O uso de
drogas existiu em todos os tempos e culturas e tem assumido as
faces religiosa, de ritualidade social, lúdica e terapêutica. Apesar da sua
intensidade ter sido variada, converteu-se muitas vezes em dependência entre a
humanidade e as substâncias.
Em cada
tempo histórico-cultural têm sido diversas as representações sociais do uso de
substâncias psicoativas. Em algumas culturas, nomeadamente nas tribos africanas
e sociedades orientais, as substâncias eram consideradas como elementos de
prestígio e até mesmo sagradas e costumavam fazer parte dos mecanismos de
integração social dos indivíduos e dos seus quotidianos com as mais variadíssimas
características e funções.
“O velho
xamã prepara uma porção de Amanita Muscaria pensando relacionar-se com os
espíritos para poder levar a paz ou a cura a um membro da sua tribo que estava
doente”
No Ocidente,
até aos anos sessenta, não há registo de significativo consumo de drogas. Mas
com o aumento da criminalidade, com o terrorismo, com o crime económico, com o
tráfico de estupefacientes (altamente lucrativo e com ligações internacionais), com o movimento Hippie (que foi um dos grandes impulsionadores do consumo de
droga de forma coletiva e mais declarada alegando a revolta estudantil, a
rebeldia, a oposição às normas), e com a guerra do Vietname, o consumo alastrou
rapidamente e atingiu com maior ou menor intensidade, as camadas mais jovens e
todas as regiões, especialmente as zonas urbanas mais degradadas onde o
controlo era menor.
A moda da
descoberta do desconhecido despoletada pelos anos do “Peace and love” do Pop, do movimento Hippie (Maio de 68), deu
lugar nos anos oitenta e noventa à atitude de consumismo imediato “... pela
moda de estar stone, estar em bruto,
de cabeça cheia...vulgarizou-se o drogar
para não sentir". Registou-se um aumento do consumo de opiáceos, sobretudo
na Ásia Ocidental e no Leste Europeu, e, em especial, da heroína fumada,
particularmente nos EUA. Também o consumo de drogas sintéticas psicoativas, como
os tranquilizantes, benzodiazepinas e os estimulantes tipo anfetaminas (designadamente o ecstasy), registou uma expansão sem precedentes sobretudo na
Europa e nos Estados Unidos da América: na Europa, dá-se uma prevalência de
novas drogas destinadas a combater os efeitos do stress e da depressão,
crescendo o número dos consumidores com mais de 65 anos; nos Estados Unidos da
América o destaque vai para o uso de drogas destinadas a melhorar a performance
escolar ou laboral, com o intuito de beneficiar o aspeto físico ou atlético ou,
mesmo, o desempenho sexual.
Com o
consumo, o homem tem procurado “um outro estado mental” (Bénoit). Mediante alucinogénios fugiu de si mesmo e
viveu como realidade as fantasias da sua imaginação; os sedativos levaram-no a
uma calma de paz e de sossego, a um estar metido em si mesmo e imune a todas as
solicitudes e ansiedades do mundo exterior; os estimulantes transformaram-no no
super-homem que desde criança queria ser (Cadernos de consulta Psicológica).
No final do
século, descortinavam-se ainda outras tendências, para além da prevalência
do consumo de estimulantes sintéticos (predominantemente recreativo no Ocidente)
e da estagnação ou descida do consumo de heroína na Europa. Nomeadamente: a
expansão e a diversificação de culturas ilícitas; a descentralização das
organizações criminosas e o aumento do número de pequenas redes de tráfico, com
a consequente fragmentação dos mercados; o uso múltiplo de drogas (com
progressiva preferência, também na Europa, por formas de consumo não injetável.
Na esfera da
produção vamos encontrar importantes franjas da população rural dos países
produtores, envolvidos no cultivo de matérias-primas de onde são extraídas as
drogas, beneficiando de lucros razoáveis, em estreita colaboração com poderosas
organizações de indivíduos que visam a refinação e posterior exportação do
produto para os países consumidores.
Apesar das
apreensões de droga terem aumentado significativamente, assim como as
quantidades e variedades disponíveis, pensa-se que estará ainda longe da droga
efetivamente transacionada a nível mundial. Isto deve-se em parte à permanente
expansão do comércio mundial em geral e ao consequente incremento da circulação
de indivíduos e mercado os países. Paralelamente, surgem novos desafios para o
controlo do circuito das drogas, como a divulgação da conceção e a
comercialização de drogas ilícitas por computador, via Internet.
Neste início
de século, a nossa sociedade, altamente competitiva, dá primazia
ao prazer e ao poder material, que se têm vindo a sobrepor-se aos valores
culturais, religiosos e outros valores sociais.
O consumo de drogas foi reativado
como moda em vários países industrializados do Ocidente e surgiram as
toxicomanias contemporâneas.
Sofia Almeida
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