Sendo a família uma unidade universal de organização social, constitui uma importante base da vida social com o fim último de satisfação das necessidades de cada um dos seus elementos e da família como um todo, única nas suas características.
Segundo Alarcão “É habitual pensarmos na família como o lugar onde naturalmente nascemos, crescemos e morremos, ainda que nesse longo percurso, possamos ir tendo mais do que uma família. Este é um espaço privilegiado para elaboração e aprendizagem de dimensões significativas da interação: os contactos corporais, a linguagem, a comunicação, as relações interpessoais. É ainda o espaço de vivências de relações afetivas profundas como a filiação, a fraternidade, o amor, a sexualidade… num trama de emoções e afetos positivos e negativos que, na sua elaboração, vão dando corpo ao sentimento de sermos quem somos e de pertencermos àquela e não a outra qualquer família”.
O desenvolvimento da família implica mudanças na sua dinâmica e características, ao longo do seu ciclo vital. A transição da família de um estádio a outro, visando a satisfação, implica mudanças interacionais. Os padrões de comportamento entre os membros no que concerne à definição de papéis, tomadas de decisão, afeto, comunicação e divisão de tarefas, deverão ser negociadas continuamente de forma a satisfazer as necessidades individuais e familiares, variáveis ao longo do seu ciclo de vida.
Numa linha de pensamento sistémico, o ciclo de vida da família é o contexto mais importante para o desenvolvimento dos seus membros. Os vários estádios por onde passa a família, são períodos de relativa estabilidade estrutural, sendo que em cada um destes estádios, a família é confrontada com diferentes tarefas, referentes ao seu funcionamento interno e às exigências que lhe são feitas do exterior, em momentos diferentes. O maior ou menor sucesso em lidar com estas diferentes tarefas significará uma vivência mais ou menos conseguida, o mesmo seja dizer, uma maior ou menor satisfação familiar.
A família como um todo necessita adaptar-se a cada fase do ciclo vital e estabelecer novos e estáveis padrões de interação, pois, se não o fizer, corre o risco de rigidificação e torna-se disfuncional, não permitindo a satisfação dos seus elementos ao longo do ciclo da vida da família. Assim, antes de mais, importa compreender o estádio de desenvolvimento em que a família se encontra, o que implica identificar as suas dificuldades mas também as suas próprias competências.
A satisfação familiar, conjugal e a qualidade da vida familiar são variáveis determinantes na avaliação do funcionamento familiar, sendo que, o termo satisfação é abrangente e tem diferentes perceções, dependendo dos autores e linhas de pensamento.
De acordo com o Dicionário Enciclopédico Koogan Larousse, “Satisfação significa contentamento; prazer que resulta da decorrente realização do que se deseja. A palavra deriva do latim satisfacer, cujo significado é agradar, contentar; pagar ou saciar.
Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora o termo significa ato ou efeito de satisfazer ou de satisfazer-se; contentamento; alegria; aprazimento;
Levin defende a ideia que todos os comportamentos que o homem desenvolve visam a obtenção da satisfação, sendo estes comportamentos motivadores e sendo a motivação uma tenção persistente que leva a comportamentos para a satisfação de uma ou mais necessidades.
Sabemos hoje que alguns problemas podem constituir obstáculos à satisfação familiar: os estilos de vida em que hoje vivemos, marcados pelo relógio; as novas tecnologias no centro das relações familiares; o desaparecimento gradual das famílias alargadas para dar lugar às famílias nucleares reduzidas a espaços relacionais cada vez mais pequenos, sem o conto da avó na transição de um dia extenuante para uma noite de sono tranquila e revigorante; os contratos de trabalho daquelas mães habituadas a serem domésticas; a opção por fecundar apenas um ou dois filhos, pela consciência dos respetivos encargos financeiros.
Patrício, chama a nossa atenção para “um aumento de famílias monoparentais, substitutas, urbanas, socialmente excluídas e famílias ausentes” com “precariedade do relacionamento, dificuldades de comunicação, enfraquecimento das relações de consanguinidade, o declínio na importância social da família, o desaparecimento do sentido da vizinhança e a erosão das bases do bem-estar social”.
Eduardo Sá, por outro lado, enfatiza algumas consequências positivas de todas estas transformações e mudanças de que as famílias têm ido alvo: “…mais e melhor vida têm transformado as famílias alargadas em famílias nucleares que, em consequência da contracepção e trabalho feminino… têm trazido o homem de regresso a casa, à maternidade e à família. A igualdade de oportunidades tem-nos ensinado a conviver sem fadas do lar e revela incondicionalmente a função do casal, muito além do vínculo matrimonial, no sentido da exigência de uma maturidade relacional que se traduz, no plano da interioridade, numa união de facto…melhores condições sociais e económicas, menos filhos e melhores pais, trarão mais probabilidades de levar as pessoas à maternidade, disso dependendo a melhor qualidade de vida familiar e a sua equivalente psicológica, que se traduzirá na persistência do desejo de ser feliz.”
Numa sociedade em que a violência e o consumo competem, mas o ritmo de trabalho é adequado, a alimentação é correta, a sexualidade está equilibrada, se a educação existe, se o tempo de ócio está planeado, então a nossa capacidade de satisfação familiar será maior. Podem as crianças, os adultos e os idosos encontrar repouso nas suas famílias, pois esse é o melhor lugar para se viver.
Sofia Almeida
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