“Cada filho é um indivíduo único, que deve ser respeitado nas suas características e necessidades, independentemente do lugar que ocupa na fratria da família.”
É na família que descobrimos a nossa identidade individual e familiar. Cada família tem um padrão de funcionamento, com uma dinâmica muito própria, com regras de comportamento próprias que definem as interações dinâmicas entre os seus elementos e entre estes e o exterior. Na família, aprendemos a descobrir quem somos, o que queremos e a conquistar o nosso lugar.
Os laços de fraternidade são normalmente muito mais fortes do que os laços de amizade, pelo que, com frequência, verifica-se mais depressa o perdão e reconciliação após uma zanga entre irmãos do que entre amigos. O irmão é visto como aquele com quem se tem um laço de consanguinidade (irmãos germanos: filhos do mesmo pai e mãe; irmãos uterinos: filhos da mesma mãe; irmãos sanguíneos: filhos dos mesmo pai), com quem se estabelecem laços fortes de afetividade e se partilham as histórias de vida, na base da confiança, intimidade e proteção.
A ideia do tratamento igualitário e portanto, que os irmãos devem ser tratados de forma idêntica, bem como as estratégias educativas diferenciadas são ideias relativamente recentes, legitimadas quer legalmente, socialmente e familiarmente.
Contudo, o tratamento igualitário nem sempre é uma realidade. Ao nível das representações, a ordem do nascimento (primazia do filho mais velho) e o sexo (primazia do homem) ainda definem os direitos e deveres dentro de muitas fratrias.
A nossa herança judaico-cristã, leva-nos à ideia de que o filho mais velho tende a ocupar um lugar de responsabilidade acrescida, sendo-lhes frequentemente exigido um comportamento exemplar em relação aos irmãos mais novos. Noutro oposto distinto, estão os irmãos mais novos, que muitas vezes são tratados com uma displicência especial, desresponsabilizando-os frequentemente por comportamentos menos adequados e tratando-os como os bebés da família. Na verdade, se por um lado os irmãos mais velhos desbravam caminho na dinâmica familiar, os mais novos também se podem tornar o alvo de ciúmes pelos irmãos mais velhos. Já os filhos do meio poderão tender a desenvolver maior sabedoria e equilíbrio nas suas relações de fratria, dadas as circunstâncias.
Temos vindo a assistir a uma cada vez maior indiferenciação de género ou igualização no tratamento dos filhos, mas em domínios de estratégias de tratamento indiferenciado: expectativas de vida, distribuição de tarefas domésticas, vivência dos afetos, as raparigas são muitas vezes colocadas numa posição lesada face aos irmãos.
Normalmente existe uma diferenciação clara entre as fratrias mistas, masculinas e femininas em termos de representações sociais. Nas fratrias masculinas e fratrias femininas salienta-se o sentimento de companheirismo, partilha de gostos, interesses e atividades. Já nas fratrias mistas introduz-se a representação social dada à proteção dada às irmãs independentemente da sua idade e do lugar que ocupam nas fratrias, e por outro lado a provável diferenciação de género nas estratégias educativas dos pais em função dos sexos. Frequentemente se verifica que a perceção de que as fratrias do mesmo sexo tendem a desenvolver sentimentos de maior proximidade, partilha e solidariedade do que as fratrias mistas.
Não obstante, por muito que estejamos conscientes do tratamento igualitário, não podemos esquecer que existem vários fatores não controláveis pelos pais que acabarão sempre por interferir nos diferenciados percursos de vida dos filhos e nas formas diferenciadas de tratamento que os pais necessariamente darão aos filhos, como é o caso do período de nascimento de cada filho que ocorre em diferentes contextos de vida, quer materiais, quer emocionais.
Vale a velha máxima: “Todos diferentes, todos iguais”.
Numa família saudável, cada filho ocupa o seu lugar na fratria; ou seja, todos têm particularidades, necessidades, capacidades específicas, o que o torna único como indivíduo e como agente de relações interpessoais.
Numa família saudável ,recorre-se sistematicamente ao diálogo, à atenção constante e amor firme e utiliza-se o exemplo como forma de ensino/aprendizagem entre pais e filhos.
É imprescindível ouvir os filhos, aceitar as suas diferenças e ir ao seu encontro de cada vez que sentimos que um filho procura isolar-se.
Sofia Almeida