domingo, 28 de setembro de 2014

PAI PRESENTE




O pai, presente ou ausente, marca definitivamente o percurso de vida dos seus filhos

Nos primeiros meses de vida, o bebé vivencia uma primeira fase de grande fusão com a sua mãe. Mas, gradualmente, o bebé vai percebendo que a sua mãe não está sempre presente e disponível quando dela necessita, sentindo com esta separação que pode ser amado ou rejeitado.

Pela sua presença, o pai, com maior ou menor consciência, próximo ou distante, triangula esta relação, permitindo ao bebé entender que não é o único elemento da vida da sua mãe e terá que a partilhar consigo.

O pai facilita-lhe uma nova aprendizagem de autonomia e identidade própria. Incita a criança a explorar o mundo exterior e enfrentar os primeiros desafios. Ensina-a a lidar com as frustrações, de forma a sair da ilusão da sua omnipotência, potenciando gradualmente a sua vida afetiva.

Desde o primeiro instante, a interação do pai para com um filho é diferente da interação para com uma filha, transmitindo-se uma identidade sexuada até ainda antes do parto. Por outro lado, a criança vai observando diferenças entre o pai e a mãe, que têm comportamentos e valores distintos. As suas interações vão, portanto, sendo modeladas por estas diferenças a ponto dos meninos se querem identificar com os progenitores masculinos e as meninas com as progenitoras femininas.

À medida que cresce, a criança sente necessidade de garantir o afeto e o reconhecimento do pai e da mãe e depressa percebe que para tal terá que conciliar os seus desejos e comportamentos às expectativas de ambos, reforçando a sua autoestima e autoconfiança.

Idealmente, ser pai, é sinónimo de proteção, educação, cumplicidade, afetividade. Mas quando o pai está pouco presente na vida da criança, dificulta não só essa aprovação, como dificulta a identificação da criança, que, muitas vezes, procura eleger outro adulto que funcione como modelo parental identificatório.

Mas a proximidade e a distância afetiva nada têm obrigatoriamente a ver com a proximidade e a distância físicas. Não basta que o pai esteja fisicamente presente, se não existe na cabeça e no coração do filho. Na verdade, mesmo distante geograficamente, o pai deverá ser uma referência de amor e de apoio incondicionais.

Noutros casos, o pai, mesmo presente, pode ser quem menos os compreende e aceita como são. Em casos mais graves de negligência ou maus tratos, mais tarde, em adultos, sobrevivem a momentos irreversíveis  de mágoas intransponíveis.

Mas, nem todas as crianças afetam o seu equilíbrio psicológico pela ausência do pai. Cada criança tem a sua forma própria de lidar com esta figura de acordo com as suas próprias especificidades e capacidade de resiliência. Mesmo na sua ausência, é preciso que a criança construa um lugar simbólico da sua existência de forma a interiorizar e valorizar a existência do pai, contribuindo para a sua autoimagem, sensação de segurança, e para o estabelecimento de relações afetivas futuras.

                          

As crianças precisam de um pai que as aceite como são, interaja e incite à exploração das suas capacidades


Sofia Almeida

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