sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O JOGO PATOLÓGICO


 
De acordo com a Organização mundial de Saúde, o jogo patológico é reconhecido como uma perturbação dos hábitos e dos impulsos, segundo a classificação Internacional de Doenças (CID-10).

 



O Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências – SICAD, de entre as suas atribuições, tem vindo a procurar melhorar os conhecimentos relativamente a este fenómeno da dependência do jogo em Portugal em matéria de comportamentos aditivos sem substâncias. Existe ainda falta de informação e de estudos aprofundados sobre este fenómeno, mas estamos conscientes da sua crescente importância em outros países.

Segundo um estudo de 2013 de Buhringer, Braun, Kraplin & Sleczka, a prevalência de jogo patológico a nível europeu situar-se-á entre 0,3% a 1% e os problemas associados ao jogo entre 0,5% e 3% (, 2013).

Em Portugal, a indústria dos videojogos ainda mal existia há cerca de trinta anos, mas nos últimos anos temos assistido a uma preocupação crescente com o perigo da adição ao jogo, principalmente através da internet. A geração atual dos pais trintões já nascidos com os computadores, para benefício das relações intrafamiliares, passa cada vez mais tempo com os filhos nas novas tecnologias, levantando-se questões sobre os perigos do uso indevido da internet e a dependência do jogo.

Estudos recentes no nosso país indicam que a situação de dependência nos jogos a dinheiro é mais significativa nos adultos com mais de 65 anos e o Euromilhões é o mais jogado de entre uma panóplia de jogos autorizados. Os jogadores patológicos portugueses são maioritariamente do sexo masculino, e apresentam características de impulsividade, falta de autoestima, fraca tolerância à frustração, distorções cognitivas e co-morbilidades como a ansiedade e depressão.

Normalmente os jogadores patológicos são sonhadores, desenvolvem sentimentos ambivalentes de ambição, mas também de culpabilização. Revelam maior consciência do problema ao contrário dos dependentes de substâncias psicoativas, mas só aceitam ajuda em última instância, quando já não conseguem resolver os problemas decorrentes desta dependência.

Um estudo realizado em Portugal por Henrique Lopes no ano de 2009, faz referência ao fenómeno de rejuvenescimento da classe dos jogadores, que se ficará a dever à crescente acessibilidade aos jogos a dinheiro na internet, advertindo apar os dados preocupantes relativo ao número de jovens que mostram sinais de dependência: 1.564 têm menos de 25 anos e 8.741 têm entre 26 e 40 anos. Segundo este autor, em Portugal, havia naquele ano, pelo menos 16.124 viciados em jogos a dinheiro e mais de 400 mil em risco.
 
O tratamento das dependências sem substância não se afigura mais fácil de tratar do que as designadas toxicodependências. Sabemos que é possível jogar num ambiente isolado e anónimo, sem controlo social e insuficiente controlo parental, pelo que, a par da investigação que está sendo levada a cabo pelas entidades competentes nesta matéria, urge sensibilizar os pais e os filhos, desenvolvendo intervenções adequadas de carater preventivo.

 


 

Sofia Almeida

AS NOVAS TECNOLOGIAS NO CENTRO DA RELAÇÃO FAMILIAR


 

O fenómeno das novas tecnologias veio redefinir o tempo passado em família, e é consensual para grande parte dos especialistas, que tem efeitos psicológicos tanto nos pais como nas crianças. Contudo, se para alguns autores trata-se de efeitos positivos, para outros especialistas, não será tanto assim. Se não vejamos…



Segundo uma sondagem recente nos Estados Unidos da América levada a cabo pela empresa Cisco, 71% dos pais consideraram que dedicam mais tempo aos seus filhos graças às novas tecnologias.

Num outro estudo da responsabilidade da Laborum aplicado em junho de 2012 a trezentos pais no Chile, concluiu-se que 61% dos pais também conseguiam passar mais tempo com os filhos graças às novas tecnologias e 41% dos pais consideravam que a sua relação com os filhos ficava reforçada, sendo que, 50% dos pais se sentiam mais tranquilos também por saberem quais os sítios na internet que os filhos visitaram ou que aplicações haviam descarregado.
 

Segundo especialistas da Universidade de Brigham Young, os videojogos são particularmente benéficos para as raparigas. Num estudo que realizaram a 278 meninos e meninas dos 11 aos 16 anos, demonstrou que as raparigas que jogavam com o pai tendiam a comportar-se melhor, a estarem mais ligadas à família, a dar sinais de uma maior robustez psicológica e a estarem menos sujeitas à ansiedade e depressão. Segundo ainda o mesmo estudo, são essencialmente os pais a jogar com as filhas facilitando uma comunicação que por vezes é difícil no quotidiano.


Arminta Jacobson, Diretora do Centro Educativo para Pais da Universidade do Norte do Texas refere: ”Não interessa o tipo, todo o lazer entre pais e filhos favorece esta interação”.

 
Esta opinião é corroborada por um estudo da Universidade de Michigan junto de 290 pais e filhos que habitualmente jogam juntos e que revela que esta proximidade tem um impacto importante nas crianças, ajudando-as a desenvolverem competências cognitivas e linguísticas, e melhorando a relação pai-filho. Desenvolve-se um sentimento de competição saudável e mais equilibrada no perfil dos jogadores, quer no peso, quer no tamanho. Pode mesmo acontecer que o filho ganhe ao pai, já que num mundo virtual tudo pode acontecer.
 

Em Inglaterra, num estudo levado a cabo pela Universidade Goldsmith, 80% dos pais que jogam com os filhos, consideram este, um momento privilegiado e 32% fazem-no diariamente.
 


 
Em Portugal, as opiniões sobre esta matéria também dividem especialistas. A temática ganhou maior visibilidade no início do verão passado num programa televisivo diário, de um canal generalista, quando o Dr. Quintino Aires veio a público afirmar que “os videojogos são veneno…não ajudam à criatividade… não desenvolvem as capacidades relacionais… e torna os seus utilizadores como seres antissociais, com dificuldades de comunicação e nas relações interpessoais”. Este especialista chega mesmo a acusar os pais que autorizam os videojogos aos filhos, da sua falta de paciência para tomarem conta das crianças.


Em contraponto, Ricardo Passos, num artigo de opinião publicado no ene3.com em 19/07/2013 veio denunciar estas afirmações e defender a ideia do estímulo da criatividade dos jogadores por alguns videojogos, encarando as características destes como fatores de desenvolvimento numa relação. Coloca ainda a questão dos pais que jogam videojogos ou utilizam a internet porque é a única forma de estarem em contacto regular com os filhos, por ausência prolongada de casa. Refere ainda que quem produz videojogos ou brinquedos são adultos, sempre apoiados por uma vasta equipa que os orienta na sua elaboração, tendo em conta, entre outras coisas a faixa etária a quem se destinam. Acrescenta ainda que a Nintendo investe mais do dobro em pesquisa que o Ministério da Educação Americano
 

Mas não são apenas os videojogos que aumentam esses tempos passados em frente ao ecrã, a Internet também é responsável. A curiosidade das crianças leva-as a interagir com as novas tecnologias, colocando-a no centro da relação familiar e, por si mesmas, ou com a ajuda dos pais, rapidamente se familiarizam com os novos aparelhos.


O estudo Gerações Online 2009 realizado pelo Centro de Estudos Pew, diz-nos que os pais e filhos têm comportamentos e motivações muito semelhantes na Internet, essencialmente o desejo de diversão, de partilha de experiências ou transmissão de conhecimentos através de material mais didático.
 



Não obstante, os estudos e opiniões atrás referidas, é crucial que reflitamos sobre os perigos decorrentes da falta de controlo parental na utilização das novas tecnologias pelas crianças. Na verdade, qualquer progenitor já se apercebeu da dificuldade em encontrar mecanismos de controlo nesta utilização, não só em termos do tempo disponibilizado, mas também dos conteúdos visualizados. Quantas vezes, no seguimento da elaboração de um trabalho de casa escolar fundamentado em pesquisa na internet, acaba com uma visualização de um qualquer vídeo caseiro ou um jogo acabadinho de estrear? Já para não falarmos das janelas que surgem espontaneamente e que curiosamente insistem em não fechar.


Os pais mais informados e conscientes, sabem quais os procedimentos a adotar para limitar o acesso a determinados sítios, mas sou de opinião que em Portugal existe ainda falta de informação e sensibilização destinada aos pais para a prevenção de comportamentos de risco associados ao jogo patológico.

 
Sofia Almeida

 

 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

REPROVAÇÕES ESCOLARES


 

 
A findar a época balnear, aproxima-se a passos largos o regresso às aulas. A grande maioria dos pais e filhos já terá começado as correrias para as livrarias e papelarias à procura dos novos manuais adotados para o próximo ano letivo.

Neste artigo, procuro refletir sobre as reprovações escolares, ainda que não me refira às reprovações decorrentes da preguiça ou dificuldades de aprendizagem. Centro-me apenas nos danos colaterais daqueles alunos que são obrigados a repetir o ano escolar, sem que os pais e os professores tenham percebido de facto, que tipo de dificuldades os condiciona.





Falamos de desmotivação generalizada? Existência de conflitos internos por resolver? Falta de estímulos parentais na aprendizagem? Falta de curiosidade natural? Filhos de famílias disfuncionais onde falta a comunicação e/ou os afetos?


 
 
 
Uma reprovação escolar pode constituir um forte obstáculo ao desenvolvimento integral da criança ou adolescente repetente. Para além do estigma social, a sua autoestima e relação com os pares poderão ficar seriamente afetadas. De tal forma que se poderão sentir inibidos para melhorarem o seu desempenho escolar, ou em última instância, desinteressarem-se pela escola, abandonando-a ou adotando comportamentos rebeldes.

 
 
Por todos estes motivos e por todos aqueles que não são aqui referenciados (investimento financeiro dos pais, stresse, vulnerabilidades) vale a pena aos pais aliarem-se aos professores neste processo de educação, logo desde o início do ano letivo, procurando aproximar-se progressivamente da escola, implicando-se neste processo tão complexo como é a educação dos nossos filhos.




Sofia Almeida




sexta-feira, 23 de agosto de 2013

DIFERENÇAS CULTURAIS NOS MODELOS PARENTAIS


 
 
Alguns Best-Sellers recentemente publicados na comunidade internacional vieram reacender o debate sobre as melhores culturas para se educarem as nossas crianças. Longe de reunirem consenso, os  vários autores que apresento de seguida, vieram a público defender diferentes modelos teóricos educacionais, dos mais permissivos aos mais autoritários, do Oriente ao Ocidente.
Uma Professora Universitária de Direito na Universidade de Yale, Amy Chua, autora de “O grito de guerra da mãe tigre” chocou os seus leitores quando divulgou que as mães chinesas proíbem a televisão e os jogos de vídeo aos filhos, impõem-lhes a aprendizagem de um instrumento musical e exercem um controlo cerrado ao longo do seu desenvolvimento.

O empresário Xiao Baiyou, também conhecido como Pai Lobo, despoletou uma grande polémica quando publicou o seu livro “Eis como os meus filhos entraram para Beida”. Explica que o segredo do sucesso da educação que administra aos seus quatro filhos reside numa bengala de Bambu, tão dura quanto flexível. Provoca uma dor insuportável na pele mas não afeta os músculos nem os ossos. Segundo ele não se pode perder milhares de anos de tradição chinesa.




Estas fotos de Duo Duo, uma criança de quatro anos, correram mundo, quando o seu pai ( Pai-Águia) o deixou quase nu a correr sobre a neve em pleno inverno de Nova York, alegando que desejava tornar o seu filho mais forte.




Já no Ocidente, uma Antiga Repórter do Wall Street Journal, Pamela Druckerman, veio mais recentemente tecer louvores aos modelos educacionais adotados pelas mães francesas, pois segundo esta autora, estas mães não deixam as suas crianças comer entre as refeições, mas também não as pressionam para se tornarem grandes génios. São mães mais descontraídas, que não brincam tanto com os filhos, mas procuram que estes usufruam de parques e jardins públicos. Já as mães norte-americanas, considera que são obcecadas pelos seus filhos e vivem amedrontadas com eventuais sequestros.

Na opinião de Atahualpa Vargas, Psicólogo Infantil, as mães bolivianas são reconhecidas pelos norte-americanos pela sua devoção aos filhos.




O Professor Universitário Griffith Addfwyn defende que o modelo educacional adotado pelas mães gaulesas superam todos os outros atrás referidos pois o segredo do sucesso na educação das crianças está em não idolatrar os filhos em demasia.

As Super-Mães das Ilhas Fiji defendem que as crianças educadas no Pacífico Sul serão adultos mais felizes, justificando que o clima e a segurança lhes permite brincar na rua quase todo o ano.

Uma mãe alemã que teve por duas vezes trigémeos, veio também a público defender o modelo adotado pelas mães mongóis, pois estas criam os seus filhos em meios ambientes tranquilos, porque os seus maridos passam muito tempo ausentes de casa, deixando-lhes maior disponibilidade para acompanharem as suas crianças.


Opiniões à parte, considero que não existem receitas universais para educarmos os nossos filhos. Em qualquer cultura ocidental ou oriental encontramos excelentes e esforçadas mães que amam os seus filhos e cuidam deles com verdadeiro sentido de missão.

Caso seja mãe e não sinta toda esta devoção na criação dos seus filhos, pode sempre ligar-se ao blogue da italiana Silvia Crema “CLUB CATTIVE MAMME” (O clube das más mães). Segundo esta Bloguer, pode ser considerada uma má mãe, aquela que por vezes se impacienta com os filhos; que não dá proporções dieteticamente equilibradas de legumes e vegetais às crianças; que não pondera o tempo disponibilizado destas a ver televisão; que os deixa patinhar na lama ou ainda, que não suspende uma sessão no ginásio para satisfazer um qualquer capricho do filhote.

Haja sensibilidade e bom senso e tudo correrá pelo melhor!!! 



Sofia Almeida 

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

TEMPO PARA A FAMÍLIA

 



Para um desenvolvimento saudável das crianças é necessário que desde logo, à nascença, estas sintam o olhar atento dos seus pais, com um colinho sempre disponível e um dedo mindinho adivinhador.

A questão da gestão do tempo da família é de tal forma relevante no desenvolvimento das crianças que cada vez mais os profissionais de saúde mental alertam para esta necessidade, principalmente durante o período da infância e adolescência, pois justificam que é através destes momentos que as crianças vão construindo a sua personalidade, reforçando a sua autoestima e autonomia.

Pensava-se antes que a qualidade do tempo disponibilizado era mais importante do que a quantidade de tempo. É certo que a quantidade pouco importa se a interação entre pais e filhos for de fraca qualidade (interação pobre em partilha de afetos e de estímulos apropriados e oportunos relativamente às necessidades de cada criança). Mas também é certo que só passando mais tempo com os filhos é que a qualidade da relação melhora. Indubitavelmente, sem a presença regular dos pais, as crianças dificilmente se sentirão acompanhadas, protegidas e amadas convenientemente.




Atualmente, aliado às frequentes faltas de políticas públicas e/ou privadas de apoio às famílias, muitos pais enfrentam o dilema de compatibilizar as suas exigências profissionais com as necessidades de disponibilizar tempo junto dos seus filhos. Quantos pais se envolveram em vidas profissionais frenéticas (por necessidade, por realização profissional ou apenas por oportunidades imperdíveis), procurando não só o sustento familiar, mas também o seu bem-estar, sem estarem conscientes dos respetivos prejuízos no tempo dedicado à família, tantas vezes, difíceis de remediar mais tarde.


O frenético ritmo a que as famílias contemporâneas estão atualmente sujeitas, exige uma melhor gestão do tempo em quantidade e qualidade, mas, rentabilizando o tempo do seu quotidiano, os pais podem conseguir encontrar mais tempo para a família, de forma a estarem mais tempo com os seus membros, por isso, aqui ficam algumas dicas.

Dicas:
Ø  Reflita no seu dia-a-dia e procure organizá-lo eliminando tarefas dispensáveis e pouco proveitosas;
Ø  Partilhe equilibradamente com o seu cônjuge as tarefas e atividades a realizar com as crianças;
Ø  Aproveite o transporte diário das suas crianças à escola (se for o caso), para conversar e apurar sobre o seu bem estar;
Ø  Nas tarefas domésticas, peça-lhes ajuda adequada à sua idade. Vai perceber quão preciosa esta ajuda se torna no vosso quotidiano e de como os ajuda a desenvolverem várias aptidões pessoais;
Ø  Aproveite os momentos dedicados à televisão e videojogos para interagir com os seus filhos. Fica a conhecer melhor os seus gostos e interesses e aproveita para se descontrair, reforçando os tão necessários laços familiares, através da cumplicidade;
Ø  Não preencha o tempo dos seus filhos com uma agenda exigente. As ofertas de tempos livres são variadas, mas tempo para brincar é essencial para um desenvolvimento saudável e, melhor ainda, se os pais participarem com regularidade;
Ø  Recorra moderadamente à sua rede social de apoio (familiares, amigos, vizinhos) desde que os interesses das crianças sejam respeitados;


Sofia Almeida

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

FESTIVAIS DE MÚSICA


 

 
 
Em Portugal, no mês de agosto do ano de 1971 ocorreu o primeiro festival de música de verão – Festival de Vilar de Mouros, na então desconhecida localidade minhota, organizado pelo pioneiro António Barge. Nesta primeira edição, o cartaz musical foi composto por artistas nacionais conceituados como Amália Rodrigues e Duo Ouro Negro, mas também por lendas internacionais como Elton John e Manfred Mann que levaram ao rubro mais de trinta mil pessoas.

Contudo, não obstante a calorosa receção do público, apenas dois anos depois se realizou a segunda edição do festival, nessa altura com os U2, Stranglres, Já Fumega e Heróis do Mar como cabeças de cartaz de uma extensa lista de músicos mais ou menos célebres de diversos estilos musicais. Em 1996 ocorreu a terceira edição, mas foi só a partir de 1999 que as edições passaram a ser anuais.



Em quarenta anos os festivais de música de verão amadureceram e tornaram-se num fenómeno de sucesso, a que milhares de jovens aderem anualmente. De de norte a sul de Portugal em poucos dias de intervalo, multiplicam-se estes eventos que já não estão apenas focalizados no espetáculo musical, mas na diversidade que a indústria do entretenimento e do turismo nos podem proporcionar, como a prática de desportos radicais, zonas de comércio e exposições culturais.
É nesta multiplicidade de ofertas a preços relativamente acessíveis que reside essencialmente o sucesso que os festivais alcançaram atualmente. Em poucos dias é possível assistir-se a dezenas de concertos assinados por sonantes nomes nacionais e internacionais, bem como, assistir ao nascimento de tantos outros nomes que dão os primeiros passos na música.
Hoje em dia existem empresas de produção de eventos que trabalham o ano inteiro na construção de autênticas cidades no meio de campos arborizados e zonas fluviais como pano de fundo. Empregam (ainda que temporariamente) milhares de pessoas, mobilizam serviços essenciais no ramo da segurança e assistência médica e atraiem os indispensáveis patrocinadores.
O público deste género de evento, designa-se por festivaleiros, sendo que a maioria são jovens entre os 16 e 30 anos, que não resistem ao apelo da música ao ar livre, na companhia de amigos e recentes conhecidos, cujos pais acederam autorizar e até financiar uma multiplicidade de emoções e vivências que nem sempre se resumem apenas ao prazer da música e do convívio.
Nunca é demais relembrar, portanto, que é preciso saber viver, aproveitando as oportunidades que surgem, mas com cautela e bom senso, pois os perigos também fazem parte desta realidade.


Sofia Almeida

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

CAMPOS DE FÉRIAS

 




As férias são uma excelente oportunidade para se experiênciar intensamente um campo de férias.
Quantos pais se vêem absorvidos com a planificação das extensas férias letivas das suas crianças, não descurando a sua segurança, mas proporcionando-lhes vivências fantásticas e inesquecíveis.

Os campos de férias são normalmente sinónimo de felicidade e bem-estar das crianças, onde o espírito dominante é aprender a conviver e alargar horizontes.

As atividades são sempre orientadas e acompanhadas por profissionais com formação específica e vão desde os tradicionais jogos (caça ao tesouro, jogos de orientação e de estratégia) às atividades desportivas mais radicais, passando pelos desportos náuticos) sempre com a natureza como pano de fundo, sendo que a televisão e o computador não constam normalmente de nenhum programa de divertimento.

Para os adolescentes, a primeira opção poderá passar por escolher os mesmos destinos de férias, com os amigos de sempre, mas aceite a aventura, raramente regressam dos campos arrependidos.

É certo que prescindirão do mimo dos pais e do conforto das suas casas, mas os ganhos no desenvolvimento integral é inquestionável, além de reforçar qualidades intrínsecas como a coragem, a solidariedade e a entreajuda.

Para os pais, pode até ser angustiante. Mas no final, as conquistas em maturidade, confiança e autonomia são compensadores do investimento financeiro do orçamento familiar.

Em resumo, em poucos dias, liberdade e responsabilidade num treino intensivo com garantia de memórias inesquecíveis para a vida inteira.
Sofia Almeida



sexta-feira, 2 de agosto de 2013

SEGURANÇA NA ÁGUA



 


Segundo estudos da UNICEF os acidentes de viação são a principal causa de morte acidental e lesão infantil seguida dos afogamentos.
Em plena época balnear, nunca é demais relembrar as regras de segurança na água para os mais novos, prevenindo acidentes por submersão e afogamento.
As brincadeiras na água são sempre sinónimo de prazer e de brincadeira, mas para os adultos é tempo de redobrada atenção para com os mais pequenos.
Segundo a European Child Safety Alliance, as crianças estão cerca de cinco vezes mais expostas ao risco de morte por afogamento do que os adultos.
Em Portugal, todos os anos, dezenas de crianças morrem por submersão e afogamento, para além dos números oficiais de crianças que ficam gravemente incapacitadas.
Mas, ao contrário do que se pensa muitas vezes, não são as praias ou rios onde ocorrem maior número de acidentes, mas nos ambientes familiares, como as piscinas, lagos, banheiras, tanques, alguidares e outros recipientes que contenham pelo menos um palmo de água.
Estudos indicam que o primeiro dia de férias é o mais vulnerável a este tipo de acidentes decorrentes da natural curiosidade e ansiedade das crianças para o primeiro banho.
Proporcionalmente, a criança tem a cabeça mais pesada, desequilibra-se mais e tem menor perceção de avaliação do risco.
Submersa, a criança, em dois minutos tem perda de conhecimento e entre quatro a seis minutos ocorrem danos cerebrais irreversíveis.
De acordo com a Associação Para a Promoção de Segurança Infantil (APSI) a vigilância pode ser considerada a chave de toda a prevenção e dever ser feita por um adulto “presente” que saiba “reagir” em caso de acidente.
É essencial promover a existência de barreiras físicas para atrasar o acesso à àgua (cobrir/vedar piscinas, tanques) e promover o uso de auxiliares de flutuação adequados ao tamanho e ao peso da criança (colete de salvação e braçadeiras).
Atendendo a que a sobrevivência da criança depende diretamente do salvamento nos primeiros dez minutos depois do acidente por submersão, assume especial importância para os pais uma formação básica de socorrismo que ensine a restabelecer as funções vitais no mais curto espaço de tempo.
Cabe a nós, adultos, ensinarmos as regras de segurança na água aos mais novos para que possam brincar com prazer.

Não esqueça nunca:
  • Não perca as crianças de vista, nem sequer na banheira
  • Despeje toda a àgua de baldes, alguidares ou outros recipientes logo após a sua utilização
  • Dificulte o acesso às crianças à água, cobrindo ou vedando os locais de perigo
  • Coloque braçadeiras às crianças em águas paradas, transparentes e pouco profundas
  • Coloque coletes de salvação em águas agitadas, turvas ou profundas
  • Escolha praias vigiadas e cumpra a sinalização
  • Nunca nadar sozinho
  • Nadar paralelamente à margem
  • Nunca mergulhar de cabeça sem saber qual a profundidade da água
  • Aprender a fazer reanimação cárdio-respiratória
  • Ligar 112 em caso de emergência



 Sofia Almeida

sexta-feira, 26 de julho de 2013

AVÓS

Celebra-se hoje o Dia Nacional dos Avós.
É do conhecimento comum que os avós podem influenciar de forma determinante o desenvolvimento emocional, cognitivo e social das crianças, criando cumplicidades através de brincadeiras e partilhas. Mas, por vezes, esquecemo-nos que os avós não substituem os pais.

A sabedoria popular diz que “aos pais cabe educar e aos avós mimar”. Não se pode esperar dos avós as mesmas obrigações dos pais. Não devemos imputar aos avós a exigência dos cuidados parentais, da responsabilidade da educação e do peso da autoridade paterna.
Os pais não devem delegar responsabilidades que são apenas suas, mas encarar os avós como grandes aliados, que, em articulação, poderão tornar-se disponíveis para ajudar a tomar conta dos netos.
É importante para ambos os pais e avós não esquecerem o entendimento sobre as regras para lidar com as crianças, evitando sentimentos de substituição ou desautorização. Os avós não podem contestar a autoridade dos pais, nem contrariar as suas práticas parentais, correndo o risco de se gerar uma grande confusão sobre as regras nas crianças.

Por outro lado, os pais também não devem desrespeitar o tempo, o espaço e os costumes dos avós, exigindo que estes abdiquem das suas identidades para conviverem com as crianças.

Independentemente da estrutura de cada agregado familiar, o apoio dos avós é sempre uma mais-valia pela partilha de experiências e conhecimentos, disponibilidade de tempo e capacidade de tolerância.

Quem de nós já se esqueceu do colo de uma avó ou de conselho de um avô?
Sofia Almeida

quarta-feira, 17 de julho de 2013

MARCOS




 

Nos nossos percursos de vida, em todas as idades e nas situações mais inesperadas, vamos sendo marcados por pessoas ou acontecimentos que nos surgem normalmente de forma inesperada, seja num momento particular, em determinadas alturas ou ao longo da vida.
Um gesto, uma partilha, uma palavra, ou um simples sorriso podem deixar-nos marcas profundas.

Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, o termo “marco” poderá significar “traço ou sinal de demarcação; baliza; aquilo que marca uma época ou uma data; facto decisivo; ponto de referência; fronteira; limite”.

Normalmente, os primeiros marcos são os nossos pais e avós através dos “encontros” precoces que estabelecemos na nossa infância, especialmente quando se trata de cuidadores suficientemente intuitivos para nos adivinharem, fazendo sentir-nos amparados, seguros, protegidos.

Mas, quando surgem em encontros casuais, apesar de desconhecidos, ambos os intervenientes têm a sensação mútua de grande familiaridade, de que se conhecem há muitos anos, e sentem grande sintonia, e, portanto, com intimidade suficiente para se observarem mais demoradamente e partilharem idiossincrasias sem receios, nem reservas.

Estes marcos poderão ser transitórios, mas são sempre muito intensos e apresentam grandes oportunidades de aprendizagem e transformação. Surgem através de um sentimento de proximidade natural que nasce sem esforço, com confiança e espontaneidade de alguém de quem gostamos, nos identificamos inteiramente, e que está em “comunhão” connosco, inspirando-nos e motivando-nos a alcançarmos os nossos ideais.

Nem sempre tomamos consciência da importância destes marcos no momento em que ocorrem por estarmos tão autocentrados. Só mais tarde, num determinado momento, nos apercebemos da importância que assumiram nas nossas vidas, traduzindo-se na mudança de atitudes ou mesmo na filosofia de vida.

Muitas vezes são encontros com magia própria que ocorrem por intuição e sensibilidade mútua, destroem automaticamente preconceitos, têm um imenso poder curativo e imprimem um novo sentido às nossas vidas.

 
Sofia Almeida

segunda-feira, 8 de julho de 2013

NOVAS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS





Estudos científicos recentes realizados na população portuguesa indicam que o perfil do consumidor de substâncias psicoativas tem vindo a mudar nos últimos anos.

A globalização e a internet serão responsáveis pela reconfiguração dos mercados europeus de droga, quer ao nível da mudança dos padrões de consumo, quer ao nível do aparecimento das novas rotas de tráfico.

Vivemos numa sociedade do prazer imediato e da fraca tolerância à frustração (Queremos “Tudo!” e “Já!”), e esta atitude poderá estar na base de determinados comportamentos aditivos. Os jovens experimentam substâncias psicoativas cada vez mais cedo, e, estando mais informados sobre as caracteristicas das substâncias psicoativas, selecionam-nas em função do tipo de efeitos que desejam ter.

Na base desta seleção está muitas vezes o mito da diferenciação entre drogas duras e drogas leves, que nos é verbalizado com bastante frequência na CDT. Ora, é importante clarificar que todas as substâncias psicoativas provocam alterações ao nosso Sistema Nervoso Central e mais tarde ou mais cedo trarão consequências a vários níveis (psicológicas, físicas, sociais, familiares ou legais).

Nenhuma substância é inofensiva, algumas são até bastante insidiosas, pois começam a ser consumidas por brincadeira, em grupo, por curiosidade, e só mais tarde neste percurso de utilização, é que os sintomas se vão percebendo, quando muitas vezes a dependência já está instalada.

Toxicodependentes não são apenas os heroínodependentes, mas todos aqueles em que as suas vidas são geridas em função do consumo de determinadas substâncias tóxicas.

Temos vindo a verificar um crescente protagonismo dos jovens nas sociedades modernas e os estímulos do mercado de consumo estão atentos a esta realidade, expondo-os a novas substâncias psicoativas e a comportamentos aditivos.

A proliferação de novas substâncias psicoativas (smartdrugs) tornou-se num fenómeno europeu alarmante, amplamente noticiado e de clara ameaça à saúde pública, pelo que, em 18 de abril do corrente ano entrou em vigor em Portugal a Lei das Novas Substâncias Psicoativas (Dec. Lei 54/2013 de 17 de abril) que proíbe o fabrico, a comercialização, a publicidade e o consumo de 159 novas substâncias psicoativas.

São consideradas como novas substâncias psicoativas aquelas substâncias que não sendo especificamente enquadradas e controladas ao abrigo de legislação própria, em estado puro ou numa preparação, podem constituir uma ameaça para a saúde pública, com perigo para a vida ou para a saúde e integridade física.

São considerados alguns dos seguintes efeitos no Sistema Nervoso Central: indução de alterações significativas duradouras e até mesmo permanentes ao nível da função motora, bem como das funções mentais (Raciocínio; Juízo crítico; comportamento; estados delírio; Alucinações; Extrema euforia; dependência).

Os dados preliminares do III Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoativas na População Geral – Portugal 2012 revelam que em Portugal, o consumo de drogas, álcool e tabaco diminuiu em 2012 face a 2007, contudo, estamos ainda com níveis de tabagismo demasiado elevados (28.9% portugueses consumiram tabaco em 2012). Este estudo, que se baseia em três inquéritos de 2001, 2007 e 2012 revela que os portugueses fumam hoje ligeiramente menos do que em 2007, mas bastante mais relativamente ao ano de 2001 (No estudo de 2012, a prevalência do consumo de tabaco ao longo da vida é de 47%; em 2007 é de 48,9%; e em 2001 é de 40,2%).

Sofia Almeida


 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

DESCRIMINALIZAÇÃO DO CONSUMO DE DROGAS





Em Portugal, no dia 1de julho de 2001 entrou em vigor a Lei da Descriminalização do consumo de drogas (Lei 30/2000 de 29/11). Isto significa que o consumo de drogas, bem como a sua posse em quantidades reduzidas e ainda a aquisição para consumo próprio, deixaram de ser considerados crime, mas continuam a ser ilegais e punidos por Lei.

Esta medida inovadora tem sido um caso de estudo internacional, mesmo pelos estados com políticas tradicionalmente mais repressivas e resultou da Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga aprovada em 1999 como medida de política pública de combate ao uso de substâncias estupefacientes e promoção da saúde pública.

O espírito da Lei promove a visão que a toxicodependência é uma doença e como tal deve ser tratada e não punida com penas de prisão.

 A Descriminalização é operacionalizada pelas Comissões para a Dissuasão da Toxicodependência, que estão sediadas em cada capital de distrito, com competência deliberativas de âmbito distrital.

Na prática sempre que alguém for abordado pela polícia ou sinalizado pelo tribunal pela posse, consumo ou aquisição de droga em quantidades previstas para consumo, será notificado para comparecer na CDT territorialmente competente.

Na CDT e após o acolhimento pelos Assistentes Técnicos, os Membros (um Presidente e dois Vogais) e Técnicos Superiores realizam a audição do indiciado (indivíduo), confirmando-se os factos da ocorrência e avaliando-se a sua situação psicossocial, para que o mesmo seja classificado quanto ao tipo de consumidor (recreativo/dependente). Dependendo desta avaliação, a CDT delibera em conformidade, podendo aplicar medidas de suspensão dos processos ou sanções.

As sanções são, por exemplo: coimas, apresentações periódicas, trabalho gratuito a favor da comunidade, admoestações, e várias proibições: ausentar-se do país; frequentar determinados locais; gerir determinados subsídios; acompanhar ou receber determinadas pessoas; exercer determinadas profissões.

No caso de um indivíduo ser avaliado como dependente, devem ser encetados todas as diligências no sentido do seu encaminhamento para estruturas de saúde, sociais, ou outras que se revelem significativas no seu tratamento com vista a uma reabilitação e reinserção social.

Também os consumidores de substâncias estupefacientes que se encontrem em sérios riscos de desenvolverem uma dependência são encaminhados para serviços de acompanhamento psicológico.

Assim, para além das deliberações no âmbito do processamento contraordenacional (vertente jurídica) a CDT procura trabalhar em rede com todas as instituições públicas e privadas dos respetivos distritos que direta ou indiretamente estejam implicadas na problemática das drogas e toxicodependências. Por um lado, as forças policiais e judiciais que identificam os consumidores e os encaminham para as CDT; e, por outro lado, serviços de saúde, sociais, e de reinserção profissional, para onde são encaminhados os utentes com necessidades sinalizadas.

A descriminalização das drogas, sendo acompanhada por outras políticas de saúde pública, estratégias de redução de riscos e de minimização de danos, prevê a queda do consumo de substâncias e aumento da saúde pública sobre os consumidores e a sociedade em geral.
Sofia Almeida

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sexta-feira, 17 de maio de 2013

TREINE A SUA FELICIDADE PELA FELICIDADE DOS SEUS FILHOS



"Pessoas com mentes treinadas poderão fazer nascer crianças mais propensas a serem felizes"
Há dias li uma entrevista a Matthieu Ricard sobre a felicidade e a meditação, cujos argumentos, valem a pena partilhar, pois, estou convencida, que podem ajudá-lo a melhorar algumas atitudes e comportamentos.
Matthieu Ricard, doutorou-se em genética molecular, mas trocou Paris pelos Himalaias há quase trinta anos, tendo-se tornado num monge budista. É autor de vários livros, nomeadamente “O Monge e o filósofo” (Edições ASA) e “O infinito na palma da mão” (Edições Notícias).
Este monge garante-nos que a felicidade é uma questão de treino. É uma habilidade, uma forma de ser, e pode ser cultivada. Basta querer. Explica-nos que se não somos particularmente felizes, temos de aprender a cultivar essa forma de ser, eliminando as toxinas mentais, como o ódio, a obsessão, o ciúme, a arrogância, o orgulho e desejo e cultivar gradualmente as qualidades positivas que integram a felicidade, como o altruísmo, o amor, a compaixão ou a criatividade. Aos poucos, alguns desses venenos mais grosseiros começam a esbater-se e o resultado é uma espécie de liberdade grande ou felicidade. Cada uma destas qualidades contribui para um sentimento de florescimento e bem-estar.
Segundo Matthieu Ricard, é, pois, importante estarmos conscientes das nossas emoções e possuirmos determinados métodos para lidarmos com elas. Por exemplo, no que respeita à ansiedade, primeiro devemos tomar consciência o quanto esta é inútil e depois, perceber que se deixar a ansiedade encher a minha mente vou ficar num estado miserável. Ao tornarmos a mente mais consciente desta ansiedade, esta vai perdendo a força, porque a deixamos de a alimentar. Não a bloqueámos, deixamos só que se desvanecesse. Quando ficamos familiarizados com este processo, as emoções continuam a aparecer, mas com menos força, e gradualmente levaremos menos tempo a dissolvê-la.
Segundo o Monge, o nosso controlo das circunstâncias exteriores é mínimo e no fim estamos sempre à mercê das nossas mentes, pelo que, quando temos condições interiores para o bem-estar, os ganhos, as perdas, prazer e dor, sucessos e falhanços perdem a relevância. Ou seja, será fantástico se as coisas correrem bem, mas não é um drama se correrem mal.
Conclui então que a felicidade existe independentemente do sofrimento ou dos prazeres passageiros. Quanto mais nos confrontamos com os altos e baixos da vida, mais a reforçamos, porque ficamos menos vulneráveis às circunstâncias exteriores.
É certo que tendemos a resistir à mudança, mas existe sempre um potencial para a mudança e um dos fatores determinantes para Matthieu é a inspiração. Há predisposições biológicas para a felicidade ou infelicidade, que, numa pequena percentagem podem ser genéticas. Mas, no essencial, devemos perceber que é sempre possível cultivar condições que nos ajudem a sermos melhores. Se temos uma razão para mudar, é mais fácil.
Pelo contrário, o maior perigo é desistir. A primeira coisa a fazer é reconhecer o potencial de mudar. Depois precisamos de algum interesse e este só aparece se virmos um benefício. Devemos, pois, cultivar a nossa vida de emoções positivas. Por exemplo, se a raiva é o meu principal problema, então devemos cultivar a benevolência, enchendo-nos com este sentimento. Talvez este se torne mais forte e neutralize a raiva, porque as duas emoções são incompatíveis.
"O que há a fazer é aumentar o tempo em que nos concentramos em emoções positivas, e isso é uma questão de treino"
Um filósofo suíço chamado Alexandre Jollien defende que a meditação tem efeitos sobre o sofrimento físico e também mental.  Defende também que a depressão é um campo onde a meditação pode ser poderosa. Reconhece que é difícil começar a meditar quando se está no pico da depressão porque não se tem vontade, mas nas pessoas que já tiveram pelo menos dois episódios, os progressos de meditação baseada na atenção plena reduziram em 40% o risco de recaída.
Alerta-nos ainda para o facto de que inicialmente a meditação pode não ser divertida, mas reitera que se deixamos de meditar, os efeitos perduram igualmente porque mudamos a nossa maneira de ser. Devemo-nos consciencializar que a determinação em fazer algo para acabar com o sofrimento faz parte da nossa felicidade. Para a felicidade é muito pior fazer mal aos outros do que nos fazerem mal a nós. Não quer dizer que temos que ser passivos se nos agredirem, mas se não pudermos evitar, só temos que lidar com isso. No fundo a felicidade é usar todas as circunstâncias de forma construtiva.
Ser infeliz é uma escolha a longo prazo. Se algo acontece e não estamos treinados para lidar com isso, não temos escolha se não ficarmos angustiados. Podemos a longo prazo, aprender a lidar com isso. A escolha que temos é começar um processo de mudança, uma cultura de meditação pode criar gerações mais felizes na medida em que a cultura e educação têm uma influência determinante na forma como o cérebro das crianças se começa a moldar.
Um estudo de Michael T. Kasser mediu os níveis de consumismo de centenas de pessoas por 20 anos e concluiu que quanto mais alto é, menos felizes somos. O consumismo gera a procura dos prazeres imediatos, o que não nos traz felicidade e na nossa sociedade atual até as crianças são inundadas de anúncios proporcionando-lhes um começo tortuoso para a conquista da sua felicidade.

Sofia ALMEIDA