si próprio sem prejuízo do investimento na relação;

ü  Partilhar atividades gratificantes e não apenas tarefas obrigatórias;

ü  Manter uma atitude aberta e flexível a novas situações;

 

Sofia Almeida

terça-feira, 11 de novembro de 2014

SINGULARIDADE DA PERSONALIDADE




Cícero, o filósofo, interrogava o universo para encontrar as raízes da sua realização pessoal. Falava no “desejo de cultivar a alma” e encontrava na filosofia, na religião, na arte, na literatura, na mitologia e nas doutrinas morais da época, a substância fundadora do seu eu mais profundo.

Hoje sabemos que tão ou mais importante que tudo isto é a família que temos e o código genético que herdámos. Se nos genes não existe o indivíduo todo, existe qualquer coisa determinante da personalidade que está presente desde o início.

Todos temos um idioma pessoal, uma originalidade que nos cabe descobrir, uma maneira muito própria de reagir aos desafios da vida. E é a consciência desta originalidade, desta singularidade que nos distingue, que nos ajuda a ser mais honestos connosco e com os outros.

Quanto mais conscientes estivermos de nós mesmos mais próximos estaremos do essencial. Seja ele o universo, a arte, a filosofia, a religião, um amigo ou toda a família.


Sofia Almeida

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

HIGIENIZAÇÃO DO SONO


O estilo de vida, o stresse, a ansiedade e hábitos de sono errados, estarão na causa da má qualidade do sono

Quase 20% dos portugueses têm problemas de sono, sendo esta uma das queixas mais frequentemente relatadas pelos doentes em cuidados de saúde primários.

Os especialistas em medicina do sono alertam-nos para estarmos atentos às nossas necessidades de sono, e esforçarmo-nos por cumpri-las diariamente, pois não adianta compensá-las mais tarde, aos fins-de-semana. Cada um de nós tem o seu ritmo circadiano, pelo que, devemos respeitar a nossa hora biológica para dormir. Não a aproveitando, podemos abrir oportunidade para às insonias.

Latência do sono é o tempo que dura desde o deitar até ao adormecer. Normalmente tem uma duração aproximada de 20 a 25 minutos. Quando esta latência é menor de cinco minutos, significa que as pessoas estão privadas do sono, com claro impacto na saúde do indivíduo, e interferência no seu desempenho e relações. Reduzir o número de horas de sono, desregula o padrão habitual do sono e provoca fadiga, irritabilidade, desconcentração e perturbações na produtividade ao longo do dia, diminui as defesas e aumenta a probabilidade de desenvolver diabetes e cancro.

A média do sono é variável de pessoa para pessoa, pois estas têm necessidades e ritmos diferentes. Por norma, as mulheres têm necessidade de dormir mais, por questões hormonais. Também as pessoas mais deprimidas têm alterações de sono. Já os shortsleepers não passam por todas as fases de sono ou então as suas fases são mais pequenas.

Ao longo da vida as fases do sono vão-se modificando, dependendo das necessidades. Há medida em que envelhecemos os padrões de sono variam e as sestas compensam a falta de sono noturno. Além de que se fica com o sono mais leve. Os reformados que mantêm as suas atividades mantêm uma melhor higiene do sono.

Ao longo da noite existem várias fases do sono que passam inicialmente pela sensação do indivíduo se sentir desperto, vigilante, pronto a responder a estímulos, ficando gradualmente mais relaxado, que, para além de facilmente despertável, nem sempre têm a perceção de estar a dormir. Entra depois numa fase de sono mais profundo e mais difícil de acordar; demora a situar-se no tempo e no espaço, quando é acordado. As funções vitais estão reduzidas ou no funcionamento mínimo (baixa temperatura corporal, redução da pressão arterial, ritmo respiratório e do batimento cardíaco). Na fase REM, o córtex está bastante ativo, há maior ativação neuropsicofiosiologica, caracterizada pelo movimento rápido dos olhos. Os sonhos têm conteúdos mais emotivos e enredos mais elaborados, e podem ser lembrados se acordarmos nesta fase.

O sono é gerado espontaneamente pelo organismo, mas uma série de influências exteriores são muito importantes para a higienização do sono, tais como a luz ambiente, as rotinas sociais e a temperatura do quarto que não deve ser demasiado aquecida, mas deve manter um ambiente fresco facilitando a redução da temperatura corporal e a libertação da melatonina, que induz o sono.



Regras básicas na higiene do sono:

  • ü  Torne o quarto confortável, eliminando ruídos, reduzindo a luz e regulando a temperatura para um ambiente fresco;
  • ü  Mantenha a regularidade no horário de sono, principalmente ao levantar e evitando ir para a cama mais cedo do que o habitual;
  • ü  Desacelere o seu ritmo: adote atividades relaxantes antes de dormir, evitando a prática desportiva a partir do final da tarde;
  • ü  Evite a ingestão de líquidos no final do dia; bem como, estimulantes cerebrais como o tabaco, álcool e cafeína antes de deitar;
  • ü  Reserve alguns minutos para rever o dia e projetar o dia seguinte, não deixando problemas para resolver na cama.


Em caso de insonia:

  • ü  Evite esforçar-se para adormecer. Saia da cama após 30 minutos sem sono, levante-se e mantenha uma atividade relaxante;
  • ü  Elimine relógios ou evite o comportamento de verificar sistematicamente as horas;
  • ü  Faça uma lista dos aborrecimentos que o preocupam para que oportunamente os procure resolver;
  • ü  Evite dormir com animais de estimação.



Sofia Almeida

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

PAI HERÓI


 


Um pai herói é aquele que acolhe, acompanha e partilha o seu tempo sem nada cobrar.

Durante muito tempo, o pai foi visto como um guerreiro, um símbolo de poder e de sustento. Muitos destes, cresceram numa cultura defensora de que os homens não choram. Era-lhes exigido o garante da sobrevivência da família, em condições guerreiras e ainda por cima não podiam chorar.

Mas a imagem do pai tem vindo a mudar. Felizmente, nos dias de hoje, os pais já não têm que engolir lágrimas sem porem em causa a sua masculinidade. Partilham com as mulheres o sustento da família e a realização profissional.

Sabemos que as crianças preferem os pais que brincam consigo de igual para igual, que as aceitam tal como são, que lhes dão espaço e as orientam, sem as condicionar quanto aos seus gostos e preferências; ao invés dos pais que se ausentam à procura apenas de bons níveis de vida.

É certo que as crianças acabam por se adaptar aos discursos e disponibilidades dos pais, mesmo os mais virados para as carreiras e aquisições consumistas. E nesta perspetiva, para a criança, o melhor símbolo de afeto será ficar com parte desse dinheiro, seja em roupas de marca ou brinquedos caros.

Quando há uma proximidade calorosa e genuína entre pais e filhos, os erros dos filhos e as zangas dos pais são situações temporárias e recuperáveis. Há mais tolerância, e menos medo de errar, o que acaba por se refletir nas relações afetivas que estabelecem com os outros, assim como, em termos de atitudes e opiniões, as crianças revelam-se mais tranquilas e tolerantes com as diferenças dos outros.  

                                                      
 

Sofia Almeida

terça-feira, 21 de outubro de 2014

RESILIÊNCIA




O conceito de resiliência vem da física e prende-se com a propriedade de elasticidade e maleabilidade dos materiais, que lhes permite readquirir a sua forma inicial depois de terem sofrido uma enorme pressão.

Este conceito tem vindo a ser estudado nos seres humanos no que respeita à nossa capacidade de lidar com as adversidades.

Em síntese, a resiliência de um indivíduo é a sua capacidade de lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas (choque ou stress), sem entrar em surto psicológico, através de flexibilidade mental, emocional e comportamental.

Mas, por muito resilientes que sejam, quanto mais expostas, mais inseguras, desconfiadas e desprotegidas se sentem nas relações vinculativas que estabelecem. Consoante o nível de tempo de exposição, mais difícil será reparar as consequências.

Contudo, nas famílias, em situações difíceis, e até mesmo em casos extremos de violência física e psicológica, é possível às crianças ultrapassar momentos dolorosos, e é possível chegar-se à idade adulta com um equilíbrio mental razoável.



Sofia Almeida

domingo, 28 de setembro de 2014

EXPECTATIVA DO FILHO IDEAL





Devemos aprender a amar os nossos filhos pelo que são e não pelo que idealizamos deles

Todos sabemos que há pais mais absorventes do que outros. Algumas mães poderão até fantasiar uma relação fusional com as suas crianças ao longo das suas vidas; mas, com maior ou menor dificuldade, tomam consciência da necessidade de autonomia e liberdade destas, bem como, do papel fundamental que desempenham neste crescimento e individualização da criança.

Quando os pais são demasiado invasivos, pelo autoritarismo, por exemplo, a afirmação da criança, depende da sua resiliência, ou seja, a sua maleabilidade e capacidade de gerir e lidar com os problemas e de ultrapassar os obstáculos.

Mesmo condicionadas pelas expectativas que os seus pais depositam em si, as crianças têm uma imensa criatividade em aproveitar os seus recursos internos para gerir, e, muitas vezes, ultrapassar, divergências que respeitam às suas opções de vida futuras.

Muitos pais, na interação com os filhos, passam padrões de conquista elevadíssimos, em detrimento da troca de afetos. Impõem modelos de sucesso, com os quais, os filhos nada se identificam.

A procura da identidade própria fica nestes casos dificultada pela ambivalência entre o querer ser e o reconhecimento parental.

A qualidade de uma relação afetiva entre pais e filhos mede-se pela proximidade, cumplicidade e aceitação da sua genuinidade.


Sofia Almeida

PAI PRESENTE




O pai, presente ou ausente, marca definitivamente o percurso de vida dos seus filhos

Nos primeiros meses de vida, o bebé vivencia uma primeira fase de grande fusão com a sua mãe. Mas, gradualmente, o bebé vai percebendo que a sua mãe não está sempre presente e disponível quando dela necessita, sentindo com esta separação que pode ser amado ou rejeitado.

Pela sua presença, o pai, com maior ou menor consciência, próximo ou distante, triangula esta relação, permitindo ao bebé entender que não é o único elemento da vida da sua mãe e terá que a partilhar consigo.

O pai facilita-lhe uma nova aprendizagem de autonomia e identidade própria. Incita a criança a explorar o mundo exterior e enfrentar os primeiros desafios. Ensina-a a lidar com as frustrações, de forma a sair da ilusão da sua omnipotência, potenciando gradualmente a sua vida afetiva.

Desde o primeiro instante, a interação do pai para com um filho é diferente da interação para com uma filha, transmitindo-se uma identidade sexuada até ainda antes do parto. Por outro lado, a criança vai observando diferenças entre o pai e a mãe, que têm comportamentos e valores distintos. As suas interações vão, portanto, sendo modeladas por estas diferenças a ponto dos meninos se querem identificar com os progenitores masculinos e as meninas com as progenitoras femininas.

À medida que cresce, a criança sente necessidade de garantir o afeto e o reconhecimento do pai e da mãe e depressa percebe que para tal terá que conciliar os seus desejos e comportamentos às expectativas de ambos, reforçando a sua autoestima e autoconfiança.

Idealmente, ser pai, é sinónimo de proteção, educação, cumplicidade, afetividade. Mas quando o pai está pouco presente na vida da criança, dificulta não só essa aprovação, como dificulta a identificação da criança, que, muitas vezes, procura eleger outro adulto que funcione como modelo parental identificatório.

Mas a proximidade e a distância afetiva nada têm obrigatoriamente a ver com a proximidade e a distância físicas. Não basta que o pai esteja fisicamente presente, se não existe na cabeça e no coração do filho. Na verdade, mesmo distante geograficamente, o pai deverá ser uma referência de amor e de apoio incondicionais.

Noutros casos, o pai, mesmo presente, pode ser quem menos os compreende e aceita como são. Em casos mais graves de negligência ou maus tratos, mais tarde, em adultos, sobrevivem a momentos irreversíveis  de mágoas intransponíveis.

Mas, nem todas as crianças afetam o seu equilíbrio psicológico pela ausência do pai. Cada criança tem a sua forma própria de lidar com esta figura de acordo com as suas próprias especificidades e capacidade de resiliência. Mesmo na sua ausência, é preciso que a criança construa um lugar simbólico da sua existência de forma a interiorizar e valorizar a existência do pai, contribuindo para a sua autoimagem, sensação de segurança, e para o estabelecimento de relações afetivas futuras.

                          

As crianças precisam de um pai que as aceite como são, interaja e incite à exploração das suas capacidades


Sofia Almeida

sábado, 28 de junho de 2014

FAMÍLIAS RECONSTRUIDAS



Segundo o Editorial do Courrier Internacional de janeiro último: “Nos últimos 50 anos, o número de casamentos em Portugal caiu para metade (34 mil) e quase foi apanhado pelo dos divórcios (25 mil, que já foram mais: 27,5 mil em 2010). O número de filhos por casal (1,03) não para de descer e, curiosamente, está abaixo do verificado na China, onde vigora uma política de incentivo ao filho único. As uniões informais entre adultos dispararam, os casais homossexuais aumentaram e o número de crianças que crescem nestas novas famílias ganha dimensão.”

Segundo o mesmo autor, João Garcia: “Voltemos ao nosso pequeno Portugal: há poucos anos nasciam mais de 100 mil crianças por ano, em 2012 passaram a ser pouco mais de 90 mil, este ano já se admite que fiquem aquém dos 80 mil. Não nascem nem se licenciam: de ano para ano cai o número de jovens que procuram o Ensino Superior.”

Sociedade e família sempre em constante mutação, condicionam-se e complementam-se no sentido de se adaptarem aos novos estilos de vida. Parece-me um processo previsível e perfeitamente natural, verificável ao longo da existência da humanidade. A necessidade de nos adaptarmos às circunstâncias, satisfazendo as necessidades consideradas mais básicas, mas procurando ativamente o melhor bem-estar possível para nós e para os nossos.

Questões muitíssimo atuais no nosso país como a emigração e/ou migração levantam questões de educação parental que obrigam a reformulações nas dinâmicas familiares, com claras transferências de competências parentais para os avós ou outros significativos;

A questão do desemprego dos pais e dos filhos, sem significativas perspetivas de construção de projetos futuros ou simplesmente de subsistência das suas famílias, parece-me uma questão igualmente determinante nesta problemática.

A mudança de representação social das famílias, nomeadamente nas sociedades ocidentais, obriga à produção de diferentes tipos de legislação, adequada o mais possível aos ensejos manifestados pelas respetivas sociedades: surgem novas formas de adoção e de procriação, ainda recentemente impensáveis, pelo menos naqueles países de mentalidade mais oprimida.

A mudança de paradigma do papel da mulher na sociedade atual tem também um grande peso na reconstrução das famílias. As suas carreiras profissionais, a sua crescente autonomia financeira, a crescente capacidade de criação e inovação, trouxeram-lhe um reforço imparável na sua autoestima, não deixando nada para provar a ninguém.

Também no que respeita à religião, somos hoje testemunhas de um salto gigante no paradigma da Igreja Cristã. Aproximamo-nos, finalmente, em minha modesta opinião, dos ideais de Cristo, que se resumem no amor universal e incondicional, traduzido nas coisas mais simples de que já nos esquecemos, por nos deixarmos com alguma frequência absorver pelos valores sociais atuais.

Parece-me que estamos agora mais do que nunca, conscientes que o que conta realmente, são as relações humanas. Deitaram-se a baixo preconceitos morais e religiosos que em nada dignificavam o valor do ser humano. Cada um de nós, a seu ritmo, vai percebendo a preciosidade, mas também a fragilidade do dom da vida, e com maior ou menor autodeterminação, vai-se centrando na busca do que verdadeiramente a vida nos dá em bem-estar e tranquilidade.


Sofia Almeida

LIDERANÇA




Partindo da velha máxima que todos juntos somos mais fortes, uma boa estratégia de liderança parental, melhora naturalmente o processo de desenvolvimento individual de cada um dos elementos do agregado familiar, bem como a dinâmica familiar como um todo, que não se resume apenas à soma das suas partes.

As noções de liderança que agora partilho referem-se em primeira instância ao mundo empresarial, mas não posso deixar de as transpor para a realidade das dinâmicas familiares que conheço atualmente.

O simbolismo inspirador de um líder e a representação mental que os seus seguidores têm de si, são competências chave no processo de liderança de qualquer grupo, mesmo o da família.

Se não, vejamos as principais características de um líder e comparemo-las às competências parentais, no processo contínuo de educação dos nossos filhos:

Ø  Carisma: O carisma é algo intrínseco à personalidade de cada um, mas também pode ser uma competência a ser treinada e desenvolvida. Um líder carismático tem visão e um forte sentido de missão, o que gera respeito, confiança e lealdade dos membros do seu grupo. Inspira-lhes uma identificação natural, orgulho e entusiasmo no que lhes é proposto;
Ø  Inspiração: Utilizando uma comunicação clara, fluida e entusiasta, o líder demonstra capacidade de motivar e implicar todos os elementos do grupo em torno do mesmo objetivo;
Ø  Estímulos: Para além do simbolismo do líder e a sua capacidade de trabalhar as emoções dos elementos do seu grupo, igualmente importante neste processo de liderança é o estímulo ao nível cognitivo, traduzido no desenvolvimento da capacidade dos seus elementos de procederem a análises críticas, no seu pensamento criativo e na intuição.
Ø  Reforço individual: Demonstrar consideração por cada um dos seus elementos de forma particular e genuína, permite criar um ambiente de confiança e valorização pessoal;

Nos anos 60 as mulheres que ocupavam cargos de liderança e de chefia tendiam a adotar técnicas de gestão em conformidade com os valores masculinos, sobretudo porque as organizações eram predominantemente masculinas.

Atualmente, é cada vez maior o número de mulheres em cargos de liderança com estilos marcadamente femininos, notórios nas suas capacidades de delegação de responsabilidades, na partilha de informação e de recursos e na definição coletiva de objetivos:

ü  Liderança democrática: As mulheres revelam grandes capacidades para organizar o trabalho em equipa de forma democrática, participativa e cooperativa;
ü  Flexibilidade: Apresentam tendência para a partilha de responsabilidades e uma grande capacidade de comunicação e consenso, orientada para a negociação, gestão de conflitos e resolução de problemas através da empatia e da racionalidade;
ü  Liderança inclusiva: Os atributos da generosidade e da harmonia contribuem para uma liderança inclusiva e menos centrada na figura do líder;
ü  Liderança relacional: A liderança feminina é orientada para a gestão das pessoas, das suas relações;
ü  Gerar confiança: Gerindo as expectativas e necessidades de cada elemento, gera-se confiança, otimismo, criatividade e inovação.

Gerir pessoas significa lidar com expectativas, motivações e ansiedades. A questão central é saber estimular e aproveitar ao máximo o potencial de cada um dos elementos, contribuindo para o seu desenvolvimento pessoal.

Segundo alguns especialistas nesta temática, existem fatores de sucesso a ter em conta nesta gestão de liderança:

v  Objetivos: Cada um precisa de compreender os objetivos do grupo, comprometendo-se e envolvendo-se com os seus próprios objetivos, por forma a sentir que cedeu a sua parte para o sucesso da dinâmica do grupo;
v  Crescimento Individual: a estabilidade e desenvolvimento pessoal de cada um afiguram-se como extremamente importantes;
v  Inovação: A dinâmica de um grupo é pautada de mudanças ao longo do seu desenvolvimento. Também a dinâmica familiar é marcada por diversas etapas ao longo do seu ciclo vital. Em ambas as realidades, é importante a flexibilização necessária e por vezes a reinvenção de métodos mais adequados para lidar com as diferentes necessidades e expectativas de cada elemento;


Há mais de cinquenta anos Herzberg e Maslow debruçavam-se sobre a importância dos fatores motivacionais dos colaboradores de empresas, das suas necessidades de estima e de realização pessoal. Muitas destas, continuam ainda agora presas apenas aos sistemas de recompensação remuneráveis, e, portanto, quantificáveis.

A Pirâmide das Necessidades de Maslow traça uma hierarquia simples das necessidades do ser humano e constitui um modelo teórico que ainda serve de referência em muitas empresas na adoção de estratégias de liderança.

Segundo este modelo, quando todas as necessidades mais básicas estão preenchidas, a satisfação das necessidades superiores permite criar um ambiente organizacional de motivação permanente, empenho e renovação do potencial das pessoas.

Novamente, percebemos que este modelo teórico se pode ajustar para a realidade das famílias, na medida em que, dificilmente uma criança poderá desenvolver-se dentro dos parâmetros considerados saudáveis se as suas necessidades mais básicas como a alimentação, segurança e amor firme não tiverem primeiro preenchidas. 

Em suma, não me restam grandes dúvidas que a lealdade e o empenho de cada um no seio de um grupo dependem muito mais de fatores motivacionais como a estima, o reconhecimento e a valorização. As pessoas necessitam de valorização e estímulo de forma a desenvolverem todas as suas capacidades e potencialidades. O mesmo se aplica nas famílias, seja no que respeita a cada um dos seus elementos, seja enquanto grupo, com particularidades e dinâmicas muito próprias.


Sofia Almeida

segunda-feira, 12 de maio de 2014

TELEVISÃO NO QUARTO DAS CRIANÇAS




As modalidades lúdicas para as crianças têm vindo a sofrer alterações e os quartos das crianças têm vindo a transformarem-se em grandes espaços de entretenimento e em alguns casos, autenticas estações eletrónicas, onde não faltam a televisão, o Leitor de DVD, a consola de jogos, o computador, a aparelhagem de som, o tablet e o telemóvel.

No início da idade escolar, as crianças começam a reclamar para si mesmas os brinquedos da modernidade dos adultos. Todos sabemos que a televisão é quase presença obrigatória nas nossas casas, sendo que, quase 100% dos lares nacionais estão equipados com pelo menos um aparelho de televisão.

Não restam dúvidas sobre as vantagens de acesso a programas educativos de grande qualidade, de informação disponível na internet ou de videojogos orientados com princípios pedagógicos. Sabemos que uma geração familiarizada com os novos media significa mais informação e entretimento. Contudo, nem sempre a informação é aconselhada a públicos mais impressionáveis como são os mais novos.

Têm-se multiplicado os estudos sobre o impacto/influência da televisão sobre os mais novos, nomeadamente, analisado a questão do acesso facilitado pelos mais novos aos conteúdos televisivos e das novas tecnologias e à dificuldade de monitorização pelos pais/educadores.

Ao longo do seu desenvolvimento, as crianças vão construindo a sua personalidade, aprendendo a lidar gradualmente com determinadas realidades, pelo que, devem ser protegidos de experiências para as quais não estejam ainda preparadas e todos estamos conscientes que a programação televisiva excede-se frequentemente nas cenas de violência, que poderão provocar medos e ansiedades futuras.

O acesso incondicional e sem monitorização parental que mais facilmente ocorre na privacidade dos quartos das crianças, pode expô-las a momentos de significativo impacto emocional, os quais, visionados em confraternização familiar, poderão no mínimo serem contextualizados ou mesmo censurados, como é o caso de algumas notícias de extrema violência divulgadas nos noticiários da noite, que com facilidade as crianças têm acesso a fim de satisfazerem as suas curiosidades.

O poder da publicidade também não deve ser negligenciado, mais ainda, quando exerce impacto emocional nas crianças, valorizando o consumismo desde cedo em detrimento de princípios morais fortalecidos.

Alguns estudos defendem que a televisão no quarto das crianças pode também prejudicar a sua saúde física, como fator agravante da obesidade infantil, não apenas pelo sedentarismo que é promovido, como pelas posições de visionamento adotadas logo após as refeições.

Sofia Almeida