“As dependências e as codependências são
dois comportamentos numa mesma perturbação”
As
dependências não provocam danos apenas ao indivíduo consumidor, mas a todos
(enquanto grupo), a cada um dos elementos do sistema familiar, a amigos, a colegas
de trabalho e a outros sistemas sociais envolventes.
Segundo a
Psicóloga da Associação AARIF de Illescas, Cristina Prados, num artigo
recentemente publicado, numa “família adicta” o problema da dependência é
mantido por todos os elementos do sistema familiar, que se predispõem a ajudar
o dependente, prolongando a doença ou por falta de aceitação desta, ou em
alguns casos, na negação da situação, defendendo-se da sua realidade,
desenvolvendo tolerância e adaptação a um sofrimento crónico que apenas lhes
trás tristeza, rancor, desorientação e profunda solidão.
Nas famílias
codependentes encontramos com frequência a superproteção, a fusão, a
incapacidade de resolver conflitos, a rigidez, a falta de intimidade e
comunicações disfuncionais. As regras familiares tornam-se confusas e o
desempenho dos papéis vai-se distorcendo à medida que o processo de dependência
se desenvolve.
Um
codependente é um indivíduo cuja vida gira em redor do dependente (interesses,
atenção, energia e preocupações), gerando-lhe sofrimento. Mantém sentimentos de
medo, tristeza, ódio, ressentimentos e inseguranças. Não sabe onde acaba e
começa a sua individualidade e com frequência acha-se responsável pelas ações,
pensamentos e sentimentos do outro, procurando desculpas recorrentes para o seu
comportamento, procurando controlá-lo compulsivamente em busca de uma sensação
de maior segurança.
Dependentes
e codependentes têm características idênticas de negação, obsessão, compulsão e
perda de controlo, apesar de considerarem que têm as suas vidas controladas. Vivem
ambos uma ambivalência contínua na culpa de si mesmo sobre o comportamento do
outro e na culpa do comportamento do outro sobre si mesmo.
Normalmente
os sentimentos de lealdade familiar sobrepõem-se nestas situações e é com
frequência que verificamos a existência do papel da mulher cuidadora que se
sacrifica pelos seus, como uma missão pessoal, procurando alguma aprovação e
reconhecimento familiar e social por esse mesmo sacrifício, escondendo muitas
vezes os seus sentimentos de cansaço, culpa, vergonha e isolamento social,
mantendo desta forma, uma situação de negação insustentada.
Romper com a
codependência é um processo longo e duro, mas possível, aprendendo novos
comportamentos com as premissas de base de que “cada um é responsável pelos
seus próprios comportamentos” e “cada um tem de cuidar de si mesmo”, pelo que,
o trabalho psicoterapêutico individual e/ou coletivo passa primeiro por
reconhecer a impotência sobre o comportamento aditivo do outro; identificar e
reconhecer os sentimentos vividos decorrentes do problema da dependência e
focar-se nas suas próprias necessidades e desejos.
27/07/2018
Sofia Almeida