Estudos científicos recentes realizados na população portuguesa indicam que o perfil do consumidor de substâncias psicoativas tem vindo a mudar nos últimos anos.
A globalização e a internet serão responsáveis pela reconfiguração dos mercados europeus de droga, quer ao nível da mudança dos padrões de consumo, quer ao nível do aparecimento das novas rotas de tráfico.
Vivemos numa sociedade do prazer imediato e da fraca tolerância à frustração (Queremos “Tudo!” e “Já!”), e esta atitude poderá estar na base de determinados comportamentos aditivos. Os jovens experimentam substâncias psicoativas cada vez mais cedo, e, estando mais informados sobre as caracteristicas das substâncias psicoativas, selecionam-nas em função do tipo de efeitos que desejam ter.
Na base desta seleção está muitas vezes o mito da diferenciação entre drogas duras e drogas leves, que nos é verbalizado com bastante frequência na CDT. Ora, é importante clarificar que todas as substâncias psicoativas provocam alterações ao nosso Sistema Nervoso Central e mais tarde ou mais cedo trarão consequências a vários níveis (psicológicas, físicas, sociais, familiares ou legais).
Nenhuma substância é inofensiva, algumas são até bastante insidiosas, pois começam a ser consumidas por brincadeira, em grupo, por curiosidade, e só mais tarde neste percurso de utilização, é que os sintomas se vão percebendo, quando muitas vezes a dependência já está instalada.
Toxicodependentes não são apenas os heroínodependentes, mas todos aqueles em que as suas vidas são geridas em função do consumo de determinadas substâncias tóxicas.
Temos vindo a verificar um crescente protagonismo dos jovens nas sociedades modernas e os estímulos do mercado de consumo estão atentos a esta realidade, expondo-os a novas substâncias psicoativas e a comportamentos aditivos.
A proliferação de novas substâncias psicoativas (smartdrugs) tornou-se num fenómeno europeu alarmante, amplamente noticiado e de clara ameaça à saúde pública, pelo que, em 18 de abril do corrente ano entrou em vigor em Portugal a Lei das Novas Substâncias Psicoativas (Dec. Lei 54/2013 de 17 de abril) que proíbe o fabrico, a comercialização, a publicidade e o consumo de 159 novas substâncias psicoativas.
São consideradas como novas substâncias psicoativas aquelas substâncias que não sendo especificamente enquadradas e controladas ao abrigo de legislação própria, em estado puro ou numa preparação, podem constituir uma ameaça para a saúde pública, com perigo para a vida ou para a saúde e integridade física.
São considerados alguns dos seguintes efeitos no Sistema Nervoso Central: indução de alterações significativas duradouras e até mesmo permanentes ao nível da função motora, bem como das funções mentais (Raciocínio; Juízo crítico; comportamento; estados delírio; Alucinações; Extrema euforia; dependência).
Os dados preliminares do III Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoativas na População Geral – Portugal 2012 revelam que em Portugal, o consumo de drogas, álcool e tabaco diminuiu em 2012 face a 2007, contudo, estamos ainda com níveis de tabagismo demasiado elevados (28.9% portugueses consumiram tabaco em 2012). Este estudo, que se baseia em três inquéritos de 2001, 2007 e 2012 revela que os portugueses fumam hoje ligeiramente menos do que em 2007, mas bastante mais relativamente ao ano de 2001 (No estudo de 2012, a prevalência do consumo de tabaco ao longo da vida é de 47%; em 2007 é de 48,9%; e em 2001 é de 40,2%).
Sofia Almeida