Os estudos
de Main e colaboradores, nos anos de 1984/1988, marcam o início dos estudos de
vinculação na idade adulta. A análise deixa de ser sobre variáveis externas e
observáveis, e passa a ser sobre aspetos internos e representacionais da
vinculação. Tentam operacionalizar o conceito de modelos internos dinâmicos do
self e do outro, conceito este inicialmente proposto por Bowlby (estes modelos
são desenvolvidos nas interações com as figuras de vinculação ao longo da existência
e constituem importantes grelhas de leitura, sendo utilizados para prever a
disponibilidade e responsividade do outro e orientar o sujeito nas relações de
proximidade).
A formação
de ligações afetivas na idade adulta coloca a questão da continuidade e da
mudança na organização interna da vinculação no indivíduo à medida que este
começa a criar novas relações. Durante a fase inicial da existência, os modelos
são relativamente flexíveis, construindo mais tarde, o que Bartholomew e
Horowitz crêem ser estilos de vinculação organizados em redor de diferentes
configurações dos Working Models do self e dos outros.
Contudo, o
crescimento e desenvolvimento do indivíduo, não pode ser considerado apenas
como um produto determinado pela infância: cada uma das fases do ciclo vital
tem o seu peso, mas os modelos inicialmente construídos vão-se desenvolvendo. O
sujeito é sempre um agente ativo e dinâmico, que seleciona e organiza as
influências do meio, contribuindo para a construção da sua própria história ao
longo do ciclo vital.
A
vinculação tem efetivamente um papel contínuo ao longo do desenvolvimento no
bem-estar do indivíduo, contudo, existem diferenças desenvolvimentais
importantes nas relações de vinculação adultas que se vão estabelecendo e que
se caracterizam pela reciprocidade e pela integração funcional nos sistemas
comportamentais envolvidos numa relação íntima; exemplo disso é a eleição entre
os pares, das suas figuras de vinculação.
A
vinculação representa uma de entre muitas, das componentes importantes das
novas relações estabelecidas, o que ilustra a complexidade das relações de
vinculação na idade adulta, pelo envolvimento de diferentes sistemas
comportamentais na formação e manutenção dessas relações. A rede de relações no
adulto é extensa e diversificada, constituindo-se diferentes classes de
relações que servem diversas funções, diferindo no seu conteúdo e objetivos.
Ainsworth refere que uma relação ou classes de relações, podem ser importantes
para um indivíduo, mesmo que não constitua um laço afetivo em geral, ou uma
vinculação em particular.
As relações
de vinculação no adulto servem diferentes propósitos daqueles observados na
infância. No adulto, assumem fundamentalmente funções de relação com os pares,
tendem a envolver reciprocidade e alternância no desenvolvimento de cuidados e
emoções fortes que perduram. A vinculação é um processo interativo entre duas
pessoas na continuidade de uma relação, como referem Spearling e Bearman.
Os
indivíduos considerados seguros, pautam as suas relações com uma maior
durabilidade e como positivas, vivendo a relação numa base de confiança,
amizade, evidenciando a aceitação e o apoio do outro.
Segundo
Weiss os critérios de definição do comportamento de vinculação presentes na
infância, são também, aplicáveis a vários tipos de relações adultas: ao
relacionamento conjugal, à relação monoparental, em situações de elevado stress
(entre companheiros de guerra), ou ainda, nas relações de mulheres solteiras
com os seus melhores amigos, pais ou irmãos. Em todos estes casos, verifica-se
a disponibilidade da figura de vinculação. O desejo de proximidade com essa
figura, o maior conforto e menor
ansiedade quando estão em sua companhia, e ainda, o mal-estar quando essa
figura está inacessível.
Weiss
apresenta vários argumentos ao defender que, o sistema de vinculação dos
adultos representa um desenvolvimento do sistema de vinculação da criança,
nomeadamente, as semelhanças das características emocionais dos dois sistemas;
a generalização da experiência; a ligação temporal entre as relações de
vinculação do adulto e da criança. Relativamente ao primeiro critério, o autor
defende que, as propriedades das vinculações na infância e na idade adulta são
as mesmas, mesmos nos sentimentos associados à sua ativação e nos seus aspetos
motivacionais, está presente nas reações à perda e separação, que é semelhante
ao experienciados por uma criança. Para explicar a generalização da experiência
utiliza o exemplo da criança, que perdeu a confiança nos pais como figuras de
vinculação, devido ao seu divórcio, e que mais tarde, poderá ter dificuldades
em estabelecer relações amorosas com os seus pares. Por último defende a ideia
de que a vinculação no adulto representa um estádio posterior do sistema de
vinculação da infância.
Contudo, o
autor refere que, apesar das relações dos adultos se pautem pelos mesmos
critérios de definição do comportamento de vinculação da criança, também se
revelam diferentes: contrariamente às relações pais-criança, em que as figuras
parentais são as figuras principais ou primárias que lhes prestam cuidados, as
vinculações dos adultos tendem a desenvolver reciprocidade ou alternância no
desempenho de cuidados, o que pode tornar o funcionamento da vinculação menos
evidente. Enquanto que, as figuras de vinculação nas crianças são geralmente os
adultos que lhes prestam cuidados, as do adulto, emanam das suas relações com
os pares, alguém que entre estes é considerado único; um segundo aspeto
prende-se com as capacidades do adulto em situações em que o sistema de vinculação
é intensamente ativado, sendo estes consideravelmente menos frequentes do que
na infância, e a tolerância à separação é tanto maior tanto mais se o sujeito
representar mentalmente essa situação como gratificante para si e para o outro.
Um outro aspeto relaciona-se com a capacidade do adulto ter mais recursos para
procurar segurança noutros adultos, caso a vinculação seja afetada pela morte,
divórcio ou outro tipo de separação definitiva. Um último aspeto, refere-se ao
facto de que enquanto que no adulto a vinculação constitui apenas uma das
componentes da relação com uma determinada figura; durante a infância,
sobretudo nas suas fazes mais precoces, a vinculação e o sentimento de
segurança tendem a penetrar todos os aspetos da relação.
Sofia Almeida
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