O pai, presente ou
ausente, marca definitivamente o percurso de vida dos seus filhos
Nos primeiros meses de vida, o bebé vivencia uma primeira fase de grande fusão com a sua mãe. Mas,
gradualmente, o bebé vai percebendo que a sua mãe não está sempre presente e
disponível quando dela necessita, sentindo com esta separação que pode ser
amado ou rejeitado.
Pela sua presença, o pai, com
maior ou menor consciência, próximo ou distante, triangula esta relação,
permitindo ao bebé entender que não é o único elemento da vida da sua mãe e
terá que a partilhar consigo.
O pai facilita-lhe uma nova
aprendizagem de autonomia e identidade própria. Incita a criança a explorar o mundo exterior e enfrentar os primeiros desafios. Ensina-a
a lidar com as frustrações, de forma a sair da ilusão da sua omnipotência, potenciando
gradualmente a sua vida afetiva.
Desde o primeiro instante, a
interação do pai para com um filho é diferente da interação para com uma filha,
transmitindo-se uma identidade sexuada até ainda antes do parto. Por outro
lado, a criança vai observando diferenças entre o pai e a mãe, que têm
comportamentos e valores distintos. As suas interações vão, portanto, sendo
modeladas por estas diferenças a ponto dos meninos se querem identificar com os
progenitores masculinos e as meninas com as progenitoras femininas.
À medida que cresce, a criança
sente necessidade de garantir o afeto e o reconhecimento do pai e da mãe e
depressa percebe que para tal terá que conciliar os seus desejos e
comportamentos às expectativas de ambos, reforçando a sua autoestima e
autoconfiança.
Idealmente, ser pai, é sinónimo de
proteção, educação, cumplicidade, afetividade. Mas quando o pai está pouco
presente na vida da criança, dificulta não só essa aprovação, como dificulta a
identificação da criança, que, muitas vezes, procura eleger outro adulto que
funcione como modelo parental identificatório.
Mas a proximidade e a distância afetiva nada têm obrigatoriamente a ver com a proximidade e a distância físicas. Não basta que o pai esteja fisicamente presente, se não existe na cabeça e no coração do filho. Na verdade, mesmo distante geograficamente, o pai deverá ser uma referência de amor e de apoio incondicionais.
Noutros casos, o pai,
mesmo presente, pode ser quem menos os compreende e aceita como são. Em casos mais graves de negligência ou maus tratos, mais tarde, em adultos, sobrevivem a momentos irreversíveis de mágoas intransponíveis.
Mas, nem todas as crianças afetam
o seu equilíbrio psicológico pela ausência do pai. Cada criança tem a sua forma
própria de lidar com esta figura de acordo com as suas próprias especificidades
e capacidade de resiliência. Mesmo na sua ausência, é preciso que a criança
construa um lugar simbólico da sua existência de forma a interiorizar e
valorizar a existência do pai, contribuindo para a sua autoimagem, sensação de
segurança, e para o estabelecimento de relações afetivas futuras.
As crianças precisam de
um pai que as aceite como são, interaja e incite à exploração das suas
capacidades
Sofia Almeida