quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

SATISFAÇÃO CONJUGAL




Existem muitas formas de definir “satisfação conjugal”. Segundo Thompson, a satisfação conjugal resulta de uma avaliação pessoal e subjetiva de cada cônjuge em relação ao casamento. Hawkins, descreve o termo como os sentimentos subjetivos de felicidade, satisfação e prazer, experienciados por cada um dos cônjuges quando consideram todos os aspetos atuais do seu casamento. Podemos verificar que existem aspetos comuns nestas duas definições de satisfação conjugal, apesar de trinta anos as separarem, nomeadamente, o carácter subjetivo da avaliação de cada um dos cônjuges em relação ao casamento.

A variável satisfação é concebida como um continuum que vai desde muito satisfeito a muito insatisfeito, sendo a satisfação conjugal, claramente, uma variável de atitude e por isso, é propriedade de cada um dos cônjuges. Por ser uma avaliação pessoal e subjetiva, as zonas da vida conjugal que cada um dos cônjuges considera mais ou menos importantes para a sua satisfação podem ser diferentes e o peso que cada  um deles lhes atribui pode ser igualmente diferente e subjetivo.

Segundo Kurdeck, o termo “satisfação” aparece frequentemente confundido com funcionalidade, com ajustamento ou com qualidade conjugal. Esta ideia demonstra bem a dificuldade que existe em isolar os aspetos que contribuem para a satisfação conjugal, parecendo esta compor-se de um conjunto de fatores que por si só não definem nem traduzem a satisfação conjugal.

Narciso refere que, pelo facto de se tratar de uma avaliação subjetiva do casamento, o conceito de satisfação conjugal assume significados diferentes de pessoa para pessoa, de casal para casal, em função das histórias e modelos pessoais, do momento do ciclo de vida, do sexo, da idade e das áreas específicas da conjugalidade. Na sua reflexão sobre o desenvolvimento do amor e da satisfação conjugal ao longo do tempo de casamento, a autora coloca algumas interrogações sobre o que pode ser considerado “satisfação”, os fatores que a afetam e o efeito que tem em cada um dos parceiros, partindo da suposição de que a satisfação depende sobretudo da perceção da funcionalidade e das valências que se atribuem a uma e a outra: “ 1. poder-se-á considerar a satisfação como um estado interno que depende da avaliação que o indivíduo faz da relação conjugal quanto aos fatores intrínsecos (sentimentos pelo outro, reciprocidade do sentimento, convergência de significações (...) amor na relação) e aos fatores inter-extrínsecos (advêm sobretudo da relação e dizem respeito à funcionalidade da relação quanto à comunicação, conflitos e resolução de conflitos, poder, resolução de problemas, distribuição de papéis, etc.); 2. Dependerá a satisfação/não satisfação do grau de positividade ou negatividade percecionado relativamente aos fatores inter-intrínsecos, aos inter-extrínsecos, da valência atribuída a cada um desses fatores e da existência de mais ou menos barreiras que pressionam o indivíduo a manter a relação; 3. Haverá um efeito contaminador da satisfação/não satisfação no outro. É importante referir que a autora considera a “não satisfação como um estado de ausência mais ou menos parcial e mais ou menos provisória de satisfação.

Trabalhos de investigação efetuados na área da satisfação conjugal (Glenn & McLanahan; Rollins & Galligan; Schram; Spanier & Lewis; Spanier, Lewis & Cole; Waldron & Routh) têm chegado a conclusões idênticas, referindo que “a satisfação conjugal tende a ter uma configuração de curva em U, existindo um declínio da satisfação a seguir ao nascimento do primeiro filho e um aumento subsequente na satisfação quando os filhos começam a sair de casa, ou seja, a satisfação conjugal e familiar parece ser maior no primeiro e últimos estádios do ciclo vital da família e a satisfação seria menor no estádio dos filhos adolescentes, ou seja, quando o stress familiar é maior”. Contudo, como refere Narciso, “estes estudos não consideraram a comparação entre casais com e sem filhos pelo que não é claro se o declínio se deve à presença dos filhos ou aos anos de casamento”.

Um estudo comparativo efetuado por Kurdeck (citado por Narciso), demonstrou que os casais com filhos apresentam um maior declínio na frequência de atividades que envolvam apenas o casal, comunicam menos verbalmente, incidindo o seu conteúdo sobretudo em questões relacionadas com os filhos e verifica-se uma menor intimidade conjugal. Narciso refere ainda que “os filhos também podem contribuir para diminuir a qualidade da relação conjugal se não existir acordo entre o casal quanto a valores e atitudes educativas. Outra fonte potencial de conflito ocasionada pela presença dos filhos é a quantidade de tarefas domésticas acrescentadas e a sua divisão entre os cônjuges”.

Para Eduardo Marques, na análise da satisfação conjugal existe um conjunto de fatores a considerar, sem os quais se torna difícil fazer um balanço da relação e da satisfação que daí lhes advém: “importa considerar áreas que se referem ao funcionamento do casal e áreas que se referem ao amor. Nestas duas áreas há que considerar aspetos ligados às funções familiares, tempos livres, autonomia de cada um dos elementos do casal, relações extrafamiliares, comunicação e conflitos, sentimentos de cada um dos parceiros em relação ao outro e a forma como os expressam, sexualidade, intimidade emocional, continuidade da relação /na perspetiva de um dos elementos do casal e a perceção que tem das expectativas de continuidade por parte do outro e características físicas e psicológicas de cada um dos elementos do casal.

  


Sofia Almeida

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

COMPORTAMENTO ADITIVO NA CULTURA HUMANA


O uso de drogas existiu em todos os tempos e culturas e tem assumido as faces religiosa, de ritualidade social, lúdica e terapêutica. Apesar da sua intensidade ter sido variada, converteu-se muitas vezes em dependência entre a humanidade e as substâncias.

Em cada tempo histórico-cultural têm sido diversas as representações sociais do uso de substâncias psicoativas. Em algumas culturas, nomeadamente nas tribos africanas e sociedades orientais, as substâncias eram consideradas como elementos de prestígio e até mesmo sagradas e costumavam fazer parte dos mecanismos de integração social dos indivíduos e dos seus quotidianos com as mais variadíssimas características e funções.

“O velho xamã prepara uma porção de Amanita Muscaria pensando relacionar-se com os espíritos para poder levar a paz ou a cura a um membro da sua tribo que estava doente”
           
No Ocidente, até aos anos sessenta, não há registo de significativo consumo de drogas. Mas com o aumento da criminalidade, com o terrorismo, com o crime económico, com o tráfico de estupefacientes (altamente lucrativo e com ligações internacionais), com o movimento Hippie (que foi um dos grandes impulsionadores do consumo de droga de forma coletiva e mais declarada alegando a revolta estudantil, a rebeldia, a oposição às normas), e com a guerra do Vietname, o consumo alastrou rapidamente e atingiu com maior ou menor intensidade, as camadas mais jovens e todas as regiões, especialmente as zonas urbanas mais degradadas onde o controlo era menor.


A moda da descoberta do desconhecido despoletada pelos anos do “Peace and love” do Pop, do movimento Hippie (Maio de 68), deu lugar nos anos oitenta e noventa à atitude de consumismo imediato “... pela moda de estar stone, estar em bruto, de cabeça cheia...vulgarizou-se o drogar para não sentir". Registou-se um aumento do consumo de opiáceos, sobretudo na Ásia Ocidental e no Leste Europeu, e, em especial, da heroína fumada, particularmente nos EUA. Também o  consumo de drogas sintéticas psicoativas, como os tranquilizantes, benzodiazepinas e os estimulantes tipo anfetaminas (designadamente o ecstasy), registou uma expansão sem precedentes sobretudo na Europa e nos Estados Unidos da América: na Europa, dá-se uma prevalência de novas drogas destinadas a combater os efeitos do stress e da depressão, crescendo o número dos consumidores com mais de 65 anos; nos Estados Unidos da América o destaque vai para o uso de drogas destinadas a melhorar a performance escolar ou laboral, com o intuito de beneficiar o aspeto físico ou atlético ou, mesmo, o desempenho sexual.

Com o consumo, o homem tem procurado “um outro estado mental” (Bénoit).  Mediante alucinogénios fugiu de si mesmo e viveu como realidade as fantasias da sua imaginação; os sedativos levaram-no a uma calma de paz e de sossego, a um estar metido em si mesmo e imune a todas as solicitudes e ansiedades do mundo exterior; os estimulantes transformaram-no no super-homem que desde criança queria ser (Cadernos de consulta Psicológica).

No final do século, descortinavam-se ainda outras tendências, para além da prevalência do consumo de estimulantes sintéticos (predominantemente recreativo no Ocidente) e da estagnação ou descida do consumo de heroína na Europa. Nomeadamente: a expansão e a diversificação de culturas ilícitas; a descentralização das organizações criminosas e o aumento do número de pequenas redes de tráfico, com a consequente fragmentação dos mercados; o uso múltiplo de drogas (com progressiva preferência, também na Europa, por formas de consumo não injetável.


Na esfera da produção vamos encontrar importantes franjas da população rural dos países produtores, envolvidos no cultivo de matérias-primas de onde são extraídas as drogas, beneficiando de lucros razoáveis, em estreita colaboração com poderosas organizações de indivíduos que visam a refinação e posterior exportação do produto para os países consumidores.

Apesar das apreensões de droga terem aumentado significativamente, assim como as quantidades e variedades disponíveis, pensa-se que estará ainda longe da droga efetivamente transacionada a nível mundial. Isto deve-se em parte à permanente expansão do comércio mundial em geral e ao consequente incremento da circulação de indivíduos e mercado os países. Paralelamente, surgem novos desafios para o controlo do circuito das drogas, como a divulgação da conceção e a comercialização de drogas ilícitas por computador, via Internet.
  

Neste início de século,  a nossa  sociedade, altamente competitiva, dá primazia ao prazer e ao poder material, que se têm vindo a sobrepor-se aos valores culturais, religiosos e outros valores sociais.
 O consumo de drogas foi reativado como moda em vários países industrializados do Ocidente e surgiram as toxicomanias contemporâneas.

 Sofia Almeida