sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

ADOLESCÊNCIA E COMPORTAMENTOS ADITIVOS




O período da adolescência dos filhos é uma etapa do ciclo vital da família que poderá constituir um fator de desequilíbrio da homeostase familiar, e, consequentemente, um período propício ao aparecimento de patologias de comportamento, nomeadamente de comportamentos aditivos, pois é neste período que, na maioria, ocorrem os primeiros consumos de substâncias psicoativas.

São muitas as mudanças que ocorrem neste período: as transformações corporais; o nascimento de uma identidade sexual; o processo de autonomização/separação (do filho em relação aos pais e destes em relação aos filhos); a identificação aos grupos de pares; a necessidade de maiores espaços individuais; a imaturidade e ambivalências (de alguém que já quer ser adulto mas que ainda precisa do “colinho” dos pais); a imposição de ideias próprias, muitas vezes, ainda mal formadas.

O acesso à idade adulta não se consegue sem alguns conflitos. Este período implica quase sempre sofrimento, insegurança e angústia tanto para o adolescente como para os pais, que maior parte das vezes não sabe qual a melhor forma de lidar com o filho em transformação, optando por defender-se ao infantilizá-lo, impedindo as mudanças necessárias ao crescimento e individualização.

Os indicadores do desequilíbrio emocional manifestam-se sobretudo na infância e na adolescência, idades que nas últimas décadas têm sido fortemente valorizadas e investidas afetivamente pelas famílias. Tem-se posto em evidência níveis elevados de ansiedade, e a existência de perturbações no desenvolvimento psicoafectivo das crianças e dos adolescentes. Claude Olivenstein defende a ideia da existência de um conjunto de indicadores que dão conta de uma fragilidade e de uma predisposição na infância e adolescência na adoção de comportamentos aditivos.

Em sujeitos mais velhos, em que o consumo de substâncias psicoativas se inicia já em idade adulta, o comportamento aditivo parece ter uma função de obscurecimento da crise vivida e de anestesia da dor psíquica dela decorrente. “Numa história aparentemente sem dificuldades ou vulnerabilidades significativas, o sujeito parece ter conseguido equilibrar o seu percurso individual, familiar e social até que um dia bloqueia a sua capacidade auto-organizativa nos contextos em que se insere” (Alarcão).


Sofia Almeida