Existem muitas formas de definir “satisfação conjugal”.
Segundo Thompson, a satisfação conjugal resulta de uma avaliação pessoal e
subjetiva de cada cônjuge em relação ao casamento. Hawkins, descreve o termo
como os sentimentos subjetivos de felicidade, satisfação e prazer, experienciados
por cada um dos cônjuges quando consideram todos os aspetos atuais do seu
casamento. Podemos verificar que existem aspetos comuns nestas duas definições
de satisfação conjugal, apesar de trinta anos as separarem, nomeadamente, o
carácter subjetivo da avaliação de cada um dos cônjuges em relação ao
casamento.
A variável satisfação é concebida como um continuum que vai desde muito satisfeito
a muito insatisfeito, sendo a satisfação conjugal, claramente, uma variável de
atitude e por isso, é propriedade de cada um dos cônjuges. Por ser uma
avaliação pessoal e subjetiva, as zonas da vida conjugal que cada um dos
cônjuges considera mais ou menos importantes para a sua satisfação podem ser
diferentes e o peso que cada um deles
lhes atribui pode ser igualmente diferente e subjetivo.
Segundo Kurdeck, o termo “satisfação” aparece
frequentemente confundido com funcionalidade, com ajustamento ou com qualidade
conjugal. Esta ideia demonstra bem a dificuldade que existe em isolar os aspetos
que contribuem para a satisfação conjugal, parecendo esta compor-se de um
conjunto de fatores que por si só não definem nem traduzem a satisfação conjugal.
Narciso refere que, pelo facto de se tratar de uma
avaliação subjetiva do casamento, o conceito de satisfação conjugal assume
significados diferentes de pessoa para pessoa, de casal para casal, em função
das histórias e modelos pessoais, do momento do ciclo de vida, do sexo, da
idade e das áreas específicas da conjugalidade. Na sua reflexão sobre o
desenvolvimento do amor e da satisfação conjugal ao longo do tempo de
casamento, a autora coloca algumas interrogações sobre o que pode ser considerado
“satisfação”, os fatores que a afetam e o efeito que tem em cada um dos
parceiros, partindo da suposição de que a satisfação depende sobretudo da perceção
da funcionalidade e das valências que se atribuem a uma e a outra: “ 1.
poder-se-á considerar a satisfação como um estado interno que depende da
avaliação que o indivíduo faz da relação conjugal quanto aos fatores
intrínsecos (sentimentos pelo outro, reciprocidade do sentimento, convergência
de significações (...) amor na relação) e aos fatores inter-extrínsecos (advêm
sobretudo da relação e dizem respeito à funcionalidade da relação quanto à
comunicação, conflitos e resolução de conflitos, poder, resolução de problemas,
distribuição de papéis, etc.); 2. Dependerá a satisfação/não satisfação do grau
de positividade ou negatividade percecionado relativamente aos fatores
inter-intrínsecos, aos inter-extrínsecos, da valência atribuída a cada um
desses fatores e da existência de mais ou menos barreiras que pressionam o
indivíduo a manter a relação; 3. Haverá um efeito contaminador da
satisfação/não satisfação no outro. É importante referir que a autora considera
a “não satisfação como um estado de ausência mais ou menos parcial e mais ou
menos provisória de satisfação.
Trabalhos de investigação efetuados na área da satisfação
conjugal (Glenn & McLanahan; Rollins & Galligan; Schram; Spanier & Lewis; Spanier, Lewis & Cole; Waldron & Routh) têm chegado a conclusões idênticas, referindo que “a satisfação
conjugal tende a ter uma configuração de curva em U, existindo um declínio da satisfação a seguir ao nascimento do
primeiro filho e um aumento subsequente na satisfação quando os filhos começam
a sair de casa, ou seja, a satisfação conjugal e familiar parece ser maior no
primeiro e últimos estádios do ciclo vital da família e a satisfação seria
menor no estádio dos filhos adolescentes, ou seja, quando o stress familiar é maior”. Contudo, como refere Narciso,
“estes estudos não consideraram a comparação entre casais com e sem filhos pelo
que não é claro se o declínio se deve à presença dos filhos ou aos anos de
casamento”.
Um estudo comparativo efetuado por Kurdeck (citado por
Narciso), demonstrou que os casais com filhos apresentam um maior declínio na
frequência de atividades que envolvam apenas o casal, comunicam menos
verbalmente, incidindo o seu conteúdo sobretudo em questões relacionadas com os
filhos e verifica-se uma menor intimidade conjugal. Narciso refere ainda que
“os filhos também podem contribuir para diminuir a qualidade da relação
conjugal se não existir acordo entre o casal quanto a valores e atitudes
educativas. Outra fonte potencial de conflito ocasionada pela presença dos
filhos é a quantidade de tarefas domésticas acrescentadas e a sua divisão entre
os cônjuges”.
Para Eduardo Marques, na análise da satisfação conjugal
existe um conjunto de fatores a considerar, sem os quais se torna difícil fazer
um balanço da relação e da satisfação que daí lhes advém: “importa considerar áreas
que se referem ao funcionamento do casal e áreas que se referem ao amor. Nestas
duas áreas há que considerar aspetos ligados às funções familiares, tempos
livres, autonomia de cada um dos elementos do casal, relações extrafamiliares,
comunicação e conflitos, sentimentos de cada um dos parceiros em relação ao
outro e a forma como os expressam, sexualidade, intimidade emocional, continuidade
da relação /na perspetiva de um dos elementos do casal e a perceção que tem das
expectativas de continuidade por parte do outro e características físicas e
psicológicas de cada um dos elementos do casal.
Sofia Almeida
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