quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

COMPORTAMENTO ADITIVO NA CULTURA HUMANA


O uso de drogas existiu em todos os tempos e culturas e tem assumido as faces religiosa, de ritualidade social, lúdica e terapêutica. Apesar da sua intensidade ter sido variada, converteu-se muitas vezes em dependência entre a humanidade e as substâncias.

Em cada tempo histórico-cultural têm sido diversas as representações sociais do uso de substâncias psicoativas. Em algumas culturas, nomeadamente nas tribos africanas e sociedades orientais, as substâncias eram consideradas como elementos de prestígio e até mesmo sagradas e costumavam fazer parte dos mecanismos de integração social dos indivíduos e dos seus quotidianos com as mais variadíssimas características e funções.

“O velho xamã prepara uma porção de Amanita Muscaria pensando relacionar-se com os espíritos para poder levar a paz ou a cura a um membro da sua tribo que estava doente”
           
No Ocidente, até aos anos sessenta, não há registo de significativo consumo de drogas. Mas com o aumento da criminalidade, com o terrorismo, com o crime económico, com o tráfico de estupefacientes (altamente lucrativo e com ligações internacionais), com o movimento Hippie (que foi um dos grandes impulsionadores do consumo de droga de forma coletiva e mais declarada alegando a revolta estudantil, a rebeldia, a oposição às normas), e com a guerra do Vietname, o consumo alastrou rapidamente e atingiu com maior ou menor intensidade, as camadas mais jovens e todas as regiões, especialmente as zonas urbanas mais degradadas onde o controlo era menor.


A moda da descoberta do desconhecido despoletada pelos anos do “Peace and love” do Pop, do movimento Hippie (Maio de 68), deu lugar nos anos oitenta e noventa à atitude de consumismo imediato “... pela moda de estar stone, estar em bruto, de cabeça cheia...vulgarizou-se o drogar para não sentir". Registou-se um aumento do consumo de opiáceos, sobretudo na Ásia Ocidental e no Leste Europeu, e, em especial, da heroína fumada, particularmente nos EUA. Também o  consumo de drogas sintéticas psicoativas, como os tranquilizantes, benzodiazepinas e os estimulantes tipo anfetaminas (designadamente o ecstasy), registou uma expansão sem precedentes sobretudo na Europa e nos Estados Unidos da América: na Europa, dá-se uma prevalência de novas drogas destinadas a combater os efeitos do stress e da depressão, crescendo o número dos consumidores com mais de 65 anos; nos Estados Unidos da América o destaque vai para o uso de drogas destinadas a melhorar a performance escolar ou laboral, com o intuito de beneficiar o aspeto físico ou atlético ou, mesmo, o desempenho sexual.

Com o consumo, o homem tem procurado “um outro estado mental” (Bénoit).  Mediante alucinogénios fugiu de si mesmo e viveu como realidade as fantasias da sua imaginação; os sedativos levaram-no a uma calma de paz e de sossego, a um estar metido em si mesmo e imune a todas as solicitudes e ansiedades do mundo exterior; os estimulantes transformaram-no no super-homem que desde criança queria ser (Cadernos de consulta Psicológica).

No final do século, descortinavam-se ainda outras tendências, para além da prevalência do consumo de estimulantes sintéticos (predominantemente recreativo no Ocidente) e da estagnação ou descida do consumo de heroína na Europa. Nomeadamente: a expansão e a diversificação de culturas ilícitas; a descentralização das organizações criminosas e o aumento do número de pequenas redes de tráfico, com a consequente fragmentação dos mercados; o uso múltiplo de drogas (com progressiva preferência, também na Europa, por formas de consumo não injetável.


Na esfera da produção vamos encontrar importantes franjas da população rural dos países produtores, envolvidos no cultivo de matérias-primas de onde são extraídas as drogas, beneficiando de lucros razoáveis, em estreita colaboração com poderosas organizações de indivíduos que visam a refinação e posterior exportação do produto para os países consumidores.

Apesar das apreensões de droga terem aumentado significativamente, assim como as quantidades e variedades disponíveis, pensa-se que estará ainda longe da droga efetivamente transacionada a nível mundial. Isto deve-se em parte à permanente expansão do comércio mundial em geral e ao consequente incremento da circulação de indivíduos e mercado os países. Paralelamente, surgem novos desafios para o controlo do circuito das drogas, como a divulgação da conceção e a comercialização de drogas ilícitas por computador, via Internet.
  

Neste início de século,  a nossa  sociedade, altamente competitiva, dá primazia ao prazer e ao poder material, que se têm vindo a sobrepor-se aos valores culturais, religiosos e outros valores sociais.
 O consumo de drogas foi reativado como moda em vários países industrializados do Ocidente e surgiram as toxicomanias contemporâneas.

 Sofia Almeida

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