Grandes
mudanças têm ocorrido nas famílias nos últimos tempos, nomeadamente, o
esvaziamento progressivo da função social da família; o seu isolamento; a
desvalorização social da função paterna; o consenso social sobre direitos e
deveres dos jovens e sobre as regras educativas; e o evitamento do conflito
aberto entre pais e filhos.
Estas
mudanças têm conduzido a dinâmicas familiares caracterizadas pelo esbatimento
de fronteiras entre gerações e até à sua inversão, com consequências graves ao
nível da definição das funções e papeis parentais e filiais.
Para esta
mutação muito contribuíram políticas sociais que resultam na canalização para
estas instituições a tutela e a autoridade sobre as crianças e adolescentes,
esvaziando o significado da função parental, que, construindo relações mais
distantes não ajudam à sedimentação de vínculos familiares sólidos e
estruturantes, dando origem aos mitos da criança-reizinho; do jovem redentor;
do bebé-creche; das crianças-infantários e de atitudes familiares de
superproteção e superapreciação dos filhos.
É cada vez
mais difícil para a família manter o seu
papel tradicional, vocacionada para um cuidadoso empenhamento na função
paternal , consequentemente educativa, com um permanente auxílio e atenção aos
filhos até à idade em que eles próprios também cumpram esta função.
A sociedade
atual privilegia uma mentalidade de consumo e quando a vida está centrada no
bem-estar material, procura-se mais o prazer imediato em detrimento do que
podemos fazer por nós mesmos, e aquele que não consegue empreender algo fica
com um vazio interior e torna-se vulnerável às solicitações mais diversas. Em
contrapartida, uma criança que tem os seus próprios centros de interesse, os
seus passatempos e os seus impulsos criadores próprios, sente uma satisfação
interior promotora de maior independência.
A família
deve crescer e desenvolver-se como se tratasse de um organismo vivo, procurando
mudar à medida que os seus elementos também mudam. É importante não se fixar em
padrões rígidos, mas sim, adaptar-se às necessidades e exigências inerentes ao
desenvolvimento dos seus membros, respeitando a sua individualidade e
consequentemente criando condições para o seu saudável crescimento.
Como refere
Isabel Andrade “trata-se de dar à criança a segurança e a liberdade necessárias
para que aprenda a situar-se na sociedade e a enfrentar as dificuldades; é
importante que os pais não sejam demasiado rígidos nem demasiado indecisos.
Um amor
cego que satisfaça todos os desejos da criança pode vir a favorecer mais tarde
desvios comportamentais. A criança habitua-se a ter tudo e não suportará a
frustração quando for confrontada com dificuldades. Porque foi incitada para
uma mentalidade de consumo, quando não é satisfeita de imediato, logo procurará
compensar-se. Na vida é preciso saber esperar. Face a um problema angustiante é
preciso aprender a enfrentá-lo, deixar correr o tempo, ser paciente.
Segundo
aquela autora “ amar um filho, protegendo-o e galanteando-o em excesso não é
prova de amor. Quando se ama um filho, deseja-se que ele se desenvolva o melhor
possível, para se defender bem na vida. É perigoso evitar à criança todas as
dificuldades”.
As atitudes
familiares de superproteção e superapreciação dos filhos gera um escudo de
proteção à volta da criança, o que se por um lado evita os perigos ou riscos da
realidade externa, também pode asfixiar ou criar um meio artificial onde a
criança não aprende a lidar com situações complicadas, ficando sem resistência
para enfrentar as agressões do mundo exterior.
Sofia Almeida
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