sábado, 28 de junho de 2014

FAMÍLIAS RECONSTRUIDAS



Segundo o Editorial do Courrier Internacional de janeiro último: “Nos últimos 50 anos, o número de casamentos em Portugal caiu para metade (34 mil) e quase foi apanhado pelo dos divórcios (25 mil, que já foram mais: 27,5 mil em 2010). O número de filhos por casal (1,03) não para de descer e, curiosamente, está abaixo do verificado na China, onde vigora uma política de incentivo ao filho único. As uniões informais entre adultos dispararam, os casais homossexuais aumentaram e o número de crianças que crescem nestas novas famílias ganha dimensão.”

Segundo o mesmo autor, João Garcia: “Voltemos ao nosso pequeno Portugal: há poucos anos nasciam mais de 100 mil crianças por ano, em 2012 passaram a ser pouco mais de 90 mil, este ano já se admite que fiquem aquém dos 80 mil. Não nascem nem se licenciam: de ano para ano cai o número de jovens que procuram o Ensino Superior.”

Sociedade e família sempre em constante mutação, condicionam-se e complementam-se no sentido de se adaptarem aos novos estilos de vida. Parece-me um processo previsível e perfeitamente natural, verificável ao longo da existência da humanidade. A necessidade de nos adaptarmos às circunstâncias, satisfazendo as necessidades consideradas mais básicas, mas procurando ativamente o melhor bem-estar possível para nós e para os nossos.

Questões muitíssimo atuais no nosso país como a emigração e/ou migração levantam questões de educação parental que obrigam a reformulações nas dinâmicas familiares, com claras transferências de competências parentais para os avós ou outros significativos;

A questão do desemprego dos pais e dos filhos, sem significativas perspetivas de construção de projetos futuros ou simplesmente de subsistência das suas famílias, parece-me uma questão igualmente determinante nesta problemática.

A mudança de representação social das famílias, nomeadamente nas sociedades ocidentais, obriga à produção de diferentes tipos de legislação, adequada o mais possível aos ensejos manifestados pelas respetivas sociedades: surgem novas formas de adoção e de procriação, ainda recentemente impensáveis, pelo menos naqueles países de mentalidade mais oprimida.

A mudança de paradigma do papel da mulher na sociedade atual tem também um grande peso na reconstrução das famílias. As suas carreiras profissionais, a sua crescente autonomia financeira, a crescente capacidade de criação e inovação, trouxeram-lhe um reforço imparável na sua autoestima, não deixando nada para provar a ninguém.

Também no que respeita à religião, somos hoje testemunhas de um salto gigante no paradigma da Igreja Cristã. Aproximamo-nos, finalmente, em minha modesta opinião, dos ideais de Cristo, que se resumem no amor universal e incondicional, traduzido nas coisas mais simples de que já nos esquecemos, por nos deixarmos com alguma frequência absorver pelos valores sociais atuais.

Parece-me que estamos agora mais do que nunca, conscientes que o que conta realmente, são as relações humanas. Deitaram-se a baixo preconceitos morais e religiosos que em nada dignificavam o valor do ser humano. Cada um de nós, a seu ritmo, vai percebendo a preciosidade, mas também a fragilidade do dom da vida, e com maior ou menor autodeterminação, vai-se centrando na busca do que verdadeiramente a vida nos dá em bem-estar e tranquilidade.


Sofia Almeida

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