domingo, 12 de janeiro de 2014

MITOS E SEGREDOS FAMILIARES

MITOS FAMILIARES

Segundo Relvas, “Podemos definir um mito familiar como um conjunto de crenças baseados na distorção da realidade histórica e partilhados por todos os membros da família, que ajudam a moldar as regras familiares.

Todos os mitos são crenças que transmitidas de geração em geração, não são contestadas por nenhuma das pessoas interessadas, apesar de incluírem distorções evidentes da realidade, proporcionando a cada membro da família papéis rígidos e difusos.

Ferreira, diz  que “o mito familiar é uma crença bem integrada e compartilhada por todos os membros da família e diz respeito a cada um deles e às suas posições recíprocas na vida familiar”.

Os mitos são frequentes nas famílias e podem assumir várias vertentes: o mito da harmonia familiar, o mito da loucura na família, o mito da marginalidade e o mito da expiação.

Um dos mitos mais vulgares é o do bom entendimento, exemplificando em frases “lá em casa damo-nos todos bem”, “em nossa casa ninguém discute”, “nunca houve problemas antes disto acontecer”. Este tipo de atitude é suficiente para demonstrar uma dificuldade profunda na apreensão do vivido familiar. “Parece existir uma atitude de negação e cobertura, mascarando a percepção de que algo não está bem, e a mesma estrutura familiar é mantida, o que é considerado um sinal ou sintoma da sua disfuncionalidade que a mesma apresenta. Com este mito a família terá tendência a atribuir a responsabilidade da patologia ao exterior, aos amigos de má influencia, aos educadores à sociedade em geral.

Em famílias com um elemento toxicodependente, outros mitos frequentes são o da loucura na família, responsável pela fragilidade de um membro, cujo lugar é ocupado pelo próprio toxicodependente; outro mito é o da marginalidade, em que a família parece ter um certo fascínio pela transgressão, o que implica alguma confusão relativamente aos sentimentos do jovem, pois condenam a sua escolha em nome de uma liberdade, que não aceitam; outro mito é o da expiação, em que o jovem comporta em si a culpabilidade de toda a família, incluindo a sua ( Sternschuss - Angel et al).

SEGREDOS FAMILIARES

Os segredos também são outro dos aspectos presentes nas famílias, funcionando como refúgio da família para manter a sua  homeostase. São frequentes os segredos não ditos, mas que toda a família sabe. As relações são mascaradas por atitudes de cobertura e encobrimento de determinados acontecimentos relevantes

Para Sanches e Peixoto, o segredo familiar constitui-se no sistema familiar sob a forma de um mandato a cumprir, como uma proibição de falar por medo ou angústia frente à inevitável mudança, preservando deste modo, uma realidade distorcida.

Os segredos, tal como os mitos, escondem e transformam frequentemente a realidade dolorosa da família que evita admitir em si própria aquilo que considera como falha fundamental da sua estrutura.

            Sofia Almeida



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

AMOR PLATÓNICO




 Muitos preferem viver amores platónicos do que arriscar e experienciar o amor pleno.

O conceito de amor platónico deve-se a Platão, filósofo grego (350 a.c.) que acreditava na existência de dois mundos: o das ideias, onde tudo era perfeito e eterno e o mundo real, exatamente o oposto. Nesse sentido, viver um amor platónico é viver simultaneamente em dois mundos: um onde estamos sozinhos e outro onde namoramos e procuramos ser felizes.

Segundo Catarina Mexia, Psicóloga Clínica, terapeuta familiar e do casal, no amor impossível, o ser amado é colocado numa posição inatingível e ocorre com maior frequência no período da adolescência e em jovens adultos, mais tímidos e com dificuldades em aproximarem-se de quem amam, derivado de sentimentos como a insegurança e/ou imaturidade.

Muitas vezes o receio de não ser correspondido contribui para amar à distância e impede a sensação de amar e ser amado, cuidar e ser cuidado. Mas é esta troca de experiências emocionais que permite o sentimento de que amar vale a pena.

Outras vezes o receio de sofrer, levam-nas a não realizarem um amor, evitando desapontamentos e tristezas próprias de quem esta enamorado.

Infelizmente, a realidade das relações amorosas anda afastada da maioria das fantasias das pessoas acerca do par e da relação ideal onde reina a compreensão total, a perfeita compatibilidade e paixão eterna.

Uma relação amorosa implica crescimento pessoal e crescimento implica grande parte das vezes sofrimento, mas também felicidade. Todo o processo de namoro é um risco, uma prova de quem somos e da aceitação que os outros têm de nós.

Depois, lutar pelo amor exige sair da nossa zona de conforto. Obriga-nos a cedências, e à aceitação do outro tal como ele é. Seguem-se desentendimentos, dificuldades e frustrações que resultam normalmente na criação implícita de regras, também elas fundamentais na relação.


Mas, em última análise, todas as relações começam por ser platónicas e todos os namorados idealizados. Necessitamos de nos envolvermos para crescermos, e para crescermos temos que arriscar. Se estivermos nesta disposição poderemos finalmente tirar todo o prazer do amor pleno.
Sofia Almeida

AMIZADE



A amizade é uma espécie de amor desinteressado

Tal como o amor, a amizade é uma relação genuína com sentimentos complexos que aparecem sem avisar e não conhece critérios de idade, género ou condição social. É um misto de confiança e sensibilidade. Servem de suporte, companheirismo e partilha. Cumplicidade, estímulo intelectual e serenidade são razões que convidam a estabelecer uma relação de amizade.

Catarina Mexia, Psicóloga Clínica, questiona se tantas sensações, emoções e afetos se manterão sempre ao nível da amizade, resistindo ao amor genuíno e à sexualidade? Em tempos antigos, acreditava-se que não seria possível a amizade entre homens e mulheres, quando os nossos antepassados se dedicavam a tarefas rigidamente distribuídas em conformidade com o género. Estar juntos, só em situação de romance. Felizmente nos nossos tempos, homens e mulheres estão envolvidos num processo de socialização que lhes permite desenvolverem amizades fortes e duradouras.

Mas, se uma relação de amantes pode tornar-se numa relação de amizade, mais frequentemente uma relação de amigos pode desencadear sentimentos de amor e desejo sexual. A questão é sabermos se queremos estragar ou modificar uma relação segura e desinteressada que até ao momento funcionou bem. Quem é que se contenta em ser um bom amigo, quando deseja ardentemente ser amante? Nesses momentos de particular tensão em que o desejo ganha força, evitar a proximidade física poderá ser uma estratégia que será sempre compreendida e respeitada pelo outro.

Enquanto na vida amorosa, os sentimentos explodem como fogo de artifício, numa amizade, tratando-se de uma relação menos exigente, os sentimentos são canalizados com paciência, limites e compreensão numa relação que constitui um pilar afetivo para ambos, numa dualidade enriquecida pelas diferentes mas complementares perspetivas de cada um.

Amor e amizade, ambos preciosos, seguem na mesma direção, e encontrado o amor desinteressado, não o devemos deixar partir.





Sofia Almeida

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

SATISFAÇÃO FAMILIAR





Sendo a família uma unidade universal de organização social, constitui uma importante base da vida social com o fim último de satisfação das necessidades de cada um dos seus elementos e da família como um todo, única nas suas características.

Segundo Alarcão “É habitual pensarmos na família como o lugar onde naturalmente nascemos, crescemos e morremos, ainda que nesse longo percurso, possamos ir tendo mais do que uma família. Este é um espaço privilegiado para elaboração e aprendizagem de dimensões significativas da interação: os contactos corporais, a linguagem, a comunicação, as relações interpessoais. É ainda o espaço de vivências de relações afetivas profundas como a filiação, a fraternidade, o amor, a sexualidade… num trama de emoções e afetos positivos e negativos que, na sua elaboração, vão dando corpo ao sentimento de sermos quem somos e de pertencermos àquela e não a outra qualquer família”.

O desenvolvimento da família implica mudanças na sua dinâmica e características, ao longo do seu ciclo vital. A transição da família de um estádio a outro, visando a satisfação, implica mudanças interacionais. Os padrões de comportamento entre os membros no que concerne à definição de papéis, tomadas de decisão, afeto, comunicação e divisão de tarefas, deverão ser negociadas continuamente de forma a satisfazer as necessidades individuais e familiares, variáveis ao longo do seu ciclo de vida.

Numa linha de pensamento sistémico, o ciclo de vida da família é o contexto mais importante para o desenvolvimento dos seus membros. Os vários estádios por onde passa a família, são períodos de relativa estabilidade estrutural, sendo que em cada um destes estádios, a família é confrontada com diferentes tarefas, referentes ao seu funcionamento interno e às exigências que lhe são feitas do exterior, em momentos diferentes. O maior ou menor sucesso em lidar com estas diferentes tarefas significará uma vivência mais ou menos conseguida, o mesmo seja dizer, uma maior ou menor satisfação familiar.

A família como um todo necessita adaptar-se a cada fase do ciclo vital e estabelecer novos e estáveis padrões de interação, pois, se não o fizer, corre o risco de rigidificação e torna-se disfuncional, não permitindo a satisfação dos seus elementos ao longo do ciclo da vida da família. Assim, antes de mais, importa compreender o estádio de desenvolvimento em que a família se encontra, o que implica identificar as suas dificuldades mas também as suas próprias competências.

A satisfação familiar, conjugal e a qualidade da vida familiar são variáveis determinantes na avaliação do funcionamento familiar, sendo que, o termo satisfação é abrangente e tem diferentes perceções, dependendo dos autores e linhas de pensamento.

De acordo com o Dicionário Enciclopédico Koogan Larousse, “Satisfação significa contentamento; prazer que resulta da decorrente realização do que se deseja. A palavra deriva do latim satisfacer, cujo significado é agradar, contentar; pagar ou saciar.

Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora o termo significa ato ou efeito de satisfazer ou de satisfazer-se; contentamento; alegria; aprazimento;

Levin defende a ideia que todos os comportamentos que o homem desenvolve visam a obtenção da satisfação, sendo estes comportamentos motivadores e sendo a motivação uma tenção persistente que leva a comportamentos para a satisfação de uma ou mais necessidades.

Sabemos hoje que alguns problemas podem constituir obstáculos à satisfação familiar: os estilos de vida em que hoje vivemos, marcados pelo relógio; as novas tecnologias no centro das relações familiares; o desaparecimento gradual das famílias alargadas para dar lugar às famílias nucleares reduzidas a espaços relacionais cada vez mais pequenos, sem o conto da avó na transição de um dia extenuante para uma noite de sono tranquila e revigorante; os contratos de trabalho daquelas mães habituadas a serem domésticas; a opção por fecundar apenas um ou dois filhos, pela consciência dos respetivos encargos financeiros.

Patrício, chama a nossa atenção para “um aumento de famílias monoparentais, substitutas, urbanas, socialmente excluídas e famílias ausentes” com “precariedade do relacionamento, dificuldades de comunicação, enfraquecimento das relações de consanguinidade, o declínio na importância social da família, o desaparecimento do sentido da vizinhança e a erosão das bases do bem-estar social”.

Eduardo Sá, por outro lado, enfatiza algumas consequências positivas de todas estas transformações e mudanças de que as famílias têm ido alvo: “…mais e melhor vida têm transformado as famílias alargadas em famílias nucleares que, em consequência da contracepção e trabalho feminino… têm trazido o homem de regresso a casa, à maternidade e à família. A igualdade de oportunidades tem-nos ensinado a conviver sem fadas do lar e revela incondicionalmente a função do casal, muito além do vínculo matrimonial, no sentido da exigência de uma maturidade relacional que se traduz, no plano da interioridade, numa união de facto…melhores condições sociais e económicas, menos filhos e melhores pais, trarão mais probabilidades de levar as pessoas à maternidade, disso dependendo a melhor qualidade de vida familiar e a sua equivalente psicológica, que se traduzirá na persistência do desejo de ser feliz.”

Numa sociedade em que a violência e o consumo competem, mas o ritmo de trabalho é adequado, a alimentação é correta, a sexualidade está equilibrada, se a educação existe, se o tempo de ócio está planeado, então a nossa capacidade de satisfação familiar será maior. Podem as crianças, os adultos e os idosos encontrar repouso nas suas famílias, pois esse é o melhor lugar para se viver.



Sofia Almeida