Conhecer
como é que as relações interpessoais afetam quem somos e em quem nos tornamos,
afigura-se como tema central no estudo do desenvolvimento humano. O papel
desempenhado pelo ambiente no desenvolvimento do indivíduo, nomeadamente o ambiente
relacional, é considerado pelos atuais modelos transacionais de
desenvolvimento, conjuntamente com o sistema biológico, como o seu mais
importante sistema regulador.
O interesse
pelo estudo da vinculação é relativamente recente. As primeiras investigações
foram realizadas por Bowlby em crianças, nos anos trinta do século passado. Nestas
investigações procurava-se avaliar a organização comportamental da vinculação
na primeira infância, resultando na Teoria da Vinculação, podendo esta ser
considerada como uma teoria global do desenvolvimento socio-emocional, como
refere Canavarro.
Como
médico, Bowlby trabalhou com crianças inadaptadas, as quais lhe suscitaram o
interesse em estudar os problemas da privação dos cuidados maternos no
posterior desenvolvimento do indivíduo e respetivos comportamentos,
contribuindo de forma preciosa e pioneira, para a compreensão da formação,
manutenção e perturbações dos laços afetivos que podiam explicar algumas das
perturbações (nomeadamente distúrbios de personalidade e até mesmo
psiquiátricos) que o autor observava em pacientes adultos. Efetivamente, nas
observações que vai fazendo, constata que alguns dos comportamentos de crianças
privadas de cuidados maternos se assemelhavam aos observados nos seus pacientes
em psicoterapias sujeitos a separações precoces.
Assim,
segundo a Teoria de Vinculação de Bowlby as primeiras interações da criança com
a figura de vinculação são o pilar que vai permitir as relações afetivas no
futuro e a representação da relação com os outros, estabelecendo o padrão de
vinculação que se manterá estável, e que, deste modo, como refere Canavarro
“será indiretamente responsável pela saúde mental na idade adulta”.
Foi só nos
anos oitenta que a investigação sobre este tema se estendeu a outros períodos do desenvolvimento humano, preocupando-se com
a representação da linguagem relacionada com a vinculação. Assim tornou-se
possível o estudo na adolescência e na idade adulta, começando a aparecer
vários estudos que procuravam analisar a associação entre a vinculação e outras
dimensões do adolescente e do jovem. Os trabalhos sobre vinculação têm vindo a
aumentar numa série de áreas, incluindo espécies não humanas, em diferentes
culturas e em vários estádios do ciclo vital.
O termo vinculação,
do latim vinculum ou vinclum, significa “laço, atadura, e
pode dar lugar ainda a grilhões, cadeias, prisões”( Barros, Braga e Dantas). Vínculo,
do latim vinculu, significa “tudo o
que serve para prender ou atar; atilho; laço; nó; liame; vencilho; relação;
bens vinculados; morgadio; ligação moral ou parentesco; o
casamento.”(Dicionário da Língua Portuguesa, 8ª Edição, Porto Editora). Vincular,
significa “atar; ligar; prender por meio de vínculos; sujeitar; obrigar;
prender moralmente; ligar-se; arreigar-se; perpetuar-se; firmar; segurar ou
obter a posse; emprazar; referente a vínculo.” (Dicionário da Língua
Portuguesa, 8ª Edição, Porto Editora).
Bowlby,
utilizou o termo vinculação para designar qualquer comportamento que tem como
objetivo a manutenção da proximidade da criança com a figura de vinculação.
Esta particular situação variará de acordo com determinados fatores emocionais
inerentes à criança, ao meio onde tudo se processa e ao comportamento da figura
que cuida. Assim, a vinculação corresponde ao modo pelo qual o sistema
comportamental se organiza em relação a uma figura específica, figura essa, em
que a criança procurará proximidade e contacto, sendo o comportamento um modo,
um atributo à figura vinculada, persistente e não afetado por situações
momentâneas; sendo estabelecido, tende a perdurar no tempo e no espaço.
A função do
comportamento de vinculação é a proteção do perigo, o conteúdo da relação está
centrado na regulação da segurança, ou seja, a manutenção da relação é experienciada
como fonte de segurança (proteção contra o perigo) e satisfação; caso esta seja
ameaçada, observa-se o ciúme, ansiedade e raiva; se ocorrer rutura, há dor ou
mesmo depressão. Demonstra assim, que a
acessibilidade das figuras parentais é o único meio capaz de produzir sentimentos
de segurança na criança.
Bowlby
enfatiza a importância da carga emocional inerente a esta relação, pois
considera que é durante a formação, manutenção e rutura da relação de
vinculação, que a maior parte das emoções mais intensas eclodem. Posteriormente
alargou o conceito a todo o ciclo de vida, apesar dos seus trabalhos se
centrarem, essencialmente na infância e na adolescência.
Bretherton,
refere-nos que existe uma figura (vinculada) que procurará proteção, e uma
figura (de vinculação) como sendo mais forte e mais capaz para se confrontar
com o mundo, que facultará segurança, conforto ou ajuda.
Ainsworth,
diz que a componente responsável pela evolução da vinculação é a prestação de
cuidados que está, por sua vez, relacionada com a função de proteção; ou seja,
a relação de vinculação desenvolve-se na interação destes sistemas: o da
criança, que procura cuidados e atenção que lhe proporcionem a satisfação das
suas necessidades de proteção e segurança e a do adulto, capaz e disponível
para dar resposta às solicitações, materializadas na prestação de cuidados.
Afirma também que o sistema de vinculação é um entre outros, de base biológica
e característico da espécie.
“Ainsworth,
Blehar, Waters e wall sublinharam que o que realiza a vinculação é o
comportamento que promove a proximidade ou o contacto com uma ou mais figuras
específicas a que o indivíduo está vinculado.”
Vinculação,
é para Figueiredo, “um conjunto de comportamentos que têm como principal objetivo
manter a proximidade com pessoa ou pessoas específicas às quais se está ligado
por sentimentos afetuosos, num sentido muito geral.”
Vinculação,
segundo Madalena Alarcão “Relação privilegiada com uma figura particular que
confere segurança e proteção através dos cuidados que a mesma proporciona. Esta
relação é interativa, desenvolvendo-se numa relação complementar entre os dois
parceiros: um que solicita cuidados e atenções que lhe garantam a satisfação
das suas necessidades de segurança e proteção e outro que tem que ser
responsivo, i.é, ser capaz de compreender e responder adequadamente às
solicitações recebidas através da prestação de cuidados. Se a figura de
vinculação realizar regularmente este papel, a figura vinculada pode
desenvolver uma confiança básica que lhe proporcionará um sentimento de
segurança necessário ao desenvolvimento da atividade de exploração do mundo
envolvente. De acordo com as características desta relação vinculativa a
criança interiorizará um modelo particular de vinculação relativamente estável
durante toda a vida. De acordo com a investigação realizada, distinguem-se três
grandes modelos de vinculação: a vinculação segura..., vinculação insegura...(
tipo inseguro-evitante e inseguro-ambivalente) ..., e um último tipo, designado
como desorganizado/desorientado...”
“Lerner e
Rytt, cit. por Bretherton, realizaram uma revisão sobre definições de
vinculação, comentando que “definir vinculação é como operacionalizar um ideal
platónico. Essa dificuldade pode ser ilustrada com as distinções encontradas na
literatura entre vinculação e dependência, afiliação, relações objetais e
comportamentos de vinculação. A maior controvérsia em torno da delimitação de
fronteiras do conceito de vinculação foi o paralelismo feito por alguns autores
com o conceito de dependência e comportamentos de vinculação.
Bowlby
refere-nos a propósito, que o conceito de vinculação deve ser distinguido do
conceito de dependência e explica-nos através do conceito de sistema
comportamental, dizendo que os comportamentos mais simples vão sendo
organizados em sistemas mais complexos, já que as condições de ativação e desativação
do comportamento de vinculação não são sempre as mesmas ao longo do ciclo de
vida do indivíduo, podendo diminuir e até mesmo ser representado através de
meios sofisticados de comunicação, nomeadamente, telefonemas, cartas, fotos,
etc.
Barros et
al. dizem que “a vinculação contém em si um sentimento de pertença e está
associada ao ímpeto da separação. O sentimento de pertença está em oposição à
afirmação de autonomização tornando-se numa luta de inconciliáveis
contradições, que está subjacente a todo o tipo de vinculações e desvinculações
pelas quais passamos ao longo da vida”. Em resposta a esta assimilação, Rutter
apoiado por outros autores, referiu que na relação de vinculação, a ênfase é
colocada na promoção de segurança que permite encorajar a independência. A
vinculação não é uma forma imatura de dependência, a ultrapassar, mas uma
plataforma que permite o funcionamento autónomo.”
Como refere
Ainsworth, a Teoria de vinculação defende a ideia de que todos os seres humanos
nascem munidos de um sistema de vinculação que lhes permite procurar a proximidade
de uma figura que lhes forneça proteção e uma base de segurança (base segura),
a partir da qual possam explorar o meio”. É a função de proteção do sistema de
vinculação que torna possível a promoção da aprendizagem e o contacto com o
ambiente, pois a exploração de novos estímulos só ocorre quando a
acessibilidade da figura de vinculação está garantida.
Bowlby diz
que as relações de vinculação influenciam decisivamente o modo como a criança
vê o seu meio. A criança que não teme o abandono da figura de vinculação, vê o
mundo de forma não ameaçadora e por isso pode ter uma interação mais ajustada
do que aquela em que prevalece o receio de abandono, tornando qualquer
atividade interativa, uma fonte de potencial de ansiedade e de perturbação
emocional, dificultando todo o processo de desenvolvimento psicológico. Assim,
na perspetiva da Teoria da Vinculação, muitas das alterações da personalidade
podem ser atribuídas a perturbações no desenvolvimento do comportamento de
vinculação.
Os
indivíduos que evidenciam padrões de vinculação insegura, são muitas
vezes descritos como dependentes, imaturos, ansiosos, e sob stress são capazes
de desenvolver sintomas neuróticos, depressão ou comportamentos fóbicos. Nos
indivíduos com uma vinculação ansiosa, qualquer que seja a idade, o comportamento
de vinculação é ativado frequentemente, de modo urgente, e é persistente, mesmo
sem haver aparentemente qualquer condição que o justifique. Estes indivíduos
não têm confiança sobre a acessibilidade e responsividade das suas figuras de
vinculação quando necessárias, adotando a estratégia de manter a proximidade,
numa tentativa de assegurar a sua disponibilidade. A vinculação insegura ou
ansiosa parece resultar de experiências desfavoráveis ou adversas nas situações
em que o sistema de vinculação está ativado e caracteriza-se pelo desejo de
manter os parceiros próximos, existindo hipervigilância, relativamente a aspetos
ligados à separação; a presença e disponibilidade do parceiro é percecionada
como incerta.
A vinculação
evitante, caracteriza-se por estratégias de diminuição da importância
da relação; os parceiros são percecionados como fontes indutoras de stress e
alvos de desconfiança ((Hazan & Shaver). Para Bowlby, o estabelecimento destes tipos de
vinculação pode constituir um fator de risco em termos psicopatológicos, na
medida em que pode levar os indivíduos a responder de modo adverso ao stress e
a serem mais vulneráveis a perturbações psicopatológicas.
Bowlby
defende que as características dos indivíduos com tipos de vinculação ansiosa
ou evitante, tendem a permanecer ao longo do desenvolvimento, pois os modelos
internos de vinculação que o indivíduo constrói durante a infância e a
adolescência tendem a persistir ao longo da idade adulta. Como resultado, há
uma tendência em assimilar qualquer outra pessoa com quem estabelece uma
ligação afetiva (cônjuge, filho, amigo) ao modelo das figuras de vinculação e
do self, apesar deste modelo ser inadequado.
A
vinculação segura, segundo o mesmo autor, está baseada nas experiências
repetidas nas quais o medo e a ansiedade foram avaliados de um modo adequado,
pelas intervenções da figura de vinculação, levando a criança a retomar as explorações
do meio. Outros autores (Hazan & Shaver), referem que neste tipo de
vinculação, as relações com parceiros decorrem com facilidade; estes são percecionados
como respondendo às necessidades do próprio, sempre que necessário,
proporcionando desta forma uma sensação de segurança e bem estar.
Bowlby
criou mapas cognitivos (modelos internos de vinculação), que designa por
Working Models, para explicar a representação das relações de vinculação. Estes
são constituídos por conhecimentos e expectativas sobre a figura de vinculação,
em termos da acessibilidade e responsividade; e sobre o self, em termos do seu
valor pessoal e capacidade de a afetar. Funcionam como guias que interpretam as
experiências, orientam e ajudam a monitorizar o comportamento, ativado o
sistema em situações de stress emocional (tais como experiência de medo,
mal-estar, de separação, ou de perda de alguém significativo), levando a
desencadear certas ações para obter proximidade da figura de vinculação. É a
qualidade deste fluxo de trocas emocionais entre o self e o outro significativo
nestas situações, que determina a qualidade da relação de vinculação,
tornando-a promotora de segurança, insegurança ou ainda evitante. Estes
mecanismos constituem os principais meios explicativos da saúde mental do
adulto, que resultam da interação que a criança estabelece com a mãe, sendo, em
grande parte, determinados pelo comportamento desta. Idealmente para a formação
de Working Models funcionais, a mãe deve ser sensitiva aos sinais e necessidades
da criança.
A ação
particular das “expectativas de eficácia pessoal” ou do “autoconceito”, já
havia sido referida implicitamente por Bowlby sob a designação de “Working
Model sobre si próprio”. Mais recentemente, Bartholomew e Bartholomew &
Horowitz enfatizaram o papel do conceito sobre si próprio, em que uma figura de
vinculação sensitiva e respondente não é só uma base de segurança, a partir da
qual o indivíduo pode explorar o meio, mas também um elemento capaz de produzir
a sensação de que o indivíduo é capaz de despertar cuidados por parte dos
outros, aumentando-lhe as expectativas de eficácia pessoal, que facilmente se
generalizam a outros contextos. Por outro lado, a presença de uma figura
inconsistente ou rejeitante produz a sensação de incapacidade para gerar
respostas adequadas por parte dos outros, o que acaba por se traduzir em
expectativas de ineficácia pessoal e baixo autoconceito.
Bartholomew
& Horowitz com base nos estudos feitos por Hazan e Shaver apresentam assim,
um modelo conceptual dos estilos de vinculação na idade adulta, baseados nos
dois tipos de modelos internos dinâmicos propostos por Bowlby, concebendo a
imagem do self como positiva ou negativa, bem como a imagem do outro. Da
combinação destas duas dimensões, resultariam quatro padrões de vinculação:
seguro, preocupado, evitante desligado (desligado) e o evitante com medo
(medroso). Na descrição deste modelo, o tipo seguro significa a perceção de si
mesmo como merecedor de cuidados; o padrão preocupado, é a perceção de si
próprio como não merecedor dos cuidados dos outros; o tipo evitante, é o
indivíduo com medo como não merecedor de cuidados dos outros, aliado a uma
avaliação deste com as pessoas; e o evitante desligado é o indivíduo em que a
perceção de si próprio se apresenta como não dando resposta às suas
necessidades.
Alguns
estudos (Adams & Jones; Litowsky & Dusek; Brewin et al.) que procuraram
estudar a ligação entre relações afetivas com os pais e medidas de autoconceito
de adolescentes e jovens adultos, revelaram de forma inequívoca, que os
indivíduos que percecionam os seus pais como afetuosos e capazes de fornecer
suporte, têm autoconceitos mais elevados do que aqueles que os recordam como
distantes ou rejeitantes. Foram também encontrada nestes estudos, a ideia que
níveis elevados de criticismo são característicos de indivíduos que durante a
infância, estabeleceram relações pouco satisfatórias, caracterizadas por pouco
afeto e carinho para com os progenitores.
As
estratégias de “Coping” atuariam
também como mecanismos intermediários entre relações afetivas e saúde mental. O
facto da figura de vinculação não exibir permanentemente comportamentos
adequados às necessidades do indivíduo ou ser inconsciente na emissão de
respostas adequadas, gera ansiedade no indivíduo. Num esforço de adaptação a
estas situações, tendo aprendido que essa figura é incapaz de o tranquilizar, o
indivíduo organiza respostas de evitamento e respostas ambivalentes, tentando minimizar
as incapacidades percecionadas. Esta forma de Lidar com a figura de vinculação
vai sendo progressivamente generalizada a outros contextos, acabando por se
transformar em padrões típicos de “Coping”.
Nos
desenvolvimentos da Teoria de Vinculação encontra-se referência expressa a
conceitos oriundos da Psicologia Cognitiva, verificando-se também a situação
inversa. Um exemplo da interpenetração das duas áreas é a sugestão, de que, as
distorções cognitivas na perceção de acontecimentos interpessoais são
mecanismos mediadores entre relações afetivas e saúde mental. Pessoas com
vinculação insegura, estão especialmente predispostas a interpretar
acontecimentos interpessoais indutores de stress como rejeições (Hammen et al.),
ou como mais uma evidência da sua falta de competências sociais (Sroufe &
Fleeson), podendo surgir, como resultado, sintomatologia depressiva ou outro
tipo de psicossintomatologia.
Por último,
com base em estudos que confirmam a continuidade da organização cognitiva da
vinculação ao longo do ciclo de vida (Main et al.); Grossmann & Grossmann,
e entre gerações (Benoit & Parker), alguns autores (Rosenstein &
Horowitz; Main et al, sugeriram que mecanismos de regulação do afeto, seriam as
variáveis mediadoras entre as relações de vinculação e o tipo de psicopatologia
apresentado. Rosenstein e Horowitz referiram que a “vinculação evitante é
característica das perturbações em que a ansiedade é evitada, o afeto é contido
e a expressão do comportamento disfuncional é diretamente expressa em direção
aos outros (como acontece nas perturbações do comportamento ou no distúrbio de
personalidade); a vinculação ansiosa é característica das perturbações em que
há consciência da ansiedade sentida, o afeto não é modelado e o comportamento
disfuncional é diretamente expresso em relação a si próprio (como acontece nas
depressões, perturbações mediadas pela ansiedade ou distúrbio de personalidade
histérica)”.
As
primeiras formulações de Bowlby constituem ainda, atualmente, a base dos novos
modelos que procuram ligar relações afetivas e saúde mental, ao ponto de se
tornar difícil distinguir as abordagens que podem ser consideradas como
desenvolvimentos do modelo, daquelas, que constituem perspetivas distintas.
Rutter
considera que as principais limitações do modelo original são a de não
especificar o desenvolvimento das relações e vinculação ao longo do ciclo vital
e a de formular hipóteses muito gerais sobre os mecanismos intermediários entre
as duas variáveis em causa.
Embora os
desenvolvimentos do modelo tenham procurado ultrapassar as limitações apontadas,
oferecendo neste aspeto importantes contribuições, as teses que defendem não
suscitam a mesma concordância do que as formulações originais. A proposta sobre
a intervenção dos mecanismos reguladores do afeto como variável mediadora entre
relações de vinculação e saúde mental, comporta, nomeadamente, raciocínios
circulares, de difícil comprovação empírica.
O estudo
científico da vinculação começou com a análise das diferenças individuais na
organização comportamental da vinculação nas crianças. Diferenças essas
observáveis através de um procedimento laboratorial designado por Situação
Estranha. Este procedimento consiste, numa sequência estruturada de separações
e reencontros entre o bebé e a figura de vinculação, e o seu objetivo é ativar
o sistema de vinculação e o de exploração.
Ainsworth e
os seus colaboradores, identificaram três padrões distintos de interação com
base em diferentes reações comportamentais face às figuras significativas e ao
meio circundante, que, supostamente corresponderiam a diferentes estruturas
internas de organização da vinculação, como mencionou Cicchetti et al,
estratégias organizadas pela criança para gerir a ansiedade causada pela
separação e pela reunião. Estas ter-se-ão desenvolvido a partir da
acessibilidade e responsividade nas respostas das figuras de vinculação às
solicitações de apoio, conforto e proteção da criança em contexto natural. Padrões
de comportamento de interação da criança com a mãe, avaliados na situação
Estranha de acordo com Ainsworth et al:
Padrão
A: Inseguro-Evitante: Verifica-se uma exploração independente da mãe, no início
separa-se da mãe para explorar o ambiente; baixa partilha de afetos, estabelece
relação com o estranho; verifica-se também um evitamento ativo da mãe após a
reunião, olha para o outro lado, movimenta-se noutra direção, ignora; não evita
o estranho.
Padrão B: Seguro: A mãe é uma base
de segurança para exploração do ambiente, separa-se para brincar, partilha
emoções enquanto brinca, estabelece relação com o estranho na presença da mãe;
conforta-se rapidamente após situação indutora de stress; Procura ativa de
contacto e interação após reunião; quando agitada, procura imediatamente o contacto
e este põe fim à agitação; quando não está agitada, mostra-se satisfeita por
ver a mãe e dá início à interação.
Padrão C: Inseguro-Ansioso: O
comportamento exploratório é pobre, tem dificuldade de se isolar para explorar
o ambiente, necessita sempre de contacto, mesmo antes da separação, receio de
situações e pessoas diferentes. Tem dificuldade em estabelecer contacto após a
reunião, existência simultânea de procura e resistência ao contacto, gritando,
dando pontapés ou rejeitando brinquedos; pode continuar a chorar e gritar ou
aparentar grande passividade.
Para além
dos padrões mencionados, foram identificados mais recentemente por Main e Solomon,
padrões atípicos de comportamento de vinculação, caracterizados por
comportamentos desorganizados, contraditórios, movimentos e expressões
incompletos ou indiretos, comportamento estereotipados, movimentos
assimétricos, a que designaram de Padrão D. A identificação deste quarto padrão
está relacionada com o Projeto de Desenvolvimento Social levado a cabo por
Main, Cassidy, Solomon, Weston, entre outros, na Universidade de Berkeley.
Sofia Almeida
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