quarta-feira, 29 de junho de 2016

TIRANIA INFANTIL



As contínuas transformações sociais vieram alterar radicalmente as relações parentais nas últimas décadas. A criança foi ganhando estatuto e direitos graças a uma tomada gradual de consciência das sociedades ocidentais, tendo sido considerada pessoa com direitos e merecedora da atenção dos pais, cada vez mais atentos e cuidadores, nos anos sessenta, pela pedopsiquiatra francesa Françoise Dolto.

Depois da Segunda Guerra, surgiram leis de proteção à infância. Os jovens ganharam visibilidade e mediatismo e as famílias diminuíram com a emancipação da mulher trabalhadora e independente que segundo Mary Del Priore, autora do livro “História das Crianças no Brasil”, passa a querer ter menos filhos para criá-los bem: “Há uma transformação no papel dos pais e a criança ganha lugar como consumidora”.

A criança obediente e disciplinada foi-se transformando no centro das atenções de pais com tremenda culpa pela sensação de falta de tempo, e, que, por vezes cansados, perderam lugar na autoridade parental e permitiram gradualmente o crescimento de crianças exigentes e autoritárias.

Tania Zagury, mestre em educação e autora de “Limites Sem Trauma” identifica o surgimento da tirania infantil no início dos anos 1990.  Considera que os pequenos tiranos de hoje são resultado do encontro de duas gerações sem limites: uma de extrema autoridade e outra de total permissividade.

Ana Vieira de Castro refere: “a criança vê, desde a mais tenra idade, todos os seus desejos e vontades serem imediatamente atendidos por pais culpados, infinitamente solícitos e pacientes, que a procuram compensar a todo o custo. Desde o nascimento, atrás de um choro, vem um colo, um biberão. Já mais crescidos e mais reivindicativos, os pais evitam os conflitos, após um dia extenuante de trabalho, prevalecendo a necessidade de descanso, cedendo e permitindo-lhes as exigências que em nada facilitarão a aprendizagem da frustração decorrente de um crescimento saudável, em que se espera que as crianças aprendam progressivamente a consolarem-se a si próprias.

A criança tirana apodera-se do espaço familiar, exige uma atenção frequente dos pais e domina-os sem oposição, com graves consequências futuras na sua auto-estima, pois o que dominam na perfeição dentro de casa, ao deslocarem este modelo de autoridade para o seu ambiente social/escolar, a autoridade e a prepotência não é aceite, para além de que, transmite à criança uma sensação de fragilidade parental.

As crianças têm perfeita consciência sempre que pisam o risco o que lhes confere sentimentos de culpa e negatividade sobre si próprias, pois apercebem-se da disputa ou desamor entre as discórdias dos pais na sua educação o que as deixa permanentemente insatisfeitas, com birras intoleráveis e que incorre sérios riscos de vir a experimentar comportamentos desviantes no seu desenvolvimento.

Segundo dados da APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) de 2004 a 2012 perto de 4000 pais foram maltratados pelos filhos em ambiente doméstico. Daniel Cotrim, psicólogo e assessor técnico da direção da APAV ao divulgar estes dados ao Diário de Notícias considerou que as chamadas crianças tiranas são uma tendência geracional,  resultado dos últimos dez anos , fruto de educações demasiado liberais, sem regras, nem limites; ou ainda, o resultado de pais ausentes, seja pela distância física ou pela falta de disponibilidade mental para cuidar devidamente dos filhos. O Psicólogo refere ainda que existem tipos de filhos agressores aos pais, nomeadamente os filhos de famílias monoparentais, filhos toxicodependentes e filhos com psicopatologia, nomeadamente esquizofrénicos em que a agressividade é um dos sintomas.

Alguns destes agressores são menores e em caso de raparigas, o Juiz António Fialho vem declarar neste mesmo artigo do Diário de Notícias que o grau de rebeldia é muito maior, com tendência para atacar, magoar e comportamentos de risco, quer aditivos, quer sexuais.

Em 2008 o então Procurador-Geral da República Portuguesa Pinto Monteiro, considerou a violência contra idosos de investigação prioritária pela lei de Política Criminal, tendo-se constatado que muitos desses casos eram de idosos agredidos pelos filhos. Segundo Daniel Cotrim não é muito hábito os pais denunciarem os filhos, contudo, como a violência doméstica é um crime público, em muitos casos, o Ministério Público pode investigar mesmo sem queixa-crime.

Javier Urra, Psicólogo Espanhol, em fevereiro último, por altura da publicação do seu livro “O pequeno Ditador cresceu” afirmou ao referido jornal diário que “há uma pandemia de violência filial em países como Portugal e Espanha, onde crescem os casos de pais maltratados pelos filhos, por ameaças, agressões ou insultos. Segundo o autor, a agressão começa em crianças muito pequenas que insultam ou estragam coisas e passam de seguida ao mau trato verbal e alguns acasos atingem a violência física a pais silenciados pela sensação de culpa ou de vergonha, já em desespero quando solicitam justiça.

O pediatra e professor Belmiro d´Arce, ressalta que desde que nasce a criança comporta-se como um pequeno tirano. “Essa reação ocorre, primeiro, porque a criança não tem, ainda, mecanismo interno para lidar com frustrações e irrita-se, chora, grita, sempre que as coisas não saem como e na hora que quer; segundo, por não ter noções de valores, propriedades, espaços e direitos alheios: acha que o mundo todo lhe pertence, está à sua disposição e quer tudo que está a sua volta. Esse comportamento egoísta e tirano que ocorre desde o nascimento, deve ser gradualmente perdido através do processo de educação desenvolvido pelos pais.” Em muitos casos, os pais têm dificuldade para ajudar seu filho nesse processo de compreensão e amadurecimento emocional. Ele vai crescendo e continua a comportar-se como se tudo girasse em torno dele. É muito mais fácil para os pais identificar a tirania nos filhos dos outros do que no seu próprio filho.

Numa entrevista a um jornal brasileiro o psicólogo Francisco Bárbaro Neto defende que “a tirania não é um fator genético, mas construído nas interações sociais da criança”. Ele acredita que a família não é a única culpada por esse comportamento, mas que tudo pode contribuir para isso, seja o ambiente escolar, os seus amigos e inclusivamente, os programas televisivos.

A psicóloga Munira Akrouche foi também entrevistada sobre o tema e afirma que “a maioria dos pais fica muito tempo fora de casa e quando estão com seus filhos querem recuperar o tempo perdido, mimando de todas as maneiras”. Segundo ela, apesar da personalidade influenciar o comportamento da criança, é o ambiente familiar que mais influencia na sua formação e na construção da sua identidade, que ocorre durante a infância e a adolescência.

Sobre este tema, escreveu também o pedopsiquiatra alemão Michael Winterhoff defendendo a educação para viver em sociedade, considerando que os educadores erraram na metodologia da educação desde maio de 1968: “os pais andam completamente baralhados e olham para os miúdos como pequenos deuses, apoiam-se neles e eles são demasiado pequenos para todos os papéis que lhes são exigidos, não têm a maturidade psíquica para serem tratados como pequenos adultos. As creches, jardins-de-infância e escolas de 1.º ciclo educam para a individualidade. Estão estruturadas para olharem para as crianças como seres que devem desenvolver a sua imaginação, o seu ser individual, em vez de lhes mostrar "o caminho rumo a uma existência integrada na sociedade e recorda ainda que, nos últimos anos, falar em dar uma palmada já não é tão mal visto como antigamente.

Numa crítica, Winterhoff a Bárbara Wong refere que aquele é alemão e a maioria dos alemães não consegue ver as gradações de cinzento que há entre o preto e o branco. Concorda que vivendo em sociedade devemos educar nesta integração, mas como seres único, imaginativos, criativos, inteligentes e, acima de tudo, amados.

A Psicóloga Ivone Honório Quinalha refere que diante das novas configurações familiares e o declínio da função paterna, o olhar lançado às crianças perdeu, de alguma forma, seu tradicional significado de limites e referências para o desenvolvimento dos filhos. A substância emocional capaz de fundar a estruturação psíquica na constituição infantil ficou enfraquecida diante de tantas e tão intensas mudanças sociais e familiares. São crianças educadas para fazerem o que bem quiserem. Os limites passam longe delas. Por outro lado, os pais, desejando serem amados e queridos, não sabem de que forma devem se colocar diante de seus filhos.

A base dos comportamentos infantis são, de modo geral, reflexos da maneira como os pais respondem aos caprichos dos filhos. Os pais tentam minimizar as frustrações dos filhos e poupá-los das dificuldades da vida. Outras vezes estão preocupados com suas realizações pessoais e tentam suprir suas ausências agradando a qualquer custo os filhos, acabando por perder as funções parentais.

Ao sermos pais baseamo-nos nos nossos recursos internos, nomeadamente, nas referências do pai e da mãe que tivemos. Essa herança emocional será primordial para que possamos estruturar a nossa função parental. Se os pais conseguem priorizar momentos com os filhos, experimentar momentos amorosos com seus filhos, estabelecer fortes laços afetivos, estabelecendo regras e limites claros, com firmeza, mas sem excessos, nem culpabilidades, conseguirão ajudar os filhos a serem mais seguros e felizes.

Sofia Almeida



terça-feira, 3 de maio de 2016

ZEN



O termo ZEN tem origem na palavra chinesa CHAN que significa meditação

ZEN é uma tradição espiritual milenária na qual convergem o budismo hindu e o taoísmo chinês, que a partir do século XII influencia de forma decisiva a cultura japonesa.

A essência do ZEN é a arte de vermos dentro da natureza do próprio ser, ou seja, tentarmos chegar ao espírito e libertá-lo de tudo o que o atrofia e confunde inutilmente.

Segundo os entendidos, é uma forma de iluminação libertadora que nos leva a viver plenamente cada instante e procura que cada um se aceite tal como é, para que possa viver em harmonia interior e exterior.

Meditar permite-nos com o tempo, conhecermo-nos, lidarmos melhor com as nossas emoções e concentrarmos a atenção naquilo que para nós é realmente significativo. Convida a abrandar o ritmo, a acalmar, por forma a sermos capazes de pensar, a uma nova luz, a nossa realidade.

Cientificamente comprovado, a meditação e a tranquilidade de espírito ajudam-nos a gerir melhor o stress nos momentos de crise e reforçam o sistema imunitário. 


                 


Sofia Almeida 

O AMOR É UMA DROGA?




Segundo Marta Saiz Merino, num artigo publicado na revista espanhola  “independientes.com” o amor é como uma droga. Não que exista uma droga com efeito de amor, contudo, a substância que intervém neste processo é a mesma que se apresenta ao cérebro ao consumir determinadas substâncias tóxicas, como a feniletilamina. Assim, melhor dizendo, os efeitos que o amor produz assemelham-se aos efeitos de determinadas drogas, nomeadamente as anfetaminas como o MDMA (ecstasy).

A feniletilamina é um aminoácido essencial que atua como neurotransmissor e uma droga natural produzida pelo cérebro que pertence à classe das anfetaminas, estimulantes do Sistema Nervoso Central.

O cérebro, ao concentrar elevadas quantidades de feniletilamina, responde com a libertação de endorfina que alimenta a secreção de neurotransmissores como a dopamina, entre outras. A dopamina é responsável pelas sensações de prazer e influencia a energia física e mental, nomeadamente na concentração e capacidade de memória.

Esta droga natural pode ser produzida e ativada pela ingestão de determinadas drogas, alimentos ou suplementos, ou ainda, pelos comportamentos que desencadeiam emoções humanas.

No caso dos alimentos, destaca-se o chocolate, portador de feniletilamina e de efeitos psicoativos. Contudo, ao ser metabolizado pela enzima MAO-B não chega ao cérebro em altas concentrações e apenas passa a sensação prazenteira e antidepressiva que o carateriza.

Também escutar música, fazer desporto ou a exposição solar produz a libertação de endorfinas.

A associação entre a feniletilamina e o amor dá novo realce à teoria proposta nos anos 80 pelos médicos Donald F. Klein e Michael R. Liebowitz do Instituto Psiquiátrico de Nova York, em que afirmam que a produção deste aminoácido pode desencadear-se simplesmente por um olhar, um toque ou aperto de mãos.

Quando isto ocorre, o cérebro da pessoa enamorada responde com modificações fisiológicas responsáveis pelas sensações do amor romântico (vigília, falta de apetite, sensação de felicidade extrema), que se assemelham aos efeitos do consumo de determinadas drogas. Como a Cannabis ou as anfetaminas.
As substâncias que intervêm no cérebro quando aparece o amor são basicamente três: feniletilamina, dopamina e serotonina, responsáveis pela sensação de bem-estar, concentração, apetite.

Num primeiro momento, acontece a atração e o desejo, atuando a feniletilamina com a secreção de dopamina nos centros de recompensa. Num momento em que se criam fortes vínculos com a pessoa e se reconhece o prazer com o objeto de desejo, aumenta o nível de serotonina criando uma estabilidade no casal, regulando os estados de ânimo.

Uma vez que os laços se estreitaram, aparecem outros neurotransmissores como a vasopressina e a oxitocina, que ajudam a manter as relações a longo prazo.

Em caso de desamor, o indivíduo deixa de produzir feniletilamina de forma natural e o chocolate passa a ser o aliado da rutura amorosa.

O problema das drogas é que estas interatuam com estes neurotransmissores e sequestram os sistemas naturais do cérebro implicados no prazer e na satisfação, rompendo o círculo natural de funcionamento das emoções.

Sofia Almeida

LIBERDADE EMOCIONAL


Quantos de nós sabemos verdadeiramente quem somos e o que queremos?

Especialistas em comportamento humano defendem que nem sempre é fácil tomar consciência da nossa identidade e do que nos dá sentido à vida.

Poderá ser um percurso acidentado, este, o da maturação. Aprender com os erros, reafirmar convicções, atentos aos nossos limites, orientados pelos nossos valores, com a coragem de nos levantarmos…Sempre!

O valor que damos à aceitação social em detrimento da coerência com os nossos próprios valores leva-nos frequentemente a orientarmo-nos por padrões e expectativas alheios que em nada favorecem a afirmação da nossa identidade, confundindo a imagem que temos de nós com aquela como os outros nos vêem.

Para muitos de nós é difícil estarmos sozinhos, especialmente em momentos dolorosos, tais como separações e/ou divórcios. É frequente não se dar tempo ao tempo e partir-se em busca de algo ou alguém que preencha o vazio e alivie a sensação de fracasso na relação terminada.

Ficar sozinho por opção própria e por tempo indeterminado favorece o confronto com os dilemas interiores comuns, como a solidão, o medo, a frustração, o erro, mas permite-nos redescobrir sentimentos e emoções, batalhando contra as dependências relacionais.

Criamos dependências relacionais com relativa facilidade, contudo, quantas vezes ao longo da vida nos assalta a ideia de sermos livres? E o desejo de nos libertarmos de velhos hábitos e rotinas colide muitas vezes com outros desejos não menos comuns, como o desejo de segurança e de partilha.

Paulo Ratki defende a ideia de que liberdade e amor andam juntos. O amor é estarmos atentos ao outro e sermos gratos por isso mesmo. Não é uma troca, nem mesmo uma doação. Segundo o autor, é somente neste amor que poderemos encontrar a verdadeira liberdade. Precisamos descobrir sozinhos o que significa amar, porque se não amarmos, nunca seremos atentos, e pior, nunca seremos gratos. Mas para termos sensibilidade e recetividade é preciso termos liberdade; e para sermos livres precisamos amar. Sem amor não há liberdade.


É fundamental descobrirmos o que dá sentido à nossa vida

Sofia Almeida

terça-feira, 29 de março de 2016

A FAMÍLIA COMO SISTEMA





A família é um grupo institucionalizado, relativamente estável, e que constitui uma importante base de vida social. Pensamos na família como o lugar onde naturalmente nascemos, crescemos e morremos, ainda que, ao longo desse percurso possamos ter mais do que uma família.

A família é um espaço privilegiado de vivências de relações afetivas profundas, tais como, a filiação, a fraternidade, o amor e a sexualidade e que vai dando corpo ao sentimento de sermos quem somos e de pertencermos àquela família e não a outra família qualquer.

No modelo sistémico, a família é um sistema aberto que deve ser observado como um todo, na sua interação, e desenvolvimento. É compreendida como uma unidade total de indivíduos, num espaço e num tempo determinados. O comportamento de um dos membros é indissociável do comportamento dos restantes e o que lhe acontece afeta toda a família no seu conjunto ao nível individual e ao nível das relações do sistema.

Assim, é importante analisarmos o comportamento individual, mas no contexto em que o mesmo ocorre, passando o foco da análise a ser necessariamente sistémico. O indivíduo deixa de ser visto como a causa e a explicação do seu problema, passando à família a responsabilidade explicativa do disfuncionamento observado.

A família é constituída pelo menos por quatro sub-sistemas: o individual, o conjugal, o parental e o fraternal. O que delimita estes sub-sistemas são os papeis e funções, as normas e os estatutos.

Ao desempenharem diferentes papéis, os seus elementos participam e pertencem a diferentes sub-sistemas, pelo que as fronteiras destes são permeáveis, pois permitem a passagem seletiva da informação. A compreensão de cada sistema requer o conhecimento dos contextos em que participa, o que obriga à análise das relações horizontais (dentro do mesmo sub-sistema) e das relações verticais (entre sistemas) – hierarquia sistémica.

O sistema familiar tem uma propriedade de auto-organização, que lhe fornece autonomia e capacidade de decisão. Enquanto sistema aberto: a família recebe do exterior um conjunto de influencias ao mesmo tempo que influência o exterior. Porém, na sua evolução, a família vai regulando esta abertura para o exterior, ora fechando-se ora abrindo-se, realizando movimentos centrípetos e centrífugos de acordo com as suas necessidades e as suas características.

Portanto, o sistema familiar é autónomo na gestão/regulação da informação recebida, pois é informacionalmente aberto e organizacionalmente fechado. Cria as suas próprias finalidades integrando as informações que recebe. O crivo não é na chegada da informação interna ou externa, mas o que acontece é que é capaz de autónoma e espontaneamente, modificar a sua estrutura, de forma a criar as condições à sua sobrevivência ou então permanecer idêntica.

A organização reporta-se ao conjunto de relações que constituem o edifício familiar nos seus componentes básicos: para utilizarmos uma metáfora dizemos que a organização engloba os alicerces (família de origem), os andares (família nuclear e seus subsistemas) e o telhado (finalidade da família nuclear); assim como o conjunto de valores estabelecidos entre estes componentes e cujo cálculo foi necessário para estabelecer o tamanho do edifício, o tipo de materiais a utilizar na sua construção e a orientação da casa (história familiar, mitos familiares, segredos familiares). O espaço envolvente (ruas de acesso, parques de estacionamento, espaços verdes, mercearia), fala-nos já das relações que a organização familiar tem com outros sistemas.
  
A equifinalidade é outra das propriedades e significa que condições iguais idênticas podem corresponder a resultados diferentes e vice-versa dado que as interacções familiares e a sua evolução ao longo do ciclo vital são fundamentais para o processo que se organiza em torno de uma finalidade. Ou seja, perante a mesma situação, cada família reage à sua maneira.

A propriedade da retroação diz que um comportamento de um elemento não é suficiente para explicar o comportamento de um outro elemento e vice-versa. Para compreendermos o que acontece a um dos elementos na família é necessário termos uma visão circular e não linear das interacções. Este comportamento tem que ser equacionado no jogo de implicações, ações e retroações que o liga aos restantes membros.

Existem dois tipos de retroacção: a negativa e a positiva. A retroação negativa constitui um mecanismo de regulação que permite, de forma autocorretiva, manter o sistema estável; desta forma, corrige os efeitos dos factores internos ao externos ao sistema, que poderiam modificar o seu equilíbrio (como o termostato). No entanto, estabilidade não é sinónimo de imobilidade. Os movimentos auto corretivos implicam uma certa mudança de pequena amplitude, que não introduzem alterações qualitativas ao sistema. É uma mudança de 1º ordem. A retroacção positiva introduz no funcionamento do sistema a noção de uma mudança quantitativa, possibilitando-lhe o crescimento e a criatividade, permitindo-lhe atingir um nível superior de complexidade e está associada a mudanças de 2ª ordem.

A retroação positiva não é melhor que a negativa ou vice-versa. É a utilização que o sistema familiar faz deles é que as qualifica como úteis ou inúteis para os objectivos e necessidades familiares. Há momentos em que a família, para manter a sua coerência e a sua própria sobrevivência, tem que realizar mudanças de 1ª ordem e momentos em que tem que desenvolver mudanças de 2ª ordem.

A estrutura é o conjunto de relações que se estabelecem em cada etapa da vida familiar e que lhe vão conferindo configurações particulares sem nunca lhe modificar a identidade básica (estas configurações são desenvolvidas a partir da entrada de novos elementos, uma criança que nasce, ou um filho adulto que sai), assim como da transformação do jogo de alianças e de coligações existentes no sistema.

Na metáfora atrás utilizada, a estrutura reflete-se na cor da pintura exterior e interior da casa, na arrumação das salas, dos quartos, nos elementos de decoração. Mesmo que as madeiras tenham sido pintadas de novo ou os sofás tenham sido trocados, a casa continua basicamente a mesma, só mais ajustada ao tempo presente e às crises naturais com que se foi deparando.

Mesmo que a casa se confronte com problemas inesperados - crise acidental (abertura de uma nova janela, abertura de uma nova rua no bairro), a casa continua a permanecer idêntica a si própria. Portanto, a família é um sistema que muda a estrutura, mantendo a sua organização face às situações de crise (natural ou acidental).

Mas, ao ser autónomo, o sistema familiar não despreza a relação que mantém com os restantes sistemas. Tal como acontece com cada sujeito, para sermos independentes temos que ser dependentes ou seja, temos que vincular-nos. A noção de autonomia humana é complexa pois ela depende de condições culturais e sociais. Para sermos nós próprios é necessário que aprendamos uma língua, uma cultura, e é necessário que esta seja variada para que possamos fazer uma escolha do stock existente e refletirmos de forma autónoma. Esta autonomia alimenta-se de dependência. A inteligibilidade do sistema deve ser encontrada, não apenas no próprio sistema, mas também na sua relação com o meio ambiente.



Sofia Almeida

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

ATENÇÃO PLENA




“Quando desejar uma coisa, concentre-se nela. Ninguém jamais será capaz de atingir um alvo que não consegue ver”  Paulo Coelho

No início de cada ano, muitos traçam novas intenções, que, regra geral, servem de objetivos a atingir ao longo do ano, e assentam em preocupações relativas à saúde e bem-estar.

As gerações atuais estão cada vez mais informadas e conscientes dos desafios, assim como mais dotadas de competências para lidarem com todos os elementos das suas vidas. Diria mesmo, que, mais do que nunca, temos a nítida noção daquilo que queremos e otimizamos a nossa intuição como forma de ultrapassarmos obstáculos e atingirmos objetivos.

Têm-se vindo a difundir muitas práticas que nos convidam a abrandar o ritmo e a pensar de forma organizada, como uma via para o aperfeiçoamento pessoal. Formas de alcançarmos a tranquilidade de espírito que ajude a identificar novas leituras para os problemas, simplificando assim a nossa existência.

Segundo a prática do Mindfulness a experiência concentra-se no aqui e agora, prestando muita atenção à respiração, às sensações corporais, emoções e pensamentos sem nos apegarmos. Treina a atenção plena, à mesma hora, estando apenas connosco próprios, sem fazer nada mais, mas despertos, num local seguro, sem interrupções, com postura sentada de pernas cruzadas. Mantendo o olhar fechado ou num ponto fixo, experimentamos a quietude e a consciência do momento e sentimo-nos gratos pelo que vemos à nossa volta.

Adaptarmo-nos sempre às circunstâncias gera ansiedade e faz-nos perder o norte. Defina prioridades e limites. Corporize as suas ideias. Faça uma lista de indicadores de felicidade e escolha um indicador por dia. Vai ver como ajuda a lidar com o stress e reforça o sistema imunitário.

Comece por se conhecer melhor, olhe para a sua própria natureza, aceite-se como é. Valorize-se e coloque a sua atenção no que é importante. Liberte-se do que o atrofia e confunde e concentre-se naquilo que realmente importa, que liberta, harmoniza, permitindo viver plenamente cada instante.

Acredite em si. Aprenda a usar a sua energia interna, a sua essência. Ligue-se à energia que o rodeia e aprenda a usar sinergias. Concentre-se. Comece por perceber a sua realidade e viva-a com verdade. Uma realidade sem verdade não tem futuro. Expanda o sentido de si em relacionamentos não tóxicos.

Há quem defenda que não basta entorpecer a dor na vida ou mantermos tudo sob controlo. O desconhecimento gera inseguranças e resistências à mudança e o medo e a ansiedade são barreiras à felicidade. A felicidade não é uma coletânea de momentos felizes. A felicidade é a paz interior e, necessariamente, a sensação de bem-estar.

A felicidade é um estado psicológico em sete áreas essenciais: realização pessoal, mente, coração, corpo, alma, objetivos, relacionamentos. Felicidade: sensação de leveza ou animação, sentirmo-nos vivos, enérgicos, animados fluidos, recetivos, amor e compaixão por nós e pelos outros, paixão pela vida e objetivos, gratidão e perdão em paz com a vida.

Segundo alguns autores, uma percentagem significativa do set point de felicidade pessoal (nível pessoal de felicidade) é determinado pelos nossos pensamentos, sentimentos, palavras e atos, pelo que, para sermos felizes, devemos aumentar este nível.

E para trazermos felicidade para o interior das nossas experiências, temos que sentir inteiramente o presente, irradiar energia positiva sobre todos os que nos rodeiam. Não precisamos de estarmos sempre exuberantemente bem-dispostos, basta a sensação de calma, de satisfação e paz interior.

Tome posse da sua felicidade:

ü  Reveja o amor-próprio (acredite em si, valorize os talentos e humor)
ü  Torne as suas células felizes (nutra emoções e pensamentos positivos)
ü  Use palavras edificantes (domine o poder das suas palavras)
ü  Gratifique-se e perdoe
ü  Deixe o amor reinar (desenvolva empatia e compaixão)
ü  Mergulhe no espírito (esteja presente)  
ü  Seja ao invés de ter (não confunda valor humano com sucesso)
ü  Privilegie o importante ao invés do urgente
ü  Viva inspirada no objetivo (trace estratégias e saia da zona de conforto)
ü  Cumpra a sua missão (compromisso com os sonhos)
ü  Cultive relações nutritivas (partilhe tarefas, rituais e iniciativas comunitárias)
ü  Doseie e varie atividade lúdicas e descanso
ü  Treine a auto-observação e pratique meditação
ü  Regule ritmos respiratórios, de sono, de exercício, de alimentação e hidratação
ü  Ajuste o tempo e o espaço

  

 “A melhor fórmula para uma vida miserável é deixar de fazer as coisas pelas quais somos apaixonados e passar a trabalhar apenas naquilo que tempo obrigação de fazer”. Paulo Coelho


Sofia Almeida