quinta-feira, 6 de setembro de 2018

FAMÍLIAS DE TOXICODEPENDENTES: PERFIL OU REDUNDÂNCIAS?




Poder-se-á afirmar que as famílias com elemento(s) toxicodependente(s) apresentam características, dinâmicas e padrões de funcionamento diferentes de outras famílias?

Bergeret deu uma primeira resposta em 1990 referindo que “as investigações epidemiológicas levadas a cabo sobre as famílias dos toxicómanos, assim como os estudos conduzidos a partir das práticas psicoterapêuticas, mostram que não existe nenhum modelo específico de adolescente nem nenhum modelo de situação relacional familiar que possa ser definido como modelo próprio da toxicomania”

Efetivamente, toda a sistematização realizada neste domínio não nos autoriza a falar de um perfil do toxicodependente ou da sua família. Não podemos afirmar que existe uma personalidade ou uma estrutura psíquica específica e tipificada que leve indubitavelmente a comportamentos aditivos, pois qualquer estrutura psicológica pode dar origem a vários tipos de dependência.

Para Madalena Alarcão, “as regularidades encontradas não nos podem fazer esquecer que a capacidade auto-organizava do sistema familiar pode configurar diversamente, em cada sistema e em tempos diferentes do mesmo sistema, o feedback proveniente do seu interior ou do exterior é resultante das suas próprias características, das vulnerabilidades e dos fatores de risco a que pode estar sujeito”.

Numa posição mais reducionista, Duncan, Stanton et al, fazem uma revisão da literatura sobre o tema e concluem que a maior parte dos trabalhos sobre toxicodependência masculina referem a existência de famílias com características idênticas, bem como Bravo et al.

Apesar de partilharmos a ideia de que não há interações específicas nestas famílias, consideramos que é possível identificar um conjunto de redundâncias que em função das suas articulações e singularidades do sistema em análise, nos podem auxiliar na tentativa de compreensão, definindo pontos de intervenção terapêutica.
Sofia Almeida
06/09/2018



A FAMÍLIA NA COMPREENSÃO DA TOXICODEPENDÊNCIA




No início do estudo da toxicodependência e das preocupações com o tratamento dos toxicodependentes, a tónica era essencialmente posta no indivíduo, na sua dimensão intrapsíquica, sendo que as perspetivas biológicas e psicológicas ocupavam grande parte da literatura sobre o assunto. Contudo, temos vindo a assistir nas últimas décadas a análises do papel determinante do sistema familiar no desencadear e na manutenção dos comportamentos aditivos, estudando as relações que o indivíduo dependente mantém com as figuras significativas (particularmente com os pais e com os pares) ”.

Com efeito, em alguns trabalhos de revisão da literatura realizados nas últimas décadas, nomeadamente Harbin e Maziar, afirma-se mesmo que são os fatores familiares os que desempenham o papel primordial na génese e desenvolvimento da toxicodependência. Ganger e Shugart consideram a toxicodependência como uma doença familiogénica que não pode ser estudada fora do contexto da unidade familiar. Também para Stanton as variáveis familiares desempenham um papel predominante na sintomatologia do toxicodependente.

Para a compreensão da importância da família na compreensão teórica e terapêutica da toxicodependência, muito contribuiu a conceptualização do conceito “sistema” baseada nas Teorias Cibernéticas e na Teoria Geral dos Sistemas que se estabeleceu a partir dos anos sessenta do século passado e que possibilitou observar e entender os fenómenos familiares e a toxicodependência sob uma nova perspetiva: uma compreensão sistémica das famílias com Paciente Identificado toxicodependente.

Tendo por base o paradigma sistémico desenvolveu-se e aperfeiçoou-se um conjunto de práticas terapêuticas designadas de Terapias Familiares, que se têm revelado de grande utilidade no âmbito da intervenção em comportamentos aditivos e dependências, alargando o leque de recursos terapêuticos e o campo de conhecimentos teóricos.
Sofia Almeida
06/09/2018