O período da adolescência dos filhos é uma etapa do ciclo vital da
família que poderá constituir um fator de desequilíbrio da homeostase familiar,
e, consequentemente, um período propício ao aparecimento de patologias de
comportamento, nomeadamente de comportamentos aditivos, pois é neste período
que, na maioria, ocorrem os primeiros consumos de substâncias psicoativas.
São muitas as mudanças que ocorrem neste período: as transformações
corporais; o nascimento de uma identidade sexual; o processo de autonomização/separação
(do filho em relação aos pais e destes em relação aos filhos); a identificação
aos grupos de pares; a necessidade de maiores espaços individuais; a imaturidade
e ambivalências (de alguém que já quer ser adulto mas que ainda precisa do
“colinho” dos pais); a imposição de ideias próprias, muitas vezes, ainda mal
formadas.
O acesso à idade adulta não se consegue sem alguns conflitos. Este
período implica quase sempre sofrimento, insegurança e angústia tanto para o
adolescente como para os pais, que maior parte das vezes não sabe qual a melhor
forma de lidar com o filho em transformação, optando por defender-se ao
infantilizá-lo, impedindo as mudanças necessárias ao crescimento e
individualização.
Os indicadores do desequilíbrio emocional manifestam-se sobretudo na
infância e na adolescência, idades que nas últimas décadas têm sido fortemente
valorizadas e investidas afetivamente pelas famílias. Tem-se posto em evidência
níveis elevados de ansiedade, e a existência de perturbações no desenvolvimento
psicoafectivo das crianças e dos adolescentes. Claude Olivenstein defende a
ideia da existência de um conjunto de indicadores que dão conta de uma fragilidade
e de uma predisposição na infância e adolescência na adoção de comportamentos
aditivos.
Em sujeitos mais velhos, em que o consumo de substâncias psicoativas se
inicia já em idade adulta, o comportamento aditivo parece ter uma função de
obscurecimento da crise vivida e de anestesia da dor psíquica dela decorrente. “Numa
história aparentemente sem dificuldades ou vulnerabilidades significativas, o
sujeito parece ter conseguido equilibrar o seu percurso individual, familiar e
social até que um dia bloqueia a sua capacidade auto-organizativa nos contextos
em que se insere” (Alarcão).
Sofia Almeida