sexta-feira, 28 de novembro de 2014

DEPENDÊNCIAS RELACIONAIS


 

quando o amor se converte numa adição

O amor aditivo não é apenas uma questão individual. Tem, também, uma dimensão social. Sabemos que os processos de socialização e maturação diferem no género, mas alguns autores defendem a ideia de que as mulheres poderão estar mais predispostas a expressar os seus sentimentos, o que nos poderá levar a pensar que estão mais vulneráveis a padecer desta patologia. O papel que é esperado das mulheres no seio da estrutura familiar, depende do seu marco social e cultural que define como devem comportar-se socialmente.
 
Para outros autores e especialistas, o facto das mulheres expressarem melhor os seus sentimentos e pedirem ajuda com maior facilidade, não significa que estão mais vulneráveis. Inclusivamente há estudos que indicam que os homens são mais aditivos no amor do que as mulheres, pois não aceitam nem assumem este tipo de patologia e mascaram estes comportamentos com outros comportamentos aditivos como as drogas, o jogo, o trabalho.

A educação e as conceções construídas socialmente em torno do amor são um fator chave na incidência deste transtorno na população. O tipo de amor romântico, que impera nas nossas sociedades, empurram a pessoa a pensar que "se não se sofre é porque não se vive um amor verdadeiro", ou ainda, a pensar que "se há ciúmes é porque gostam de nós".

Segundo Jorge Castelló, também as novas tecnologias de comunicação agravam as dependências emocionais ao permitir um maior controlo do par, quer por contacto direto, quer através das informações e fotografias veiculadas nas redes sociais.

Segundo Blanca Estela Retana, especialista na matéria, são duas as causas da adição do amor: a primeira, porque o amor é algo desejado naturalmente pelos seres humanos, ou, noutra instância, porque estes acabarão por se sentirem pressionados socialmente a procurarem companheiro no estigma de que as pessoas não se sentirão completamente realizadas. A segunda causa, justifica-a pelo facto de quando se tem um companheiro, vive-se uma relação intensa. Turva-se a consciência e a racionalidade, desaparece o cansaço, a fome e a dor, o que se transforma numa adição, pois tal como qualquer outro prazer, tentar-se-á repeti-lo continuadamente, cada vez mais, e com maior afinco.

Segundo a mesma autora, os sintomas de um amor aditivo, são:

Ø  Sentimento de dependência completa do companheiro para adoção de qualquer atitude ou comportamento;

Ø  Cedências que anteriormente seriam impensáveis de algo realmente muito importante para o próprio;

Ø  Abandono das atividades habituais e afastamentos relacionais com família e amigos para estar somente com o companheiro;

Ø  Desvalorização dos alertas do comportamento fusional por parte das pessoas mais próximas;


Ø  Controlo do companheiro, inclusivamente através de mensagens e telefonemas;

Ø  Admissão de cenas de ciúmes, por não querer perder o companheiro;

 
Apesar de tudo ninguém nos ensina a amar e a manter relações afetivas saudáveis. Esta aprendizagem adquire-se através de modelos que vamos aprendendo e da nossa própria experiência. Deve-se começar por eliminar ideias preconcebidas sobre o amor, alterando as nossas conceções, e saber distinguir uma relação tóxica de uma relação saudável.
 
Decerto alguns de nós já ouviu os seguintes mitos sobre o amor:

v  Mito da fé cega no destino (crença na predestinação com o par);

v  Mito do emparelhamento (crença na heterossexualidade e monogamia como algo natural, presente em todas as épocas e culturas);

v  Descrença na possibilidade de se gostar de várias pessoas em simultâneo;

v  Mito dos ciúmes como sinal de amor;

v  Acreditar que amor e enamoramento são equivalentes;

v  Acreditar que o amor vence tudo ou que qualquer sacrifício é válido em benefício do companheiro;

v  Conceção mágica do amor (crença que os nossos sentimentos amorosos não estão influenciados pelos nossos fatores biopsicossociais e culturais;

v  Mito do casamento e da convivência com o cônjuge (crença de que o amor deve conduzir sempre a uma união estável);

v  Mito da unidade (crença de que os elementos do par são “uno”);

v  Crença de que as discussões devem-se evitar;
 
v  Mito de tudo dar sem nada receber em troca;

v  Mito da prova de amor pela aceitação de atitudes inadmissíveis

 
 

Segundo Almazán, uma relação saudável é aquela que resulta satisfatoriamente para cada uma das partes, em que se respeitam e defendem os direitos e interesses de cada um, chegando a acordo ou negociação mútua nos casos em que existem pontos de vista diferentes.
 
A boa comunicação é essencial e assim como se deve partilhar aspetos importantes com o parceiro também se deve reservar a nossa intimidade individual. O importante é compreendermos que somos seres completos que nos unimos a outras pessoas para partilharmos momentos de prazer e de diversão, mas também momentos difíceis. Mas não devemos nunca procurar no companheiro um meio para suprir uma carência interior.

ü  Demonstrar valorização, admiração e respeito mútuo;

ü  Pedir e dar afeto;

ü  Coesão e cumplicidade;

ü  Sinceridade e comunicação;

ü  Fugir da rotina;

ü  Cuidar da intimidade de si próprio sem prejuízo do investimento na relação;

ü  Partilhar atividades gratificantes e não apenas tarefas obrigatórias;

ü  Manter uma atitude aberta e flexível a novas situações;

 

Sofia Almeida

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