quarta-feira, 5 de março de 2014

VINCULAÇÃO NA IDADE ADULTA


Os estudos de Main e colaboradores, nos anos de 1984/1988, marcam o início dos estudos de vinculação na idade adulta. A análise deixa de ser sobre variáveis externas e observáveis, e passa a ser sobre aspetos internos e representacionais da vinculação. Tentam operacionalizar o conceito de modelos internos dinâmicos do self e do outro, conceito este inicialmente proposto por Bowlby (estes modelos são desenvolvidos nas interações com as figuras de vinculação ao longo da existência e constituem importantes grelhas de leitura, sendo utilizados para prever a disponibilidade e responsividade do outro e orientar o sujeito nas relações de proximidade).


A formação de ligações afetivas na idade adulta coloca a questão da continuidade e da mudança na organização interna da vinculação no indivíduo à medida que este começa a criar novas relações. Durante a fase inicial da existência, os modelos são relativamente flexíveis, construindo mais tarde, o que Bartholomew e Horowitz crêem ser estilos de vinculação organizados em redor de diferentes configurações dos Working Models do self e dos outros.

Contudo, o crescimento e desenvolvimento do indivíduo, não pode ser considerado apenas como um produto determinado pela infância: cada uma das fases do ciclo vital tem o seu peso, mas os modelos inicialmente construídos vão-se desenvolvendo. O sujeito é sempre um agente ativo e dinâmico, que seleciona e organiza as influências do meio, contribuindo para a construção da sua própria história ao longo do ciclo vital.

A vinculação tem efetivamente um papel contínuo ao longo do desenvolvimento no bem-estar do indivíduo, contudo, existem diferenças desenvolvimentais importantes nas relações de vinculação adultas que se vão estabelecendo e que se caracterizam pela reciprocidade e pela integração funcional nos sistemas comportamentais envolvidos numa relação íntima; exemplo disso é a eleição entre os pares, das suas figuras de vinculação.

A vinculação representa uma de entre muitas, das componentes importantes das novas relações estabelecidas, o que ilustra a complexidade das relações de vinculação na idade adulta, pelo envolvimento de diferentes sistemas comportamentais na formação e manutenção dessas relações. A rede de relações no adulto é extensa e diversificada, constituindo-se diferentes classes de relações que servem diversas funções, diferindo no seu conteúdo e objetivos. Ainsworth refere que uma relação ou classes de relações, podem ser importantes para um indivíduo, mesmo que não constitua um laço afetivo em geral, ou uma vinculação em particular.

As relações de vinculação no adulto servem diferentes propósitos daqueles observados na infância. No adulto, assumem fundamentalmente funções de relação com os pares, tendem a envolver reciprocidade e alternância no desenvolvimento de cuidados e emoções fortes que perduram. A vinculação é um processo interativo entre duas pessoas na continuidade de uma relação, como referem Spearling e Bearman.

Os indivíduos considerados seguros, pautam as suas relações com uma maior durabilidade e como positivas, vivendo a relação numa base de confiança, amizade, evidenciando a aceitação e o apoio do outro.

Segundo Weiss os critérios de definição do comportamento de vinculação presentes na infância, são também, aplicáveis a vários tipos de relações adultas: ao relacionamento conjugal, à relação monoparental, em situações de elevado stress (entre companheiros de guerra), ou ainda, nas relações de mulheres solteiras com os seus melhores amigos, pais ou irmãos. Em todos estes casos, verifica-se a disponibilidade da figura de vinculação. O desejo de proximidade com essa figura,  o maior conforto e menor ansiedade quando estão em sua companhia, e ainda, o mal-estar quando essa figura está inacessível.

Weiss apresenta vários argumentos ao defender que, o sistema de vinculação dos adultos representa um desenvolvimento do sistema de vinculação da criança, nomeadamente, as semelhanças das características emocionais dos dois sistemas; a generalização da experiência; a ligação temporal entre as relações de vinculação do adulto e da criança. Relativamente ao primeiro critério, o autor defende que, as propriedades das vinculações na infância e na idade adulta são as mesmas, mesmos nos sentimentos associados à sua ativação e nos seus aspetos motivacionais, está presente nas reações à perda e separação, que é semelhante ao experienciados por uma criança. Para explicar a generalização da experiência utiliza o exemplo da criança, que perdeu a confiança nos pais como figuras de vinculação, devido ao seu divórcio, e que mais tarde, poderá ter dificuldades em estabelecer relações amorosas com os seus pares. Por último defende a ideia de que a vinculação no adulto representa um estádio posterior do sistema de vinculação da infância.

Contudo, o autor refere que, apesar das relações dos adultos se pautem pelos mesmos critérios de definição do comportamento de vinculação da criança, também se revelam diferentes: contrariamente às relações pais-criança, em que as figuras parentais são as figuras principais ou primárias que lhes prestam cuidados, as vinculações dos adultos tendem a desenvolver reciprocidade ou alternância no desempenho de cuidados, o que pode tornar o funcionamento da vinculação menos evidente. Enquanto que, as figuras de vinculação nas crianças são geralmente os adultos que lhes prestam cuidados, as do adulto, emanam das suas relações com os pares, alguém que entre estes é considerado único; um segundo aspeto prende-se com as capacidades do adulto em situações em que o sistema de vinculação é intensamente ativado, sendo estes consideravelmente menos frequentes do que na infância, e a tolerância à separação é tanto maior tanto mais se o sujeito representar mentalmente essa situação como gratificante para si e para o outro. Um outro aspeto relaciona-se com a capacidade do adulto ter mais recursos para procurar segurança noutros adultos, caso a vinculação seja afetada pela morte, divórcio ou outro tipo de separação definitiva. Um último aspeto, refere-se ao facto de que enquanto que no adulto a vinculação constitui apenas uma das componentes da relação com uma determinada figura; durante a infância, sobretudo nas suas fazes mais precoces, a vinculação e o sentimento de segurança tendem a penetrar todos os aspetos da relação.






Sofia Almeida

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