Segundo o Editorial do Courrier Internacional de
janeiro último: “Nos últimos 50 anos, o número de casamentos em Portugal caiu
para metade (34 mil) e quase foi apanhado pelo dos divórcios (25 mil, que já
foram mais: 27,5 mil em 2010). O número de filhos por casal (1,03) não para de
descer e, curiosamente, está abaixo do verificado na China, onde vigora uma
política de incentivo ao filho único. As uniões informais entre adultos
dispararam, os casais homossexuais aumentaram e o número de crianças que
crescem nestas novas famílias ganha dimensão.”
Segundo o mesmo autor, João
Garcia: “Voltemos ao nosso pequeno Portugal: há poucos anos nasciam mais de 100
mil crianças por ano, em 2012 passaram a ser pouco mais de 90 mil, este ano já
se admite que fiquem aquém dos 80 mil. Não nascem nem se licenciam: de ano para
ano cai o número de jovens que procuram o Ensino Superior.”
Sociedade e família sempre em
constante mutação, condicionam-se e complementam-se no sentido de se adaptarem
aos novos estilos de vida. Parece-me um processo previsível e perfeitamente
natural, verificável ao longo da existência da humanidade. A necessidade de nos
adaptarmos às circunstâncias, satisfazendo as necessidades consideradas mais
básicas, mas procurando ativamente o melhor bem-estar possível para nós e para
os nossos.
Questões muitíssimo atuais no
nosso país como a emigração e/ou migração levantam questões de educação
parental que obrigam a reformulações nas dinâmicas familiares, com claras
transferências de competências parentais para os avós ou outros significativos;
A questão do desemprego dos pais
e dos filhos, sem significativas perspetivas de construção de projetos futuros
ou simplesmente de subsistência das suas famílias, parece-me uma questão
igualmente determinante nesta problemática.
A mudança de representação social
das famílias, nomeadamente nas sociedades ocidentais, obriga à produção de
diferentes tipos de legislação, adequada o mais possível aos ensejos
manifestados pelas respetivas sociedades: surgem novas formas de adoção e de
procriação, ainda recentemente impensáveis, pelo menos naqueles países de
mentalidade mais oprimida.
A mudança de paradigma do papel
da mulher na sociedade atual tem também um grande peso na reconstrução das
famílias. As suas carreiras profissionais, a sua crescente autonomia
financeira, a crescente capacidade de criação e inovação, trouxeram-lhe um
reforço imparável na sua autoestima, não deixando nada para provar a ninguém.
Também no que respeita à
religião, somos hoje testemunhas de um salto gigante no paradigma da Igreja
Cristã. Aproximamo-nos, finalmente, em minha modesta opinião, dos ideais de
Cristo, que se resumem no amor universal e incondicional, traduzido nas coisas
mais simples de que já nos esquecemos, por nos deixarmos com alguma frequência absorver
pelos valores sociais atuais.
Parece-me que estamos agora mais
do que nunca, conscientes que o que conta realmente, são as relações humanas.
Deitaram-se a baixo preconceitos morais e religiosos que em nada dignificavam o
valor do ser humano. Cada um de nós, a seu ritmo, vai percebendo a
preciosidade, mas também a fragilidade do dom da vida, e com maior ou menor autodeterminação,
vai-se centrando na busca do que verdadeiramente a vida nos dá em bem-estar e
tranquilidade.
Sofia Almeida