sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O JOGO PATOLÓGICO


 
De acordo com a Organização mundial de Saúde, o jogo patológico é reconhecido como uma perturbação dos hábitos e dos impulsos, segundo a classificação Internacional de Doenças (CID-10).

 



O Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências – SICAD, de entre as suas atribuições, tem vindo a procurar melhorar os conhecimentos relativamente a este fenómeno da dependência do jogo em Portugal em matéria de comportamentos aditivos sem substâncias. Existe ainda falta de informação e de estudos aprofundados sobre este fenómeno, mas estamos conscientes da sua crescente importância em outros países.

Segundo um estudo de 2013 de Buhringer, Braun, Kraplin & Sleczka, a prevalência de jogo patológico a nível europeu situar-se-á entre 0,3% a 1% e os problemas associados ao jogo entre 0,5% e 3% (, 2013).

Em Portugal, a indústria dos videojogos ainda mal existia há cerca de trinta anos, mas nos últimos anos temos assistido a uma preocupação crescente com o perigo da adição ao jogo, principalmente através da internet. A geração atual dos pais trintões já nascidos com os computadores, para benefício das relações intrafamiliares, passa cada vez mais tempo com os filhos nas novas tecnologias, levantando-se questões sobre os perigos do uso indevido da internet e a dependência do jogo.

Estudos recentes no nosso país indicam que a situação de dependência nos jogos a dinheiro é mais significativa nos adultos com mais de 65 anos e o Euromilhões é o mais jogado de entre uma panóplia de jogos autorizados. Os jogadores patológicos portugueses são maioritariamente do sexo masculino, e apresentam características de impulsividade, falta de autoestima, fraca tolerância à frustração, distorções cognitivas e co-morbilidades como a ansiedade e depressão.

Normalmente os jogadores patológicos são sonhadores, desenvolvem sentimentos ambivalentes de ambição, mas também de culpabilização. Revelam maior consciência do problema ao contrário dos dependentes de substâncias psicoativas, mas só aceitam ajuda em última instância, quando já não conseguem resolver os problemas decorrentes desta dependência.

Um estudo realizado em Portugal por Henrique Lopes no ano de 2009, faz referência ao fenómeno de rejuvenescimento da classe dos jogadores, que se ficará a dever à crescente acessibilidade aos jogos a dinheiro na internet, advertindo apar os dados preocupantes relativo ao número de jovens que mostram sinais de dependência: 1.564 têm menos de 25 anos e 8.741 têm entre 26 e 40 anos. Segundo este autor, em Portugal, havia naquele ano, pelo menos 16.124 viciados em jogos a dinheiro e mais de 400 mil em risco.
 
O tratamento das dependências sem substância não se afigura mais fácil de tratar do que as designadas toxicodependências. Sabemos que é possível jogar num ambiente isolado e anónimo, sem controlo social e insuficiente controlo parental, pelo que, a par da investigação que está sendo levada a cabo pelas entidades competentes nesta matéria, urge sensibilizar os pais e os filhos, desenvolvendo intervenções adequadas de carater preventivo.

 


 

Sofia Almeida

AS NOVAS TECNOLOGIAS NO CENTRO DA RELAÇÃO FAMILIAR


 

O fenómeno das novas tecnologias veio redefinir o tempo passado em família, e é consensual para grande parte dos especialistas, que tem efeitos psicológicos tanto nos pais como nas crianças. Contudo, se para alguns autores trata-se de efeitos positivos, para outros especialistas, não será tanto assim. Se não vejamos…



Segundo uma sondagem recente nos Estados Unidos da América levada a cabo pela empresa Cisco, 71% dos pais consideraram que dedicam mais tempo aos seus filhos graças às novas tecnologias.

Num outro estudo da responsabilidade da Laborum aplicado em junho de 2012 a trezentos pais no Chile, concluiu-se que 61% dos pais também conseguiam passar mais tempo com os filhos graças às novas tecnologias e 41% dos pais consideravam que a sua relação com os filhos ficava reforçada, sendo que, 50% dos pais se sentiam mais tranquilos também por saberem quais os sítios na internet que os filhos visitaram ou que aplicações haviam descarregado.
 

Segundo especialistas da Universidade de Brigham Young, os videojogos são particularmente benéficos para as raparigas. Num estudo que realizaram a 278 meninos e meninas dos 11 aos 16 anos, demonstrou que as raparigas que jogavam com o pai tendiam a comportar-se melhor, a estarem mais ligadas à família, a dar sinais de uma maior robustez psicológica e a estarem menos sujeitas à ansiedade e depressão. Segundo ainda o mesmo estudo, são essencialmente os pais a jogar com as filhas facilitando uma comunicação que por vezes é difícil no quotidiano.


Arminta Jacobson, Diretora do Centro Educativo para Pais da Universidade do Norte do Texas refere: ”Não interessa o tipo, todo o lazer entre pais e filhos favorece esta interação”.

 
Esta opinião é corroborada por um estudo da Universidade de Michigan junto de 290 pais e filhos que habitualmente jogam juntos e que revela que esta proximidade tem um impacto importante nas crianças, ajudando-as a desenvolverem competências cognitivas e linguísticas, e melhorando a relação pai-filho. Desenvolve-se um sentimento de competição saudável e mais equilibrada no perfil dos jogadores, quer no peso, quer no tamanho. Pode mesmo acontecer que o filho ganhe ao pai, já que num mundo virtual tudo pode acontecer.
 

Em Inglaterra, num estudo levado a cabo pela Universidade Goldsmith, 80% dos pais que jogam com os filhos, consideram este, um momento privilegiado e 32% fazem-no diariamente.
 


 
Em Portugal, as opiniões sobre esta matéria também dividem especialistas. A temática ganhou maior visibilidade no início do verão passado num programa televisivo diário, de um canal generalista, quando o Dr. Quintino Aires veio a público afirmar que “os videojogos são veneno…não ajudam à criatividade… não desenvolvem as capacidades relacionais… e torna os seus utilizadores como seres antissociais, com dificuldades de comunicação e nas relações interpessoais”. Este especialista chega mesmo a acusar os pais que autorizam os videojogos aos filhos, da sua falta de paciência para tomarem conta das crianças.


Em contraponto, Ricardo Passos, num artigo de opinião publicado no ene3.com em 19/07/2013 veio denunciar estas afirmações e defender a ideia do estímulo da criatividade dos jogadores por alguns videojogos, encarando as características destes como fatores de desenvolvimento numa relação. Coloca ainda a questão dos pais que jogam videojogos ou utilizam a internet porque é a única forma de estarem em contacto regular com os filhos, por ausência prolongada de casa. Refere ainda que quem produz videojogos ou brinquedos são adultos, sempre apoiados por uma vasta equipa que os orienta na sua elaboração, tendo em conta, entre outras coisas a faixa etária a quem se destinam. Acrescenta ainda que a Nintendo investe mais do dobro em pesquisa que o Ministério da Educação Americano
 

Mas não são apenas os videojogos que aumentam esses tempos passados em frente ao ecrã, a Internet também é responsável. A curiosidade das crianças leva-as a interagir com as novas tecnologias, colocando-a no centro da relação familiar e, por si mesmas, ou com a ajuda dos pais, rapidamente se familiarizam com os novos aparelhos.


O estudo Gerações Online 2009 realizado pelo Centro de Estudos Pew, diz-nos que os pais e filhos têm comportamentos e motivações muito semelhantes na Internet, essencialmente o desejo de diversão, de partilha de experiências ou transmissão de conhecimentos através de material mais didático.
 



Não obstante, os estudos e opiniões atrás referidas, é crucial que reflitamos sobre os perigos decorrentes da falta de controlo parental na utilização das novas tecnologias pelas crianças. Na verdade, qualquer progenitor já se apercebeu da dificuldade em encontrar mecanismos de controlo nesta utilização, não só em termos do tempo disponibilizado, mas também dos conteúdos visualizados. Quantas vezes, no seguimento da elaboração de um trabalho de casa escolar fundamentado em pesquisa na internet, acaba com uma visualização de um qualquer vídeo caseiro ou um jogo acabadinho de estrear? Já para não falarmos das janelas que surgem espontaneamente e que curiosamente insistem em não fechar.


Os pais mais informados e conscientes, sabem quais os procedimentos a adotar para limitar o acesso a determinados sítios, mas sou de opinião que em Portugal existe ainda falta de informação e sensibilização destinada aos pais para a prevenção de comportamentos de risco associados ao jogo patológico.

 
Sofia Almeida