terça-feira, 31 de julho de 2018

TRIANGULAÇÃO FAMILIAR NAS DEPENDÊNCIAS




Nas dependências, verifica-se muitas vezes a passagem de uma relação diádica instável do casal para uma outra triádica mais estável, em que o toxicodependente faz a triangulação.

Amaral Dias refere que habitualmente quando a relação entre os pais é conflituosa, com várias ameaças de separação, o toxicodependente chama a atenção para si próprio, através de um “agido”, após o qual a dinâmica familiar se centra, funcionando o seu comportamento como uma ajuda à manutenção do equilíbrio homeostático familiar.

Muitas vezes existem alianças patológicas (claramente fusionais), entre os toxicodependentes e um dos elementos do subsistema parental (normalmente as mães), chegando em alguns casos a estabelecerem relações quase de tipo incestuoso.

As fronteiras acabam por ser muito difusas entre o subsistema parental e filial, o que aliados à falta de diálogo entre o casal ou a comunicações ambíguas, resulta em graves conflitos conjugais, que estão muitas vezes escondidos ou abafados durante muito tempo.

Segundo Gameiro estas famílias apresentam taxas de separação e divórcio superiores à da população em geral.
           

Sofia Almeida
31/07/2018

GRUPOS DE AJUDA





Compartilhar situações e problemas com os seus iguais é um ato terapêutico

Cristina Prados, Psicóloga da Associação AARIF de Illescas e Coordenadora do Comité Acessor Técnico de CAARFE, refere que os grupos de ajuda são uma forma específica de redes sociais que geram uma tal quantidade de energia que são capazes de remodelar a sociedade, oferecendo apoio emocional e intelectual, numa espécie de “lugar invisível”.

Refere ainda que nos grupos de auto-ajuda trabalham-se angústias psíquicas e orgânicas através da contenção emocional do grupo aos seus membros, que se ajudam uns aos outros a adquirem a força do grupo como uma unidade.

Estes grupos oferecem apoio e enriquecimento mútuo, fortalecimento dos indivíduos e ajudam nas suas transformações. Neles, procura-se compreender melhor as situações, trocar conhecimentos e experiências, para que os seus elementos possam recuperar de situações ou perturbações psicológicas, ou, pelo menos evitar o seu agravamento, reduzindo desta forma as respetivas consequências.


Sofia Almeida
31/07/2018

segunda-feira, 30 de julho de 2018

PATOLOGIA DO FILHO IMAGINADO


           


Diz Domingos Neto que uma das patologias do toxicodependente é o da criança imaginada pelos pais, ainda antes de ter nascido. Esta criança imaginada é o protótipo psíquico da criança que está para vir ao mundo e em quem os pais vão projetar todos os seus conceitos, projetos e ideias pré-concebidas.
Esta patologia é muitas vezes inconsciente, daí que seja difícil diagnosticá-la, fazê-la ver pelos pais e levá-los a mudar. É tanto mais difícil de erradicar quanto se baseia nos próprios problemas neuróticos e dificuldades psíquicas dos pais, tantas vezes inconscientes, difíceis de reconhecer e tratar.
Sofia Almeida
30/07/2018

O VALOR DA DROGA



O valor da droga pode ser comunicacional e/ou desenvolvimental

Segundo Relvas, “o valor da Droga” pode ser comunicacional e/ou desenvolvimental. O valor comunicacional pode ser descrito em três níveis: um nível semântico, relativo ao significado do comportamento aditivo para cada um dos membros da família; um nível sintático, em que se expressam as regras específicas da interação familiar (o que é ou não aceite), e um nível pragmático, que é correspondente ao resultado evidente da conduta toxicómana.

O valor desenvolvimental surge quando pensamos na adolescência associada ao comportamento do toxicodependente, principalmente, por ser nesta altura em que tal comportamento pode evitar que quer a família quer o adolescente, assumam determinadas tarefas desenvolvimentais específicas das idades que têm e, naturalmente, da fase do ciclo de vida que atravessam, nomeadamente, na adolescência, em que o “jovem não se torna uma pessoa autónoma, não abandona o lar e os seus pais não deixam de assumir as suas funções e deveres parentais.

Para Amaral Dias, o sintoma em si, na sua essência, é indicador da forma como o sistema familiar regula os seus conflitos internos: “O sintoma funciona como uma resolução paradoxal do conflito, encerrando em si o partir e o ficar”, que Stanton designou por pseudo-individuação.

Urbano, defende que as dependências revestem-se em muitos casos de determinados ganhos secundários nas famílias, sobretudo aos servir de objeto transitivo, permitindo a mediação entre a dependência infantil e a autonomia adulta.

A toxicodependência pode também traduzir a existência de uma conduta de sacrifício pelo jovem desempenhada. Eles próprios designam-se como vítimas expiatórias contra quem estaria a sociedade em geral.
Sofia Almeida
30/07/2018

sexta-feira, 27 de julho de 2018

FILHOS DAS DEPENDÊNCIAS




Numa família em que os progenitores apresentam problemas de dependência, os filhos adotam consciente e/ou inconscientemente comportamentos de sobrevivência à crise familiar

Segundo a Psicóloga Cristina Prados, verifica-se com frequência o desempenho de papéis diferentes entre os filhos do mesmo sistema familiar, normalmente associados ao respetivo lugar na fratria, respetivamente, o papel de “herói”, o de “ovelha negra”, o da “criança esquecida” e o de “mascote”.

O papel de herói cabe normalmente ao filho mais velho. É o mais responsável, protetor e conciliador, que se comporta como um segundo pai ou segunda mãe dos irmãos, e que procura receber a aprovação dos outros, especialmente a dos adultos.

O papel do segundo filho é o de “Ovelha negra” que usa o seu comportamento problemático para desafiar as normas da família e da escola, procurando desviar a atenção da dependência do progenitor para si mesmo, como se este fosse o verdadeiro problema da família.

Outro papel é o da criança esquecida que permanece invisível aos olhos da família, sem dar problemas, nem chamar a atenção para si mesmo, a não ser servir de consolo do progenitor não dependente. Este filho adapta-se constantemente às mudanças e necessidades familiares.

O papel desempenhado normalmente por um filho mais novo é o de “palhaço”, o qual usa o seu bom humor e encanto para distrair as atenções das tensões geradas em família e muitas vezes para enfrentar a dor e mascarar os seus medos e inseguranças.

A Psicóloga Cristina Prados refere que existem consequências desadaptativas, algumas específicas para o desempenho de cada um destes papéis, outras mais generalistas, tais como: fragilidades emocionais, comportamentos aditivos, bloqueios emocionais, dificuldades relacionais, problemas psicossomáticos, baixa autoestima, comportamentos antissociais, stresse e ansiedade.

Sofia Almeida
27/07/2018

CODEPENDÊNCIA FAMILIAR





“As dependências e as codependências são dois comportamentos numa mesma perturbação”

As dependências não provocam danos apenas ao indivíduo consumidor, mas a todos (enquanto grupo), a cada um dos elementos do sistema familiar, a amigos, a colegas de trabalho e a outros sistemas sociais envolventes.

Segundo a Psicóloga da Associação AARIF de Illescas, Cristina Prados, num artigo recentemente publicado, numa “família adicta” o problema da dependência é mantido por todos os elementos do sistema familiar, que se predispõem a ajudar o dependente, prolongando a doença ou por falta de aceitação desta, ou em alguns casos, na negação da situação, defendendo-se da sua realidade, desenvolvendo tolerância e adaptação a um sofrimento crónico que apenas lhes trás tristeza, rancor, desorientação e profunda solidão.

Nas famílias codependentes encontramos com frequência a superproteção, a fusão, a incapacidade de resolver conflitos, a rigidez, a falta de intimidade e comunicações disfuncionais. As regras familiares tornam-se confusas e o desempenho dos papéis vai-se distorcendo à medida que o processo de dependência se desenvolve.

Um codependente é um indivíduo cuja vida gira em redor do dependente (interesses, atenção, energia e preocupações), gerando-lhe sofrimento. Mantém sentimentos de medo, tristeza, ódio, ressentimentos e inseguranças. Não sabe onde acaba e começa a sua individualidade e com frequência acha-se responsável pelas ações, pensamentos e sentimentos do outro, procurando desculpas recorrentes para o seu comportamento, procurando controlá-lo compulsivamente em busca de uma sensação de maior segurança.

Dependentes e codependentes têm características idênticas de negação, obsessão, compulsão e perda de controlo, apesar de considerarem que têm as suas vidas controladas. Vivem ambos uma ambivalência contínua na culpa de si mesmo sobre o comportamento do outro e na culpa do comportamento do outro sobre si mesmo.

Normalmente os sentimentos de lealdade familiar sobrepõem-se nestas situações e é com frequência que verificamos a existência do papel da mulher cuidadora que se sacrifica pelos seus, como uma missão pessoal, procurando alguma aprovação e reconhecimento familiar e social por esse mesmo sacrifício, escondendo muitas vezes os seus sentimentos de cansaço, culpa, vergonha e isolamento social, mantendo desta forma, uma situação de negação insustentada.

Romper com a codependência é um processo longo e duro, mas possível, aprendendo novos comportamentos com as premissas de base de que “cada um é responsável pelos seus próprios comportamentos” e “cada um tem de cuidar de si mesmo”, pelo que, o trabalho psicoterapêutico individual e/ou coletivo passa primeiro por reconhecer a impotência sobre o comportamento aditivo do outro; identificar e reconhecer os sentimentos vividos decorrentes do problema da dependência e focar-se nas suas próprias necessidades e desejos.
27/07/2018
Sofia Almeida

quinta-feira, 26 de julho de 2018

FAMÍLIAS: LAÇOS DE SANGUE E/OU LAÇOS DE TERNURA




O núcleo familiar é cada vez menos definido apenas pelos laços de sangue, mas também pelos laços de ternura desenvolvidos com a proximidade afetiva nas relações familiares

A evolução da sociedade impõe mudanças aos sistemas familiares e as novas formas de famílias determinam novos modelos de sociedade.

Transitamos para novos conceitos de família e para diferentes sistemas familiares, em que as novas gerações estão a ser formadas segundo padrões diferentes dos que nortearam o crescimento dos seus pais.

O casamento está a deixar de ser o ato fundador no início da vida adulta e está a passar a ser uma decisão de união para mais tarde, após o início de uma carreira profissional, em que a liberdade individual e a gratificação das relações está acima da formalidade da união, porque o que importa, é sermos felizes.

Cada vez mais, celibatários héteros e homossexuais procuram ter filhos sem parceiros do sexo oposto e decidem lançarem-se a sós na parentalidade, recorrendo à adoção, à inseminação artificial ou a empresas especializadas em maternidade de substituição, conhecidas como “barrigas de aluguer”, procurando desta forma evitar relações desgastantes, riscos nos negócios pessoais ou guerras intermináveis de direitos de custódias dos filhos.

As tecnologias de informação têm ajudado a revolucionar as possibilidades de constituir novas formas de família, nomeadamente a minorias sexuais, ajudando a ultrapassar as dificuldades em estabelecer relacionamentos mais estáveis e duradouros numa espécie de casamentos amigáveis, de afetos securizantes.

Sofia Almeida
26/07/2018